tag:blogger.com,1999:blog-163826562024-03-05T02:04:28.225-02:00Caprichos e RelaxosJosé Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comBlogger211125tag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-38118038635660182572021-11-09T02:10:00.006-02:002021-11-09T02:14:45.373-02:00SEU ISAIAS E O FIM DO MUNDO<p> </p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;">Baseado em uma história real.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p><br /></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p><br /></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p><br /></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0TRzR7uGG8dEI9IsE3Ns95zFFFYA8NlIkLCvX_BUGFiCL0C514e-ku3CA9XlyQw5MGbxUSnbwmlDAOKNnjJwN-TP-xcZJ8z5P3gpMQ8q1s3_rxx7wD-Lk5SpTRbuTjQBZ99et/s1024/fim+do+mundo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="656" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0TRzR7uGG8dEI9IsE3Ns95zFFFYA8NlIkLCvX_BUGFiCL0C514e-ku3CA9XlyQw5MGbxUSnbwmlDAOKNnjJwN-TP-xcZJ8z5P3gpMQ8q1s3_rxx7wD-Lk5SpTRbuTjQBZ99et/w410-h640/fim+do+mundo.jpg" width="410" /></a></div><br /> <p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Capítulo I
– A rua dos castrados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Não
há quem se lembre, ou que pelo menos tenham dito: em qualquer esquina, bar ou
banco de praça. A cidade é muda e sem memória. Um baú de relicários
esquecidos...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">O
fato é que na década de cinquenta, essa cidade (que aqui não terá nome) tinha
uma rua de homens castrados. Envoltos em luto e vergonha. Eram homens que se
aventuraram em seduzir e prostituir meninas, adolescentes; onde quase sempre
acabavam grávidas e se viam vingadas por um grupo denominado “justiceiros de
Deus”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Os
Justiceiros de Deus eram todos devotos da Igreja católica, mais precisamente
frequentadores da Catedral Metropolitana da cidade, e assíduos trabalhadores da
pastoral. Dizimistas, organizadores de festas, quermesses e toda ou qualquer
organização que envolvesse a Igreja na cidade. Eram em sete, todos com mais de
quarenta anos e casados. Uns pais, outros até avós, e agiam com total
ratificação de suas esposas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Dizem,
e não há qualquer comprovação desse relato, que foi a filha do fundador do
grupo que engravidara de um dos seus peões da fazenda que motivou a criação do
grupo. Outros já falam que foi quando a filha mais nova, de outro membro do falso
“prelado” interiorano, morreu de complicações do parto na capital. O fato é que
o maior entusiasta dos atos de violência, contra homens que sequer eram
julgados pela justiça, era seu Isaías.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Seus
Isaías era mecânico autodidata, um dos melhores da região. De carros de
passeios a conserto de ônibus, criou seus seis filhos com as mãos sujas de
graxas e macacão cinza. Seus quatro filhos homens começaram cedo a ajudá-lo e assim,
a aprender o ofício que levariam a ferro e a fogo para o sustento de suas
futuras famílias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Assíduo
frequentador das missas matinais e devoto parceiro, quase um diácono, do padre
João. Seus Isaías foi um dos principais entusiastas da formação do grupo, e se
dizia ungido para a missão que Deus reservara para ele: ser o juiz e fazer
valer a sentença a todos os desonradores de adolescentes da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Era
dele a primeira casa doada para o desafortunado pecador castrado. Dele também a
escolha do Santo que abençoaria tais atos: São Bento de Núrsia, o monge
italiano. A espetacularização do ato da castração, ganhou tanto interesse da
população, que há quem fale que o último castrado, teve mais público que a Paixão
de Cristo encenada nas ruas do centro da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Seus
Isaías era o principal divulgador dos atos de castração: usava sua surrada
camionete para divulgar pelas ruas do centro e bairros distantes, os atos. Pode
até não haver lembrança de nenhuma geração mais nova, ou os mais velhos se
envergonham de falar que tais atos aconteciam, bem ali na zona rural de uma
grande cidade do Maranhão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Até
o final de 1963, quando foi o último caso de castração, foram vinte e seis
homens se dividindo em sete casas de alvenaria simples, ajudados com
contribuições das pastorais da cidade, como também, por comerciantes e
familiares. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Eram
enclausurados e envergonhados pelas suas condições terem sido expostas a quase
toda a cidade. Eram homens mortos para a sociedade, quase monges devotos da
vergonha. Padre João foi voto vencido, quando tentou argumentar para acabar essa
barbárie medieval da castração pública. A liga das mulheres e todas as carolas
e misseiras, “avançaram” sobre o pároco, o fazendo apenas usar um ou outro
sermão para expor sua indignação. Seu Isaías em resposta ao Padre, fez um
discurso longo e veemente no dia vinte e um de março no do ano de 1963, agradecendo
a São Bento e a todos os justiceiros de Deus por terem, na visão dele, acabado
com os crimes sexuais na cidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Não
há quem lembre, que aquela rua que ficava no final da zona rural, que a noite
era contemplada com os sons do riacho e quedas d’água, como os ruídos de um roncador
acompanhando da sifonia de grilos, cigarras e sapos, era também a rua que se
ouvia choros e gritos de homens envergonhados e castrados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Capítulo II
– A Reforma da Igreja e o Lutero Tupiniquim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Foram
dois longos anos, do começo da década de sessenta do século passado, que fizeram
seus Isaías ficar mais famoso. De juiz executor de castrados a praticamente um
profeta do cristianismo puro, um mecânico anunciador do apocalipse. Mas não foi
da noite para o dia; seus embates com o Padre João e até com o Bispo do Estado,
começaram após a diluição do seu falso prelado da ordem de São Bento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Seus
Isaías contra-atacou da forma mais veemente possível: questionou quase todos os
atos e ações do Padre João, expôs ideias mais radicais aos dogmas da Igreja
Católica, propôs conteúdos que iam ao encontro do </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_Vaticano_II"><span color="windowtext" style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%; text-decoration: none; text-underline: none;">Concílio Vaticano II</span></a><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">, que lhe
concedeu uma fama de reformista tupiniquim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">A
paciência do Padre João ia de encontro com a pouca diplomacia de seus Isaías, que
mais parecia um Papa ao impor todas as suas definições ao reverendo da
paróquia. Ele transitou e incomodou diversas áreas da pastoral, propondo
inclusive mudanças no recolhimento do dízimo, implantação de votos de pobrezas
franciscanos, estudos da bíblia com interpretações teatrais, cursos extensos
para batismos e casamentos e a abolição definitiva dos leilões de frangos,
porcos e carne de boi nas festas santas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não se sabe exatamente quando deixou de
frequentar a igreja, as reuniões das pastorais e o terço de Nossa Senhora da
Conceição, mas foi no ano de 1964 que ele mesmo declarou não mais ser Católico Apostólico
Romano. Mesmo com sua esposa, dona Maria do Bom Parto e seus seis filhos,
jamais terem abandonado a paróquia e suas atividades e trabalhos semanais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Foi
no Natal de 1964 que seu Isaías começou a pregar o evangelho e a fazer seus
sermões, quase sempre com um olhar veemente e crítico contra a Igreja Católica,
tendo claro, o Padre João como foco de seus discursos efusivos, virulentos e
enfáticos. Dessa época também, temos relatos dos começos de suas visões sobre o
fim do mundo. Misturando as descrições do apocalipse bíblico com visões do seu
dia a dia da sua cidade, o Lutero Tupiniquim, fez crescer sua fama e presença
de devotos no fundo do quintal de sua oficina.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Conforme
sua fama de Pastor fora crescendo, também vieram os adjetivos depreciativos:
doido, maluco, beato do mal, pastor da desgraça e tantos outros adjetivos que
seu Isaías ganhara, que envergonhavam todos os seus familiares e amigos mais
próximos. Há quem diga que seu rancor e ódio pelo fim do seu falso prelado de
São Bento, fora transformado em um objetivo para atacar a Igreja que tanto o
acolheu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Capítulo
III – A Arrecadação forçada e o começo do fim do mundo.<u><o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Sempre
as vinte e duas horas de quarta-feira, uma rua da zona rural de uma cidade
importante do interior do Maranhão, se agitava com o fim do culto de Seu
Isaías. Seu terreno, que antes era usado para colocar os diversos carros e
motos de sua reconhecida oficina, agora era um improvisado templo com cadeiras
de ferro emprestadas pelo seu Zuza, conhecido dono do boteco do bairro, que com
fama de muquirana, justificou que era um investimento para assegurar seu lugar
no Céu. Seu Zuza, com sua vasta barriga e sua fiel camisa colocada no seu ombro
esquerdo, afirmava com toda veemência e fé que seu Isaías era um Profeta tardio
enviado por Deus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Além
das cadeiras, a mesa, as toalhas, as águas, assim como, toda indumentária usada
pelo Profeta da Zona Rural, eram sempre doadas, recolhidas e lavadas pelas
irmãs Brito. Quatro carolas que abandonaram padre João, para seguir o Pastor
Isaías.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">A
aglomeração se desfazia ao longo de pouco mais de uma hora e meia, e os quase
trezentos devotos era unanimes ao pedirem que seu Isaías fizesse também os
cultos aos domingos. O Pastor sempre agradecia e logo afirmava que era
necessário dinheiro, que não tinha um sistema de arrecadação criado, e que
sempre contava com a boa vontade de alguns fiéis que acreditavam na sua palavra.
