O ANAFILÁTICO DESESPERO DE NAURO
Poesia nunca é demais, e sendo de um ídolo seu então!...Haja inspiração correndo solta na minha cabeça ao terminar de ler qualquer poema de Nauro Machado. Para tornar essa quinta-feira quente, resolvi então publicar aqui alguns de seus poemas, para ser mais preciso cinco poemas.
Poemas lidos e relidos no decorrer da minha vida de leitor e admirador da obra desse poeta maranhense.Sempre que tenho dúvidas, meu ?manual prático para certezas da vida? é algum livro de Nauro . Ele dita sempre o tom certo para quem procura tirar um pouco os pés do chão.
RADIAÇÃO
Eu vi a glória nos lábios da eternidade.
Eu vi o universo inteiro na angústia do fogo.
Pelo canto noturno, em galés da alvorada,
Eu vi os farrapos trêmulos da última estrela.
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TRAGÉDIA
A grande aventura do poeta
Consiste em seu tão pequeno rio
A voltar para a imensa fonte dele.
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RELACIONAMENTO
O eterno não cabe
Naquilo que o come,
Se de mim não sabe
O vizinho homem.
Entanto me bebem
Os olhos alheios,
Até que se cevem
Os cegos anseios.
Até que anoiteça
A mente pensada,
E por fim me cresça
O início do nada.
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LIMPEZA DE TERRENO
Se arrancam pedra e peçonha
Se erva daninha se arranca
Da realidade que sonha
Como perna de quem manca,
Arranquem, erva daninha
Neste peçonhento mato,
A realidade que é minha
Pela força do abstrato.
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AFOGADOS ,296
I
É um sonho de sol:
É ser sem semente,
O sonho que só
Me inunda esta mente.
É ser como o dia:
Sem raízes, feito
Do que precedia:
Ele, em si. Desfeito,
É um ser que amanhece
Para que se ponha.
E a mente, qual prece,
mente!, pois me sonha.