Ele ainda afirmava que mesmo com o fim do mundo próximo, era preciso estrutura
militar e uma arrecadação robusta para educar e preparar a todos que o seguiam,
a entender e aceitar o fim do mundo e da existência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Seus
cultos de quarta-feira tornaram-se cada vez mais famosos, atraindo fiéis até do
centro da cidade. Chegou, no culto que antecedia o Domingo de Páscoa, a ter mais
de quinhentas pessoas se abarrotando nos improvisados bancos de madeira e nas
cadeiras enferrujadas de seu Zuza. Aproveitou a oportunidade para dizer sobre a
arrecadação, e expos seu plano de confiscar o cofre da Igreja Matriz da cidade,
como uma forma de manter viva a sua palavra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Alguns
até falam que o Padre João fez um acordo, para que fosse levada toda a quantia
arrecada do domingo de Ramos, e que deixassem a da Sexta-Feira Santa até o
domingo de Páscoa para a Igreja, que necessitava urgente do concerto do telhado
e do para-raios. Seus Isaías, assim contam, aceitou de imediato e jurou aos pés
da imagem de Nossa Senhora da Conceição, que ele e os seus seguidores jamais
fariam tal ato profano novamente. Padre João que era só alívio com a
possibilidade de nunca mais vê-los, fez um sinal da cruz ao se retirar e fechar
a porta da igreja da Matriz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Capítulo IV
– Aqui é o fim do mundo...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 42.55pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="background: white; color: #444444; font-size: 9pt; line-height: 107%;">“...Aqui, meu pânico e glória</span><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #444444; font-size: 9pt; line-height: 107%;"><br />
<span style="background: white;">Aqui, meu laço e cadeia</span><br />
<span style="background: white;">Conheço bem minha história</span><br />
<span style="background: white;">Começa na lua cheia</span><br />
<span style="background: white;">E termina antes do fim...”<o:p></o:p></span></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 42.55pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="background: white; color: #444444; font-size: 9pt; line-height: 107%;">Torquato Neto<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 42.55pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="background: white; color: #444444; font-size: 9pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">No sábado magro de carnaval do ano de 1965, seu
Isaías fez sua pregação mais polêmica: atacou veemente todos os credos: do
catolicismo ao protestantismo, sobrando até para seus vizinhos da Assembleia de
Deus. Propôs um credo sem templos e sem moedas, ratificando inclusive o escambo
entre vizinhos. Profetizou que após os desastres e catástrofes que precederiam
o fim de tudo, se aos olhos de Deus sobrevivessem aqui na terra, alguns para
reorganizar o planeta; e se aqui (apontava sempre para o chão da sua
improvisada igreja), homens e mulheres “escapassem” de todas as demonstrações
divinas apocalípticas, estes enfim entenderiam que o dinheiro faria pouco
sentido. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Sobreviveria quem enfim entendesse a
importância da terra e do meio ambiente, assim falava para uma plateia cada vez
mais atenta e devota. Sobreviveria aquele, temente a Deus, não no medo, mas no
respeito tão pregado em templos e livros, mas pouco aplicado nos atos e
afazeres do dia a dia. Pediu de forma enfática que todos amassem uns aos outros
como a si mesmo, que eram necessária união e muitos afazeres porque o fim do
mundo estava próximo...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Segundo seu Isaías, em 5.6.65 o mundo eclodiria
em uma sucessão de desastres ecológicos, guerras e choque com uma estrela morta.
Os poucos mais de três bilhões de seres humanos da época, pouco sobreviveriam a
todo o conjunto de desgraças lançadas à Terra. Era preciso estar atento e forte
as todas as provações, dizia o Profeta. O capitalismo não faria o menor sentido
para os poucos mais de dois milhões de sobreviventes, completava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">A tarde daquele sábado magro de carnaval de 1965,
ficou agitada na rua da zona rural de uma das maiores cidades do interior do
Maranhão: há quem se lembre que até jovens fantasiados de fofões foram expulsos
da região, onde se começava uma vigília de orações, que ultrapassariam a semana
santa até terminar na fatídica data; para enfim todos estarem prontos ao fim, e
se assim sobrevivessem, preparados de corpo e alma para reconstruir o mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Foi a partir da data fixada que seu Isaías
começou sua mudança: estava mais calado, taciturno, deixando a barba crescer,
como também, seus cabelos. O visual dava uma impressão de um novo Antônio Conselheiro,
um percursor do profeta Gentileza, sendo que suas palavras quando proferidas eram
de ataques a qualquer um que teimavam em seus credos e templos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Foi desse semestre que se afastou de vez da sua
família, sendo que sua devota esposa nunca deixou de levar suas refeições na
oficina, agora seu templo. Dessa época também sua fama de louco, desvairado e demoníaco
aumentaram, não só na cidade como em toda região. Há relatos de que ele chegou
a expulsar dezenas de peregrinos, pois se ofendia com qualquer mínima tentativa
de associá-lo ao dom da cura ou a santificá-lo. Ele sempre dizia que estava a
serviço de Deus, e que na verdade tinha uma missão simples e direta; avisar e
preparar os seus próximos do fim do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Com a chegada do dia 5.6.65 a cidade foi maltratada
por um extenso diluvio, com o volume de água equivalente a dois meses de chuva.
O rio que banha a cidade, transbordou naquela noite, deixando centenas de
moradores da zona rural sem suas casas e pertences. Foi um dos maiores
temporais que a cidade vivenciara, com um número excessivo de raios e trovões,
mas que tão logo cessou todos retornaram a sua rotina de trabalhos, estudos e
credos. Padre João, no seu Sermão no dia de Santo Antônio, lembrou que o discurso
de Seus Isaías tirando as hipérboles e metáforas, só pedia para cuidarmos e amarmos
uns aos outros e cuidássemos da nossa natureza ,e que a Igreja estaria de
portas abertas para qualquer seguidor dele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Seu Isaías sumiu. Uns dizem ter sido levado
pela força dos córregos que passavam pelo seu terreno, outros dizem ter fugido
de vergonha do seu fim do mundo ter se resumido a uma forte chuva. Dona Maria das
Dores, esposa do seu Zuza, chamou atenção em um pequeno discurso que ela
lembrara de Seu Isaías. Nele, disse ela, o Profeta Tupiniquim deixou bem claro que
o fim era um processo e que nem sempre o tempo de Deus, era o tempo profano dos
Homens: que o amarraram em horas, dias e em um calendário para ter o controle
de nossas vidas e corpos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Coincidência ou não, Padre João em seu sermão
de despedida da Igreja da Matriz daquela cidade em 1978, lembrou do seu Isaías,
e citou o tempo como uma metáfora para lembrar do velho amigo e devoto. Disse,
e aqui escrevo literalmente suas palavras, que o tempo jamais seria capaz de fazer
esquecê-lo, e que sentia um certo orgulho dos cultos proferidos pelo profeta da
zona rural. Falou que sempre pedia para algum conhecido seu frequentar as
famosas quartas-feiras de seus sermões. Padre João disse que era uma questão de
tempo, até o homem provocar um desastre ecológico e destruísse o mundo, em uma
mistura de usura, fanatismo, guerras e extremismos. E terminou fazendo um sinal
da cruz para logo após profetizar: <i>“e quem disse que o mundo não começou a
acabar naquele diluvio em 1965...”<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><i><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 42.55pt;"><b><i><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; line-height: 200%;">*******FIM********</span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: left; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: small; text-align: justify; text-indent: 94.5333px;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: left; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: small; text-align: justify; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></p>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-3274518909779312612020-03-30T18:58:00.001-02:002020-03-30T19:09:17.060-02:00COLOQUIAL AMOR <br />
<div style="text-align: center;">
<b>Coloquial Amor</b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>
</i><i>Para Moiseane Tobias</i><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS5-__or7qLrv0rIS9xxKpFXyuKIKDwu928n-QLt2TdRtqlnBcNUxhXPhnHgxnrI3IvKVZGlWHBIqzYUa-iyFBzd-hBU7kcRXYezxaLGvIk5TSb_M5MrN-bSHZgmF8ZAbAytf2/s1600/img-6045-1-1024x560.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="1024" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS5-__or7qLrv0rIS9xxKpFXyuKIKDwu928n-QLt2TdRtqlnBcNUxhXPhnHgxnrI3IvKVZGlWHBIqzYUa-iyFBzd-hBU7kcRXYezxaLGvIk5TSb_M5MrN-bSHZgmF8ZAbAytf2/s400/img-6045-1-1024x560.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
O amor...<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Ele nem existe de
forma tão cara assim:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
contém mais em um
pedaço de pétala <o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
do que em um brilho
de diamante.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nem é tão assim exagerado:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
está mais em um olhar
<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
do que em toques e
abraços,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
mais em dois acordes ,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
do que em uma sinfonia
inteira.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nem é tão arrumado
assim:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
pode acontecer em um
encontro do metrô,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
em um sorriso de
conforto,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
na crise de asma,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
e ficar longe de
badalações.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nem é tão estação
assim:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
pode caber em um só relâmpago<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
e nem vir com a
chuva.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
pode está na saliva
da mordida na fruta<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
e desprezar
plantações, neves e pragas.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nem é tão norma culta
assim: <o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
pode até ter viajado
nas antíteses barrocas<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
e nas métricas
parnasianas,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
mas o vejo aqui:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
nas inconstantes e
inquietas<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>palavras coloquiais desses versos;<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
querendo e tentando
te amar!!!<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small; text-align: justify; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-76006347230145017882019-12-16T23:37:00.002-02:002019-12-18T16:59:58.357-02:00SEU SANTOS<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>SEU SANTOS</b><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhObEytZMC7z8g_qzw_o_kgiGSQA_16chGlo8T0j0X6NrC_HrB9a5z9sZ08qlX08M-soumVVBPqMUewjk_5n03f2qBn0swMcJOadDIzlcCIu8d7KN38SXCHHZmZ9B30pAHmBUiC/s1600/idoso+com+suspens%25C3%25B3rio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="562" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhObEytZMC7z8g_qzw_o_kgiGSQA_16chGlo8T0j0X6NrC_HrB9a5z9sZ08qlX08M-soumVVBPqMUewjk_5n03f2qBn0swMcJOadDIzlcCIu8d7KN38SXCHHZmZ9B30pAHmBUiC/s400/idoso+com+suspens%25C3%25B3rio.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
José de Ribamar Silva Santos era um funcionário que todo patrão gostaria
de ter: assíduo, discreto e vestia a camisa da empresa como nenhum outro. No caso,
a Companhia União Caxiense , dona da fábrica têxtil localizada na
praça do Pantheon , área central da Cidade de Caxias no Maranhão, foi a
felizarda de tê-lo como funcionário. Supervisor geral da linha de produção, não
deixou, nos seus trinta e sete anos de empresa, nenhuma vez a produção cair.
Tinha a mão todas as funcionárias, e sempre fez questão de participar de todos
os processos de seleção, desde que assumiu a supervisão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Esposo de Dona Iracema Carneiro Lago e pai de Sandra Mara, conhecida como
a primeira Dentista da Cidade, e orgulho de Seu Santos. Sempre que ia nas
reuniões do Lions Club e exacerbava no consumo de vinho, danava-se a recitar Gonçalves
Dias e dizer aos quatro cantos que era pai da primeira feminista da cidade, que
criara sua filha para ter independência e saber discernir os males do mundo. Tido
por todos como pai e marido exemplar, e ainda por gozar de prestígio e poder no
maior grupo empregador da cidade, era sempre convidado para ser padrinho em
convites que vinham de todas as classes sociais da cidade. Acabou, até o final
da sua vida, nos seus setenta e nove anos, acumulando cento e vinte e sete afilhados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
A rotina dos seu Santos era bem repetitiva, acordava as quatro da manhã e
fazia seu desjejum sempre ao lado da sua esposa, lia o jornal e reclamava
sempre da situação política do Estado. Falava que faltava um Caxiense para
tomar as rédeas do poder e que o problema da pobreza e atraso do Maranhão era a
baixada. Tomava seu café, enquanto Dona Iracema o ouvia ralhar quase em um monólogo
repetitivo e enfadonho todas as manhãs. Ao levantar da mesa, ajustava seus suspensórios
e subia a calça acima do umbigo, e já no banheiro, arrumava seus cabelos
laterais com muito gumex, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e os poucos
fios que restavam na parte de cima da sua cabeça , tentava fazer uma
distribuição , inútil diga-se de passagem, para disfarçar sua calvície. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Morava bem próximo a Fábrica de tecido, na casa que foi uma herança do
seu sogro João Carneiro, herdeiro da maior empresa têxtil da cidade, sogro que
aliás lhe assegurou o emprego desde seu casamento com sua filha. Fato que
incomodava muito o supervisor, que vivia repetindo, até mesmo para quem não quisesse
ouvir, que aquele trabalho ele mantinha porque dava seu sangue , e exigia muita
responsabilidade , que ele em seus arroubos de soberba e pouca modéstia , dizia
ter de sobra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sua fama, além de ser um supervisor exigente e nada simpático , era de
calças suspensas , virando inclusive sinônimo para quem usasse calça ou
bermudas acima do umbigo. Era motivo de risos e olhares dissimulados das meninas
da linha de produção de corte, local que segundo o próprio seu Santos , era o mais
difícil de se adequar a disciplina de uma fábrica. Foi de lá que saiu o maior número
de demissões, quando já no final de década de sessenta a empresa já se
preparava para fechar as portas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
As meninas da linha de corte, foram acusadas, mesmo sem provas, de
produzirem um judas vestido com trajes de futebol , mas especificamente do time
do flamengo, com o calção do time bastante acima do umbigo, com a cara do seu
Santos. Ficou lá pendurado desde quinta-feira até sábado de aleluia, e só foi
retirado quando o guarda do turno avisou o homenageado da brincadeira de
péssimo gosto. O fato fez com que, não só a festa da páscoa fosse cancelada,
como também, seu Santos executasse a demissão de vinte das quarentas mulheres
da linha de produção, causando uma onda de acusações e fofocas por mais de dois
meses dentro da fábrica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O fato só foi apaziguado , diria até esquecido, depois da certeza que a
fábrica iria de fato encerrar suas atividades, fato que ocorreu em mil
novecentos e setenta , com seu Santos comandando todo o processo de demissões e
acertos e com sua aposentadoria garantida. Depois de todo o exaustivo processo,
sempre era visto pontualmente <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as seis da
manhã ,na padaria do seu Ibrahim , com sua bermuda acima do umbigo, blusa de
botão e sandálias de couro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Adquiriu o hábito quase que obsessivo por dominó, se tornando até um
grande campeão em diversos torneios de praças pela cidade. Não suportou muito
viver essa rotina de aposentado, vindo a falecer cinco anos depois do
fechamento da fábrica. Dona Maricota, contava aos quatro cantos, que o viu no
prédio da Assembleia Legislativa, na rua do Egito, quando do ato festivo pelo
tombamento do prédio da Fábrica , pelo então Governador Caxiense João Castelo
em mil novecentos e oitenta. Quando questionada se ela havia visto de fato ele,
a idosa sempre respondia que nenhum outro fantasma, se daria o trabalho de usar
as calças tão acima do umbigo como seu Santos o fazia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-73174530787873699792019-09-01T13:36:00.002-02:002019-12-16T23:37:50.204-02:00JOÃO GOLINHA<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">JOÃO GOLINHA</span></span></b><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLWEoaZlcc9m20bnbiddhrO_-T9spgw2NntXkrRD2BM0E_BRNhyphenhyphenK8ZlWIInaU1DjRQehyphenhyphenRqrouEBmrsmA2TJgd2BE3L8eJofQ1E194jhrbjb7s6G7uizsLcmXZmJPKB_KuToHt/s1600/istockphoto-110902082-1024x1024.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="645" data-original-width="439" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLWEoaZlcc9m20bnbiddhrO_-T9spgw2NntXkrRD2BM0E_BRNhyphenhyphenK8ZlWIInaU1DjRQehyphenhyphenRqrouEBmrsmA2TJgd2BE3L8eJofQ1E194jhrbjb7s6G7uizsLcmXZmJPKB_KuToHt/s400/istockphoto-110902082-1024x1024.jpg" width="270" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ao meio dia, na década de sessenta, o centro de
Caxias parava. Não muito diferente das cidades do interior do Maranhão, a terra
de Gonçalves Dias, “dormia” na hora do almoço. O sol tinindo do começo da tarde,
iluminava praças e ruas praticamente vazias. Vez ou outra era possível ver: uma
senhora portando da sua sombrinha, ou um morador da zona rural vindo resolver
algo no centro, em suas velhas bicicletas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">João Fahd Sekeff, ganhou fama por ter o arroto
mais alto da cidade: dizia-se que se ouvia da rua São Benedito, onde residia,
até a praça da Matriz. Sendo exagero ou não, já era tradição, pelo menos nos
seus arredores, toda a vizinhança esperar os arrotos logo após seus almoços.
Eram ali, por volta das treze horas da tarde que eles eram escutados. Começavam
tímidos e iam aumentando conforme seu João ia relaxando no decorrer dos
minutos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Seu Benedito, músico e militar, um exímio
trompetista chegou até a afirmar, que os ditos arrotos tinham sincronicidade e
uma certa musicalidade. O fato era que das treze horas até abrir seu comércio
depois do almoço, quem passasse pela rua era convidado a ouvir uma sintonia dos
seus arrotos. O professor de história Rodrigo Passos, seu amigo de longa data,
propôs até que se fizesse uma moção na Câmara de Vereadores da cidade, para que
João</span><i><span style="color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Fahd</span></i><span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Sekeff fosse
homenageado pelas suas eructações vespertinas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O vereador Ribamar Soares, o Ribinha do poço,
famoso por trocar votos por poço artesianos, levou tão a sério a sugestão do
professor Rodrigo, que executou a homenagem, sendo inclusive de sua autoria, o
apelido João Golinha, por insistir em dizer que ele tomava goles de Azeite de
Oliva, antes e depois do almoço, e arrotava com um som limpo e musical,
parecendo um pássaro nordestino, o golinha. Já alguns aposentados que jogavam
dominó na praça da matriz, confabulavam em dizer que era comida da Dona Samira,
a esposa de João Golinha, uma exímia cozinheira e sabia misturar os temperos
árabes, para que os mesmos produzissem os gases necessários para as suas ventosidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Dona Samira era famosa por suas variadas
especialidades em comidas: cozinhava do cozidão com verduras e legumes com a
ponta da agulha do boi, aos assados recheados com linguiça calabresa. Mas sua
especialidade mesmo era a variada e saborosa comida árabe. Era ali, segundo os
vizinhos, a base para a força e limpidez dos arrotos de João Golinha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O prato predileto do João, que Dona Samira preparava
pelo menos três vezes na semana, era a Kafta assada no carvão em fogareiro de
ferro, abanado sistematicamente para não deixar a carne nem crua e nem muito
assada. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ela servia com arroz de lentilha
(Mjahdra) com muita cebola dourada, acompanhando também, de coalhada seca e
pasta de grão de bico (Homus).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A Kafta de carne de boi era temperada de um dia
pro outro, com um mix de carnes:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de
segunda, geralmente acém e de primeira; sendo a maminha, alcatra e filé mignon
as escolhidas. Todas temperadas com sal, pimenta do reino, salsinha, hortelã
seca moída, pimenta síria, páprica defumada e Snobar. Há quem diga que a mistura
de tempero de dona Samira, era diferente de qualquer outro cozinheiro que
fizesse o mesmo prato. A carne ficava tão suculenta e saborosa que dizia-se,
derretia na boca, nem precisando maior esforço para mastigar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Vereador Ribinha do poço era famoso também,
não só por fazer homenagens inúteis em discursos calorosos sem fim. Ele, ora ou
outra, não deixando nem um espaço de mais de quinze dias, se convidava para
almoçar na casa de Dona Samira e seu João Golinha. É dele os principais
relatos, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">tanto das comidas</b>, tendo o
arroz de linguiça e vagem servidos com frango recheado assado com farofa de
pimentões, entre seus pratos prediletos, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">quanto
da</b> preparação de seu João para os famosos arrotos vespertinos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ribinha aliás, em suas várias defesas na
câmara, sempre dizia que os arrotos não eram nojentos e falta de educação, e
sim, um costume árabe que era uma referência ao gostar da comida. O historiador
Rodrigo Passos sempre ratificava as afirmações eloquentes do vereador, com sua
sempre parcimônia e lentidão de intelectual quarentão. Os dois foram os
responsáveis pela imagem e criação da lenda do João Golinha, cobrando
inclusive, que o próprio se divulgasse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Já um pouco mais velho, ele aproveitou da sua
fama de glutão, para tentar fazer o seu pequeno comércio de secos e molhados
virar um mercado com mais opções. O investimento até que foi feito, e aumentou
consideravelmente o número de consumidores, com pessoas que vinham até de
Peritoró para conhece-lo, e por consequência, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acabavam consumindo no seu mercadinho um ou
outro produto. O insucesso da empreitada, a grande falha, veio do próprio
administrador: seu João não tinha traquejo para lidar com compras em um volume
maior, e muito menos controlar o estoque do que já havia comprado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Se meteu a comprar até medicamentos, misturando
pílula contra com temperos e Minâncora com graxas de sapato. Era uma confusão
geral no seu mercadinho, que mais parecia uma mistura de box de feira com
armarinho. Teve que fechar por dois dias, após um acidente com fogos de
artificio ,onde uma caixa de “bomba de murrão” explodiu perto do estoque de
mamão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O projeto de supermercado não vingou, e o
deixou falido por completo. Dizia-se também, que após assumir um projeto maior,
as obrigações e demandas que o comercio exigia, não o fizeram mudar sua postura
que o acompanhou desde que virou comerciante: abrir umas seis e meia para
vender um pão quentinho, fechar para o almoço e só abrir depois das quinze, ou
“quando o sol baixasse mais”, atendendo o público com seus calções de elástico
frouxo, camisa no ombro , os poucos fios que restavam em sua cabeça assanhados
e, vez ou outra, soltando arrotos para a alegria da criançada que brincava na
calçada do estabelecimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="background: white; color: #292929; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Depois da sua falência, foi curtir sua
aposentadoria junto a sua esposa Samira, e coincidiu com seus passeios pelas
praças de Caxias, sendo um espetacular jogador de dominó e jogo de damas,
arrotando sempre que ganhava uma partida. Alguns até o deixavam ganhar só para
ouvi-lo arrotar, método que foi se especializando, após da aposentadoria
forçada, ao virar um voraz consumidor de refrigerantes; o que o fez produzir eructações
cada vez mais altas e longas e em quantidades que o mesmo não fazia antes.
Chegando até a soltar dezessete arrotos seguidos, em uma tarde na Praça Rui
Barbosa, para aplausos dos seus amigos e transeuntes daquela tarde. Aliás, até
hoje, a lenda de João golinha permanece nas praças de Caxias do Maranhão, da
Praça do Pantheon, Matriz ou da Chapada, sempre vai ter alguém que lembrará do
homem que arrotava como um passarinho do nordeste.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-554637110952338522019-08-04T13:58:00.000-02:002019-09-01T13:36:54.423-02:00ZEZÉ VIANA<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">ZEZÉ
VIANA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;">Para minha tia Matilde</span></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh7zQ52rD-Jfmb_fURTA5PfH6QO6DBh_3bqBy8R4E_GTuXwLBH4ylJoZnBtMdcCGtjacsiCMF1sUivKajGjpBxpiAmu8Rh20U5iEOsFwDCyB0TJLgXSprgtTgi_XE_ZTijkArd/s1600/Foto+Zez%25C3%25A9+Viana.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="295" data-original-width="332" height="355" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh7zQ52rD-Jfmb_fURTA5PfH6QO6DBh_3bqBy8R4E_GTuXwLBH4ylJoZnBtMdcCGtjacsiCMF1sUivKajGjpBxpiAmu8Rh20U5iEOsFwDCyB0TJLgXSprgtTgi_XE_ZTijkArd/s400/Foto+Zez%25C3%25A9+Viana.png" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-size: x-small;"><br /></span></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><o:p><br /></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Maria
José Ribeiro Viana, a Zezé Viana, era uma figura conhecida na cidade de Caxias
no Estado do Maranhão. Em 1987, através do bêbado Zé Portinho, ganhou a alcunha
de Xuxa geriátrica. Era motivo de chacota de alguns moradores, por insistir em
seus mais de sessenta e cinco anos, em usar minissaias, às vezes branca, às
vezes vermelha, com tecido de vinil com um brilho intenso e chamativo. Abusava
e muito de uma maquiagem forte e, diziam as mulheres da cidade, bem caricata,
parecendo em muitas ocasiões um personagem de circo ou de peça infantil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Zezé Viana não casara e nem tivera filhos. Era
a irmã mais velha, dos seis filhos de dona Iolanda Ribeiro e seu Idemar Viana.
Segundo sua mãe, foi aluna exemplar do Instituto São José, uma excelente filha
e irmã, ajudando a todos sempre que a chamavam. Ajudou a mãe nas tarefas
domesticas até a morte da matriarca, criou todos os seus sobrinhos, que
passavam dos vinte e se agregavam em casa e puxadinhos ao redor do casarão dos
seus pais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Era
sempre a filha que levava a mãe ao culto na Assembleia de Deus, mas frequentava
a Igreja católica, onde dizia-se sentir bem à vontade para trabalhar com a
pastoral e ajudar os padres no que era possível. Era a responsável pela coleta
do dízimo e comandava à mão de ferro uma equipe de trinta voluntários espalhados
pela cidade. Esse ofício aliás, foi quem a fez conhecida por toda a cidade, da
zona rural da Trizidela até o centro tradicional de Caxias.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
comerciante João Golinha, muito amigo do pai de Zezé Viana, sempre a
cumprimentava chamando de a moça velha mais elegante da cidade, olhando-a da
cabeça aos pés e suspirando dizendo que era muito areia para o seu caminhão.
Zezé sempre respondia que seu caminhão já estava cheio e velho, saindo e rindo
com seu rebolado característico de uma pós-balzaquiana, de minissaia no começo
da década de sessenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">E
foi a moda da década de sessenta, que despertou em Zezé o interesse de andar em
sintonia do que acontecia no mundo. Era consumidora voraz de revistas e
fotonovelas e sempre que possível, se amontoava na praça ou na casa de uma
vizinha mais rica, para ver na televisão as novelas e programas de auditórios
que ditavam moda na época.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Aproveitava
para ir com as amigas nas sessões do Cine Rex, ficando quase sempre sozinha
quando emendava duas seguidas, de tão fissurada em decorar falas, gestos e
roupas. O cinema era sua fuga, mas também um parâmetro ainda mais atualizado,
do que a TV e a revista não podiam lhe fornecer. Suas duas melhores amigas, Matilde
Macêdo e Moisele Tobias eram as que compartilhavam sempre desses momentos
cinematográficos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Foi
do cinema, aliás, que ela tirou os apelidos para Matilde (Petit Macêdo), a
pequena Macêdo, e Poupeè Tobias, a boneca Tobias, palavras retiradas dos filmes
franceses, películas das quais, ela se debruçava horas assistindo no pequeno e
único cinema da cidade. Suas duas fieis amigas eram bem mais novas do que ela,
uns vinte anos de diferença, o que causava um contraste em ver: duas jovens
senhoritas e uma quarentona vestidas e maquiadas da mesma forma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Foi
na década de setenta, com cinquenta e poucos anos que Zezé Viana começou a
chamar atenção por seu modo de vestir e até de falar. Recusava-se a vestir com
qualquer roupa que não fosse da década de sessenta, falando também com uma voz
com entonação de menina. Dizem que foi pela morte seguida dos seus pais, no
final da década de sessenta, que Zezé Viana retornou ao seu guarda roupa de minissaias
e visual “Barbarela”. Não se sabe ao certo, mas sua amizade com a costureira
Fernanda, uma ex miss que se especializou em realizar o sonho das mulheres da
sua cidade: podia levar qualquer modelo de roupa de revistas, de fotonovelas
que ela adaptava sem dificuldade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Zezé
a chamava de Fernandinha, e até certo ponto, a sua companhia ajudou a
substituir a amizade com Matilde e Moisele. A pequena Macêdo foi para Santa
Inês procurar novos horizontes ao lado da sua irmã mais velha. E a boneca
Tobias, casou e foi morar na capital. Fernandinha adorava os desafios que Zezé
fazia a ela: roupas da década anterior, com referências geralmente em fotos de
filmes que ela retirava dos semanários que consumia vorazmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Zezé
Viana não era amante da moda da década de setenta e no decorrer dela, foi cada
vez mais retroagindo no tempo com suas roupas. Ficando inclusive amante dos
vestidos acinturados da década de cinquenta, que Fernandinha fazia quase que em
série para ela. Andava pelas ruas de Caxias arrancando suspiros dos mais velhos
e galhofa dos mais novos. Virou personagem e referência para quem queria se
referir a mulher que não aceitava que o tempo passou, e insistia, através das
roupas e amizades, em dizer que não envelheceu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em
1990 saiu em alguns jornais e revistas, pela extensa fama de imitar as roupas
das apresentadoras de programas infantis. Uma setentona que se vestia parecida
com a Xuxa, Mara e Angélica. Dizia-se livre para vestir o que desse na telha, e
que seguir a moda estava fora de moda. Tinha um fã clube ardoroso em sua
defesa, que dizia que ela levava Caxias para o Mundo. E na mesma proporção
moradores, inclusive parentes, que falavam que ela precisava ser internada e
que manchava a história da cidade, conhecida como a terra de Gonçalves Dias, e
que não poderia ser associada a uma idosa com roupas de adolescentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Maria
José Ribeiro Viana, a Zezé Viana, morreu aos setenta e dois anos, em 1994, em
sua casa e fora enterrada sem muito alarde no cemitério municipal da cidade de
Caxias, com túmulo, caixão e velório doados pelo então Prefeito Paulo Marinho.
Um cortejo simples com muitos aposentados e que terminou com João Sekeff Filho,
filho de João Golinha, fazendo um discurso apaixonado em defesa de uma figura
ilustre que se recusava a envelhecer na cabeça, mesmo que o corpo teimasse em
provar o contrário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cobrou
do prefeito Paulo Marinho, uma escola municipal com seu nome e apelou ao
empresariado, por uma escola de moda que fizesse do legado daquela mulher: que
se recusava a seguir a moda atual, exagerava na maquiagem, e ainda, que era
sinônimo de quem exagerava nas minissaias. Aquela mulher que tampouco ligava
para julgamentos e em sua mente parou nas décadas de cinquenta e sessenta; sim
essa mulher, disse João Sekeff Filho, essa mulher merecia ser imortalizada como
nossas memórias infantis e adolescentes, que nos acompanham a vida toda. Seu
caixão foi enterrado ao som de “banho de lua” imortalizada por Celi Campelo,
cantora da qual Zezé era fã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 56.7333px;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><b> FIM</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 56.7333px;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small; text-align: justify; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-77093111323092485972019-07-03T17:19:00.000-02:002019-07-04T07:45:25.068-02:00MESMO QUE ACABE NÃO VAI TERMINAR<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">MESMO QUE ACABE NÃO VAI TERMINAR</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b>para Moise</b></i></span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht6VB2_9y2E_wCPWETPeZ_-WFMyAt9Vdha5t-F8mj6JVotfzaQxSGHJqwheXemPppJV9lhHJu0wTLGYFUp108ITDl4HkILuV7uo6z70k15ILDWztnV92HOsetzSlhTtXGjSZLb/s1600/nam+Marc+Chagall+-+The+Betrothed+and+the+Eiffel+Tower%252C+1913+%25E2%2580%2593+%25C3%25B3leo+sobre+tela+-+Mus%25C3%25A9e+national+Message+Biblique+Marc+Chagall%252C+Nice%252C+France.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="455" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht6VB2_9y2E_wCPWETPeZ_-WFMyAt9Vdha5t-F8mj6JVotfzaQxSGHJqwheXemPppJV9lhHJu0wTLGYFUp108ITDl4HkILuV7uo6z70k15ILDWztnV92HOsetzSlhTtXGjSZLb/s400/nam+Marc+Chagall+-+The+Betrothed+and+the+Eiffel+Tower%252C+1913+%25E2%2580%2593+%25C3%25B3leo+sobre+tela+-+Mus%25C3%25A9e+national+Message+Biblique+Marc+Chagall%252C+Nice%252C+France.jpg" width="363" /></a></div>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Eu me afobei quando te vi:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Fugi,desencontrei<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Passei batido!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Te fotografei<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Mas não revelei!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Só eu sei que nunca amei<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">porque sei do sabor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">que foi encontrar tua boca!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Quando tem que ser<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">o verbo já foi ligado;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">já conjugamos nossa vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Só eu sei que nunca amei<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Porque sei,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Sabendo, sentindo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">O que é você ao meu lado.</span><o:p></o:p></div>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small; text-align: justify; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-88024606589755417302019-06-01T18:19:00.003-02:002019-06-05T16:38:54.584-02:00COM FUSÃO<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1wmf7lh2B_BgMdv9gvnlj30IC1Rz1MR1XfOHQmLBUcUBA0Uk1gfzUe6UdHsa2M6tVXS-usbgCdCJnudar2w8C7JBGbN5uAvBJ639zrt6SdhTd_SudZ9uvwTQi98zCgsJdLc5f/s1600/fusao.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="245" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1wmf7lh2B_BgMdv9gvnlj30IC1Rz1MR1XfOHQmLBUcUBA0Uk1gfzUe6UdHsa2M6tVXS-usbgCdCJnudar2w8C7JBGbN5uAvBJ639zrt6SdhTd_SudZ9uvwTQi98zCgsJdLc5f/s400/fusao.png" width="293" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">COM FUSÃO<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: x-small;">Para Moi</span><span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Se confundes o inverso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> c</span>om universo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O que farias<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">com esse verso<span style="background: white; color: #222222; font-family: "arial" , sans-serif;">?</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Quebre esse gelo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">mergulhe em minha água<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Sendo rainha<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Sendo fada...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Preciso do teu caminho,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">quero teu ar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">para como essa fusão<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Te amar.</span><o:p></o:p><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
</div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-70545403259036668992019-05-02T23:17:00.001-02:002019-06-01T18:20:14.602-02:00REENCONTRO<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><b>REENCONTRO</b></span><b><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><i><span style="font-size: x-small;">para Moranguinho Tobias</span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYv_SnSQxBVA-Uf0EurDho2jqIab0OYIgx4hSE6Zs0msrjwLgxcWtG2ojRypnFjkL5kXFB7tfXz4aHY_gbU_TenAufKxkjf9heh5eNxuiuzXVhrerzGKWWNY290_tzosSEgRbw/s1600/IMG-20190502-WA0092.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="419" data-original-width="630" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYv_SnSQxBVA-Uf0EurDho2jqIab0OYIgx4hSE6Zs0msrjwLgxcWtG2ojRypnFjkL5kXFB7tfXz4aHY_gbU_TenAufKxkjf9heh5eNxuiuzXVhrerzGKWWNY290_tzosSEgRbw/s400/IMG-20190502-WA0092.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Há tanto tempo estás em mim:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ao olhar para a lua<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em um passo no asfalto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No grito de um gol.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Estiveste sempre aqui:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em alguma dança de rua<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em um muro pichado <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em um gato de rua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Na água<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Na fome<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Na roupa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No mais básico desejo do instinto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Na necessidade mais bruta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A minha canção mais longa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Meu Whisky mais puro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Meu vício mais límpido...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ao tempo que driblo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Estiveste, estás e estarás<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Junto a mim!!!</span><o:p></o:p></div>
<br />
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-35539818090078172512019-04-03T11:32:00.000-02:002019-04-05T00:27:18.104-02:00MARIA DO VOVÔ<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">MARIA DO VOVÔ<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOpk7po6I4_4klqzVoRmXakAwRbApMaMOP1dnNwWUYBwhvUqc9u3SDX07pd5Ww7d0BqE2xIUY8L3fVggrNe5Oo31TdJp36axdJf5XPBOM3dF5tKxKf8s2ic-EHkxyM7YBLiJ-4/s1600/IMG-20190401-WA0019.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="975" data-original-width="677" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOpk7po6I4_4klqzVoRmXakAwRbApMaMOP1dnNwWUYBwhvUqc9u3SDX07pd5Ww7d0BqE2xIUY8L3fVggrNe5Oo31TdJp36axdJf5XPBOM3dF5tKxKf8s2ic-EHkxyM7YBLiJ-4/s400/IMG-20190401-WA0019.jpg" width="277" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">I<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">A FAZENDA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-5cym21NtFtmtelVxak8qE9VBmkNhXtVeCpQHdqX4JfFXsZwelcN4xp3OS6LnmZ8nPmbrJbwT61ZpyoTGQxe7Z-JiWh_XJ_ItR-yL8EG5hzf1v7CWO6ZZsvGqD6H__bfFxD9H/s1600/IMG-20190402-WA0015.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="488" data-original-width="670" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-5cym21NtFtmtelVxak8qE9VBmkNhXtVeCpQHdqX4JfFXsZwelcN4xp3OS6LnmZ8nPmbrJbwT61ZpyoTGQxe7Z-JiWh_XJ_ItR-yL8EG5hzf1v7CWO6ZZsvGqD6H__bfFxD9H/s400/IMG-20190402-WA0015.jpg" width="400" /></a></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><o:p><br /></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Localizada
na área rural de Caxias, Maranhão, no bairro de Trizidela, a fazendo de seu
Macêdo, era uma grande área com um pouco mais de três mil hectares de terra.
Era apenas uma, das quinze que herdara do seu sogro Frederico Ramos. Casado há
quase vinte anos com Matilde, ele escolheu para morar naquela terra que dizia
ser o paraíso: pasto, matadouro, açude e até uma cachoeira de águas cristalinas
que desembocavam no rio Itapecuru.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
casa maior, era em estilo colonial com vinte quartos, sendo doze suítes e
diversas divisões, dentre elas: sala de costura, cozinha, uma extensa sala de
jantar e uma varanda, que era o lugar predileto de seu Macêdo. Ela era bem
grande, e lá ele podia sentar em sua cadeira de balanço e contemplar o pôr do
sol, ao mesmo tempo em que, observava seus diversos empregados trabalharem para
tirar o boi do pasto, recolher os cavalos, e ainda, observar as empregadas na
correria para preparar seu jantar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ali
era seu paraíso, sendo que foi naquela grande casa da fazenda ,que viu sua
mulher Matilde parir dezesseis filhos, onde desses nasceram vivos: Otília (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Diloca</b>), Matilde (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Matildinha</b>), Francisca (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Chiquinha</b>),Onezina (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Nézia</b>), Julita (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Juju</b>), Antônia (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Tunica</b>),
Maria José (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Preta</b>), Rafael (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">o Macedinho</b>), Dinorah (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Didi pé de valsa</b>) e por último a sua
caçulinha Raetilde (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Raé</b>). Todos
apelidados pelo pai, sem o agrado da mãe, que costumava corrigi-lo para chamar
pelo nome e não por apelidos que, segundo ela, tiravam a personalidade dos seus
filhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
casa ainda contava com dezoito empregados, sendo duas cozinheiras e mais duas ajudantes,
e o restante se revezavam entre cuidar das crianças, limpar a casa, lavarem as
roupas e engomarem. Na casa que não faltava serviço, parecia tudo muito vivo,
tanto pelos diversos sons emitidos pelas crianças, como também, pelos adultos
que ali habitavam. Seu Macêdo era o maestro disso tudo; começava pela hora do
café, que era sempre as seis horas da manhã, onde fazia questão de tomar todos
os dias com as crianças, que já deviam estar de pé e bem vestidas, independente
se estavam de férias ou em período escolar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No
almoço, as vezes não ia à casa, pois fazia questão de almoçar com seus peões,
em meio suas plantações de carnaúba e seu enorme rebanho de gado. À noite,
religiosamente jantavam após o horário da ave maria, por volta das dezoito e trinta,
onde seu Macêdo exigia, logo após o jantar, que as crianças se retirassem da sala
e se recolhessem nos seus quartos. Também ordenava que as empregadas
recolhessem as louças do jantar, e fossem imediatamente para cozinha, pois não
queria mais ninguém para atrapalhar suas tragadas e mascadas de fumo. Era capaz
de ficar mais de duas horas na varanda, pitando no cachimbo, e as vezes
cuspindo na escarradeira, com o barulho ensurdecedor de grilos, sapos, cavalos,
carneiros, bodes, capotes, galinhas, porcos e o seu imenso rebanho de gado por
toda a fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
vezes se pegava dormindo e era acordado por seu capataz que fazia a ronda.
Subia para seu quarto meio contrariado, para enfim acordar por voltas das cinco
da manhã e começar sua rotina, que só era interrompida pelas idas aos domingos à
missa das nove da manhã, no centro da cidade, na secular Igreja de Nossa
Senhora da Conceição e São José. No domingo se sentia deslocado, por fazer todo
o protocolo social, mas era um devoto de São José, onde sabe-se segundo sua
finada mãe, havia lhe curado de uma tosse brava na infância. Era um homem de
poucas palavras que se sentia à vontade no seu pasto, seus açudes e seus
empregados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tido
como rústico, por vezes ignorante, era comum entrar na sua própria casa
montando em seu cavalo, para alegria das crianças e desagrado de sua
melancólica mulher. Fazia questão de levar o seu filho Macedinho para o
matadouro e obriga-lo a ver o boi morrer a pauladas para depois, ser retirado o
couro e dividido em diversos pedaços, a carne propriamente dita. Macedinho
odiava ver aquela cena, mas quem era a mais entusiasta era sua irmã Tunica, que
por vezes era vista aplaudindo o dilacerar do boi morto. Tanto que aprendera a
identificar o nome de cada parte do boi, só observando os cortes feitos pelos
empregados da fazenda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tunica
era a primeira a pedir que separassem a alcatra, para fazer seu bife
malpassado, temperado com muito sal e lavados com muito vinagre de vinho.
Exigia, quase como uma birra, que a carne saísse imediatamente do matadouro
para a cozinha e ser logo cortada. Em muitos momentos tinha-se a impressão de
que a carne ficava tremendo, ao chegar na bancada para ser cortada em diversos
pedaços de bifes. Tunica era uma voraz degustadora de carne de boi, adorava
também os assados feitos de coxão mole, temperados com muita pimenta de cheiro,
bastante cultivada na região.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Macêdo
admirava o interesse de sua filha no processo de corte do boi abatido. E ficava
muito alegre em ver o apetite da mesma, a sua Tunica, pela carne vermelha. A
ela, ele dizia, jamais chegaria o “fartiu” e muito menos falta de sangue.
Admirava sua pele branca, bochechas inchadas , protuberantes e avermelhadas.
Todos os empregados comentavam que era a filha predileta do seu Macêdo, pois
seria a única que lhe arrancava um simples sorriso; ato difícil de se tirar da
sua face carrancuda e suada. Um homem simples com um imenso patrimônio, com
muitos filhos, empregados e uma esposa melancólica.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">II<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">O ENTERRO<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvWiTsU4XfBxVMlmyAGfW6uA581mVZgF68_hkSvCYlbgtW8iGMaEVzS0PvCDlb430O2vc3Xoi-fVhWKyT9NfPk1wXLDfgC0jmlFltlYpuJWUFzNAuodITbfx0irUtqv7Z41Nje/s1600/IMG-20190402-WA0003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="294" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvWiTsU4XfBxVMlmyAGfW6uA581mVZgF68_hkSvCYlbgtW8iGMaEVzS0PvCDlb430O2vc3Xoi-fVhWKyT9NfPk1wXLDfgC0jmlFltlYpuJWUFzNAuodITbfx0irUtqv7Z41Nje/s400/IMG-20190402-WA0003.jpg" width="392" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dizia-se
no final do século XIX, que o português Frederico Ramos era o homem mais rico
do Maranhão. Com um extenso rebanho de gado, espalhados pelas suas trinta e
cinco fazendas, que percorriam toda a região de Caxias até o sul do Estado.
Plantava de tudo, participando inclusive do grande ciclo de algodão em terras
maranhenses. Mas era a carnaúba sua principal paixão, e reservava vinte
fazendas para o plantio dessa palmeira, conhecida como árvore da vida. Era um
entusiasta da carnaubeira onde tudo se aproveitava, da raiz a cera, e dizia que
planta seria o futuro ouro do país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Imigrara
para o Brasil na segunda metade do século XIX, saindo da região do extremo
norte de Portugal: ele e mais três irmãos saíram da região de Viana do Castelo
para enfim, desembarcarem no Brasil (em 1880) e seguirem do Rio de Janeiro para
o Maranhão, para trabalharem no comércio e por último, entrarem no ramo de
cultivo de carnaúba. Frederico Ramos acabou fincando raízes no Maranhão, ao
contrário dos dois irmãos que voltaram para Portugal. Tinha uma capacidade
imensa para vendas e acabou formando um imenso patrimônio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Frederico
casou com a portuguesa algarvense Maria de Fátima em 1885, tendo três filhos: a
mais velha Matilde, o filho do meio José Ramos e o caçula Joaquim. Sendo que em
1900, casou sua filha com seu capataz mais fiel e trabalhador; o Macêdo. Era ele
que costumava controlar uma manada de mais de cinco mil bois para pastar. Era
também o que se preocupava em conferir cada carga, de qualquer produto, que
saia da fazenda que controlava em Caxias. Era de poucas palavras e muito
trabalho. Chamava atenção, por comer em uma bacia um quilo de arroz com uma
galinha caipira cozida inteira. Era pau para toda obra, assim como, um
excelente informante de todos os problemas que aconteciam na fazenda que
administrava, que por sinal era a que mais tinha plantio de carnaúba e um
extenso rebanho de gado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes
de ser o genro de Frederico Ramos, Macêdo já era responsável por dez das trinta
e cinco fazendas do seu futuro sogro. Era pouco entendido da arte de vender,
mas o português apostou alto nele ao oferecer a mão de sua filha e quinze
fazendas como dote. O casamento causou um certo desconforto na provinciana
cidade, mas logo o Padre Antônio abriria sorrisos pela a grande ajuda que,
Frederico e Maria de Fátima, dariam para a reforma da paróquia de São José e
Nossa Senhora da Conceição. Porém, com o casamento feito, difícil foi convencer
a sua esposa de que seus filhos José e Joaquim ficariam com uma herança menor
que a irmã. Frederico não usou a diplomacia e simplesmente disse que assim
seria, pois era seu patrimônio e o estava zelando porque, mesmo aos quarenta e
um anos, estava cansado de idas e vindas por estradas enlameadas do interior do
Maranhão, e por sempre ter que negociar mercadorias na capital São Luís. E
quando os meninos, de doze e dez anos, quando crescessem teriam uma rede melhor
de comercio para eles, cuidados firmemente pelo pai, na cidade que adotou como
sua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
fato foi que Matilde casara com Macêdo em 1900, aos quatorze anos e já no
início do século XX, nasceria Otília , o primeiro dos outros dezesseis partos
que teria ao longo da sua curta vida. O casal chamava atenção ao ir as missas
de domingo; ela cabisbaixa e tímida, ele sempre carrancudo e pouco simpático.
Mantiveram um código bem simples e direto: Ele cuidava do patrimônio que o
casal herdou do Pai de Matilde, enquanto ela tratava de gerar filhos para
formar uma grande família. E assim o fez, tendo perdido logo ao nascerem seis
filhos. Três nas primeiras gestações e outros três após o nascimento de sua
caçula Raeltilde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Matilde
na segunda década do século XX, era cada vez mais melancólica e parecia ter
aversão ao seu marido. Comunicavam-se muito pouco, e não se importava com os
“fuxicos” recebidos pelos empregados, de que seu Macêdo teria uma ou duas
amantes em cada fazenda. Afastou-se de seu pai Frederico, logo após a morte de
sua mãe Maria de Fátima. Matinha pouco contato com os irmãos, e era vista
sempre comendo doces, que sua amiga doceira Moise fazia questão de
presenteá-la. Sempre ao fim do almoço, era comum vê-la na varanda, saboreando
algumas guloseimas açucaradas de sua amiga. Quase não se importava em
acompanhar a educação dos seus filhos, com o comando da sua imensa casa.
Incumbia-se apenas de controlar o estoque cada vez maior de doces de leite,
côco, buriti e suas imensas compotas de mamão, laranja da terra e caju.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sofrera
bastante com o parto de sua caçula, no entanto, sofreria ainda mais com a perda
quase que concomitante de seu filho José, com menos de três semanas de nascido,
e seu pai Frederico ,no ano de mil novecentos e vinte. Perderia mais duas meninas,
para enfim morrer em mil novecentos e vinte e cinco, já com problemas de visão,
envolta em uma depressão e com suas pernas e seus pés com feridas e bem
inflamados. Dizem que ela morreu em seu quarto abraçada a três bonecas de porcelana,
e vestida com um dos vestidos de sua finada mãe, que guardava em seu grande baú
de lembranças e presentes. Seu Macêdo ao chegar de uma das Fazendas, mandou
matar o seu boi mais gordo, que estava confinado ali na sua casa, e exigiu uma
missa de corpo presente para Padre Antônio, uma homenagem à altura de uma das
filhas de Caxias mais católicas. O pedido não só foi atendido, como rezou
missas durante cinco anos em intenção de Matilde. Depois de um dia todo de
velório, Matilde Ramos de Macêdo foi enterrada no cemitério Municipal de Caxias,
Maranhão, no jazigo da família, ao lado de seu pai Frederico Ramos e sua mãe
Maria de Fátima Ramos. Nenhum filho esboçou tristeza, muito menos choro.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">III<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;">O CASAMENTO<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD7Cj6d42HP7kW0F6TMAEwIS-2DTeHkBypeGMA82XroQEyj5aiaut7yxICZut2kO-afg3SXdjJBHIDByS-xlx3FUy-we7jtdy04RWtVeZPRCtwY98PhRSJd86keq2Y2nr3UzI1/s1600/fotografia-antiga-casamento-noivos-e-familia-decada-20-D_NQ_NP_828140-MLB27231754779_042018-F.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="834" data-original-width="1200" height="277" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD7Cj6d42HP7kW0F6TMAEwIS-2DTeHkBypeGMA82XroQEyj5aiaut7yxICZut2kO-afg3SXdjJBHIDByS-xlx3FUy-we7jtdy04RWtVeZPRCtwY98PhRSJd86keq2Y2nr3UzI1/s400/fotografia-antiga-casamento-noivos-e-familia-decada-20-D_NQ_NP_828140-MLB27231754779_042018-F.jpg" width="400" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 36.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No
dia treze de maio de mil novecentos e vinte e oito, seu Macêdo convolou novas
núpcias com Maria Francisca da Silva, filha de um dos seus empregados em uma
das suas diversas fazendas da região de Caxias. Ele com seus quase cinquenta
anos, ela com seus quinze anos recém completados. Havia uma diferença abissal
entre os dois, somados ainda ao desprezo e desdém de suas filhas do casamento
com Matilde. De Diloca, a mais velha, tinha a completa indiferença, mais seria
do núcleo formado por Matildinha ,Nézia, Tunica, Preta e Dinorah , de onde
vinham as maiores críticas e galhofas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
casamento foi celebrado na grande casa mesmo. O padre Antônio daria só uma
benção, já que Macêdo já havia casado na igreja. O que não fez o grande
latifundiário economizar em nada. Organizou na Casa Grande uma festa para
trezentos convidados. E incumbiu a melhor amiga de Maria Francisca, Rosane, para
cuidar do vestido da noiva e dos doces e bolo. A ele coube cuidar do cardápio
regional, servido com muita cerveja e carne vermelha. As suas filhas, seu
Macêdo pediu que cuidassem da sua roupa, e que, encomendassem sapatos para os
noivos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tunica
fez questão de comprar um sapato Oxford preto por seu pai, e para Maria
Francisca um grande par de saltos Luis XV. Rosane não economizou ao contratar
as costureiras irmãs, Simone e Juliana, para fazerem o vestido de noiva de sua
amiga Maria, como também, as roupas de todos os filhos de seu Macêdo. Com
apenas três meses de antecedência, Simone a irmã mais sisuda e com mania de
organização, quis recusar os pedidos alegando pouco tempo, mas foi logo
convencida pela risonha e trabalhadora irmã Juliana. Para ela não havia tempo
ruim, e era vista rindo até em velórios, e não seriam um vestido de noiva e
mais dez roupas que iriam tirar seu sono.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
semanas que antecederam o casamento foram divertidas para as filhas de Macêdo,
se divertiam com cada prova de roupa e se amontoavam para olhar Maria Francisca
andando de salto alto. Suas pernas abertas e desconexa entre o primeiro e
segundo paço, tiravam toda a elegância do vestido desenhado por Simone e
Costurado por Juliana. Odília não ria, apenas mal dizia o pai por “substituir”
sua mãe por tamanha aberração, que além de ser trinta e pouco anos mais nova, era
segundo a mais velha dos Ramos de Macêdo, uma pessoa indigna de conviver com a
família e ou tomar o lugar da sua finada mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um
mês antes do casório, Rosane teve a difícil missão de treinar sua amiga noiva,
com os saltos que ganhara de sua enteada Tunica. Rosane até tentava, mas Maria
Francisca não conseguia se acostumar a andar com saltos. As vezes era
desengonçada até com sandálias rasteiras, o que fazia a diversão de todas as
meninas do seu Macêdo, que ao final da tarde se trancavam em um dos quartos da
extensa casa, para promoverem concurso da melhor imitação da “caipira do
papai”. Cada uma caprichava nas imitações, o que acabava gerando uma sinfonia
de risos, gargalhadas e gritos, interrompidos sempre com alguma empregada servindo
lanches ou religiosamente pela chegada do patriarca da família.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
casamento com a benção de Padre Antônio aconteceu sem muitas surpresas, exceto
por Nézia ter sido protagonista de um episódio no mínimo curioso: um dia antes
do casamento, a mesma acariciou os dois bois que estavam separados para o abate
para a festa. Segundo testemunhos de mais de cinco trabalhadores, os mesmos
caíram imediatamente soltando uma baba espessa e amarelada, para logo depois
morrerem. A partir desse episódio seu Macêdo a proibiu, de pisar no Matadouro
daquela ou de qualquer fazenda de sua propriedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
comentário quase unanime sobre a festa, era de que o bolo e os doces estavam
deliciosos. Macêdo agradeceu a Rosane pela feliz escolha da doceira predileta
da sua finada esposa, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a Moise. </b>Que
além de ter a mão certa para fazer diversas guloseimas na cidade, era ainda,
uma excelente confeiteira, fato comprovado pela decoração do bolo de três
andares da festa. Nesse dia não faltaram comida e nem bebida, tudo foi muito
farto e com uma ampla quantidade de empregados servindo. Rafael, o Macedinho,
era o mais empolgado, dançando inclusive, com as empregadas da fazenda,
afugentando sua habitual timidez depois de alguns goles de cachaça fabricados
na própria fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tunica,
Preta e Didi eram só sorrisos e se divertiram bastante também, inclusive foram
as únicas que não controlaram o riso, ao verem Maria Francisca caminhar em
direção ao mine altar improvisado, para a benção do Padre Antônio. A noiva não
conseguiu, mesmo com a ajuda exaustiva de sua melhor amiga Rosane, fazer as
pazes com os saltos. Andava toda torta, e muitos até comentaram que abrira tanto
as pernas, que mais parecia um alicate. Nézia observou inclusive, que seus
movimentos tortos, com o salto que sua irmã Tunica havia escolhido a dedo,
fizeram até a rasgar um pouco o belo vestido de noiva, desenhado e costurado
pelas irmãs Simone e Juliana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
festa foi um sucesso, mesmo com os tropeços da bela e jovem noiva com o seu já
cansado e rústico esposo Macêdo. O casal inclusive, se atreveu a dançar um
maxixe já bem alterados pelos goles de tiquira e licor de jenipapo servidos na
festa. Da união de Maria Francisca e Macêdo nasceram mais cinco filhas para o
patriarca: o Macedão, o nariz de fole, o rabugento, como era chamado por suas
filhas mais novas; <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Roseni, Liane</b>, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Maria Edite</b>, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Maria de Lourdes</b> e <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ivani</b>.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foi
um casamento que durou até mil novecentos e cinquenta e cinco, ano da morte de
seu Macêdo. O patriarca já sem muitos bens e completamente alheio ao novo
comércio da cidade, tinha se desfeito de suas plantações de carnaúba, herdadas
do seu sogro português Frederico Ramos. Do patrimônio restavam “apenas” sete
fazendas, alguns sítios com quedas d’água e dez mil cabeças de gado. Todos na
região e ou cidade de Caxias. Havia deixado sobre a responsabilidade do seu
Genro Castelo, bancário casado com sua filha Francisca (a sua Chiquinha), a
árdua missão da divisão de todos os bens para sua enorme família.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eram quinze filhas, já que Macedinho sumira do
mapa depois da revolução de trinta. Não deu mais notícias, alguns até o tinham como herói da guerra de Getúlio Vargas, outros como um mulherengo inveterado
que se enrabichou por uma trapezista de circo, ou por fim, diziam até, que o
mesmo fez foi fugir de suas nove irmãs, e da pressão que seu pai fazia para
entender de comércio. Sumiu de fato, o que fez Castelo exclui-lo da divisão,
fato que nunca fora cobrado por nenhum eventual herdeiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Maria
Francisca virou, entre os netos de suas enteadas, sinônimo para mulher que não
sabe andar de salto alto, ou como diria Diloca, a mais velha filha de Macêdo e
Matilde, exemplo de mulher sem classe e destreza. O mais irônico é que foram as
filhas de Maria Francisca, que socorreram as irmãs mais velhas, quando do
desabamento da Mansão das Macêdos, na extinta rua Conselheiro Sinval no centro
de Caxias; presente do pai para as filhas solteiras:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tunica, Raé, Preta e Didi, e mais tarde lar para
as desquitadas Nézia ,Matildinha e Diloca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foram
amparadas e divididas para morar de forma provisória nas casas de Liane, Maria
Edite, Maria de Lourdes e Ivani, que falaram, por ocasião de um jantar onde
todas estavam reunidas, de forma jocosa e descontraída, mas desprovida de
qualquer maldade, em um humor quase inocente, que as filhas de Maria Francisca,
que odiava saltos e adorava andar descalça pelos caminhos da fazenda; haviam
salvado as suas irmãs portuguesas. A constatação repetida de forma mais alta
por Roseni, foi o motivo certeiro, para naquele jantar regado a tortas de
bacalhau e muito vinho português, as irmãs e seus filhos levantassem a taça e
brindassem juntos, em um viva a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Maria do
Vovô.</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpd9f3eLb9yYeWMcxihHZ4OBQaHIFaRT9ILdN5iVEmQ83vUDtmPOFJWH8BESomEmZTOsL84rOm-mHl_mJRLW57I98QWUokg6sJp34ZSQQ3GQMGcXECF-A0sijSTqiqKkbRJWdb/s1600/Pedro-da-costa_pintura_no_casamento_ao_vivo_5.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1218" data-original-width="1596" height="305" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpd9f3eLb9yYeWMcxihHZ4OBQaHIFaRT9ILdN5iVEmQ83vUDtmPOFJWH8BESomEmZTOsL84rOm-mHl_mJRLW57I98QWUokg6sJp34ZSQQ3GQMGcXECF-A0sijSTqiqKkbRJWdb/s400/Pedro-da-costa_pintura_no_casamento_ao_vivo_5.png" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 36pt; line-height: 51.36px;">FIM<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-91913388604072566342019-03-09T12:34:00.004-02:002019-08-05T18:48:54.676-02:00A MULHER DO LAURO<br />
<br />
<i><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></i>
<i><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Da série "Relicário de Lembranças"</span></i><br />
<i><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span></i>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRWJ7h7QrETsbfiIgacnpBEBAomDqyPOyTYxhqBmcaHpVTcgSz1qoc509qroKKO4SOVmM6rEkMuy0xCxwOXo4doURtFOI1s6DskIZXsKV085weC4KtZsF6CCNGy9BgE0ISTF1F/s1600/mondigliani.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1124" data-original-width="880" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRWJ7h7QrETsbfiIgacnpBEBAomDqyPOyTYxhqBmcaHpVTcgSz1qoc509qroKKO4SOVmM6rEkMuy0xCxwOXo4doURtFOI1s6DskIZXsKV085weC4KtZsF6CCNGy9BgE0ISTF1F/s400/mondigliani.jpg" width="312" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">A MULHER DO LAURO<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">I<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">Nossa senhora me dê a
mão, cuida do meu coração.<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era
dezembro de 1948, o município de Caxias no Maranhão estava em plena estiagem ou
brobó, como assim chamavam os moradores. Era um período de altas temperaturas
em todo Estado. Lauro era um coletor fiscal recém empossado, e andava por
aquela região montanhosa, cheia de buritis, carnaúbas e bacuris. Era um
trabalho insalubre, sempre com estradas nem sempre asfaltadas e com muito,
muito calor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chegar
em Caxias aquele mês era alívio. Uma das maiores cidades do Estado, tinha todas
a benesses, que um viajante como Lauro, gostaria de ter: um hotel confortável e
principalmente um bom restaurante. A cidade vivia os anos de ouro do então
prefeito Eugênio Barros, futuro Governador do Maranhão. Sua chegada coincidiu
ainda, com os festejos de Nossa Senhora da Conceição, Santa que dava o nome da
Igreja da Matriz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
festa atraia muitos devotos, transeuntes de toda região, assim como, da
baixada, dos vales do Mearim e Pindaré, e até das capitais do Maranhão e Piauí:
São Luis e Teresina. Lauro chegou a tempo da missa das 18:00 horas, como bom
devoto foi logo agradecendo a Nossa Senhora da Conceição pela proteção dos
perigos do ofício da sua profissão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foi
logo na saída da missa noturna, que Lauro olhou <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Maria do Socorro</b>; era bem branca (uma palidez que aumentava seu
charme) com um rosto quadrado, olhos castanhos escuros e cabelos longos e
lisos. Ela estava acompanhada de sua Mãe, dona <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Maria do Carmo</b> e do seu pai, seu <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">José de Ribamar</b>, sendo os dois de famílias tradicionais da cidade
de Caxias. Seu José Ribamar era um grande comerciante de secos e molhados de
toda região, e ainda, um entusiasta exportador de carnaúba, segundo o mesmo, o
ouro de Caxias e todo o sul do Maranhão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
sentou na barraca próxima onde Maria do Socorro e sua família sentaram. Ela era
a filha mais nova, e única mulher, de uma família de cinco filhos, os outros
quatro meninos, que não foram à Missa das 18:00 horas: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Jose Ribamar Filho, Aluísio, Pedro e Hélio</b>. O coletor se deliciava
com uma gostosa torta de camarão seco e uma cerveja, enquanto olhava
discretamente para a mesa de Maria do Socorro. Ela mesmo, já havia percebido as
leves investidas do olhar de Lauro para sua mesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
já estava quase estabelecendo uma comunicação visual como Maria do Socorro,
quando foi interrompido por Helder, uma dessas figuras simpáticas e caricatas
do interior. Sem profissão certa, às vezes vigilante, às vezes lavador de
carros estacionados na praça. Um combona piauiense que sabia tudo da cidade.
Muito observador, tratou logo de dizer que a menina era o xodó da família e que
seu Riba, o pai, era muito zeloso com sua filha única. Disse também, para um
atento Lauro que buscava saber mais e mais informações, que Maria do Socorro
saia muito pouco e só era vista nos festejos da igreja católica:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do padroeiro da cidade, São José, da semana
santa e de nossa Senhora da Conceição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dona
Maria do Carmo, a mãe, era uma devota agradecida por alcançar uma benção feita
para sua filha; que Helder com sua barriga proeminente e bermuda acima do
umbigo, não conseguiu dizer qual. Lauro estava tão entretido com a narrativa do
simpático morador, que perdeu de vista sua nova musa. Aquietou-se ao vê-la
novamente no início da rua, já com uma roupa diferente da que vira na Missa.
Trocaram novamente olhares, antes de Maria do Socorro sentar-se à mesa com sua
família, e ficar olhando fixamente para sua mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Já
passava das 23:00 horas, quando Lauro e Helder já estavam na décima cerveja.
Animados pelos papos sobre a profissão de Coletor, e dos causos da cidade de
Caxias, os dois foram interrompidos, assim como, o forró puxado pelo sanfoneiro
Apolônio Viana, para o pronunciamento do prefeito Eugênio Barros, conhecido na
cidade por seus belos discursos e pela pronuncia impecável da língua
portuguesa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Logo
após o belo discurso do prefeito, Padre Eurico fez as honras da festa, e
anunciou o leilão de galetos para ajudar nas obras da Igreja. Helder, com a
cara vermelha de tanta ingestão de álcool, tratou logo de convencer Lauro a
arrematar um dos galetos, e oferecer à família de Maria do Socorro. Sugestão
aceita pelo Coletor Fiscal, que travou uma disputa justa com o fazendeiro
Macêdo. A cada lance ofertado por um, era dobrado pelo outro e assim foi até o preço
do galeto se aproximar ao valor de vinte do mesmo. Quem sorria abertamente, era
Padre Eurico que nunca viu uma ave assada ajudar tanto em uma obra paroquial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seu
Macêdo recuou, deixando suas filhas apreensivas e com fome. Ele tratou de
aclama-las, e disse que os três últimos seriam arrematados por ele, em um valor
menor do que o afoito Coletor havia arrematado o primeiro. Padre Eurico pediu
aplausos ao vencedor, e fui surpreendido por Helder, que tratou de agarrar o
microfone, e falar de forma firme e bem alta, que o galeto seria oferecido para
a Família ilustre de seu José de Ribamar e dona Maria do Carmo. E não contente
ainda, disse que o nobre Coletor Lauro, oferecia especialmente para a linda,
pura e discreta filha do casal. Helder se despediu saldando Nossa senhora da
Conceição, com seu José de Ribamar agradecendo o “nobre” galeto, com risos dos
quatros irmãos e Maria do Socorro olhando fixamente para sua mãe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></b><b style="text-indent: 70.9pt;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">I I<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">Enquanto a chama arder<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">Todo dia te ver passar<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
mês de dezembro de 1949 ficou marcado na vida de Lauro, tanto pelas amizades
que fez em Caxias, quanto pela imagem que ele levou daquela menina tímida e
recatada. Maria do Socorro ficara na sua cabeça, ao ponto de somatizar o fato
de nunca mais vê-la. "Encucou" tanto com a ideia de voltar a cidade, que
solicitou férias para março. Estava disposto a passar os festejos do padroeiro
da cidade, São José, para tentar enfim conversar com sua musa de tez assustada
e esbranquiçada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
ano de 1950 ficou na lembrança de qualquer caxiense, pelos grandes festejos de
São José. O então prefeito Eugênio Barros, estava usando todo seu prestígio de
bom administrador, para galgar o cargo de Governador do Estado do Maranhão. A
festa do padroeiro da cidade era o pretexto ideal para, de forma indireta, fazer
do evento um grande palanque; e assim o fez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
chegou na segunda quinzena do mês de março, e ficou na pensão de Dona Susana,
uma índia meio sisuda, especialista em peixe no forno com arroz de cuxá. A
pensão, simples e organizada, também ficava na mesma rua da Igreja de São José
e da praça Cândido Mendes, onde aconteciam os festejos. Outra boa coincidência,
pode-se dizer também esperteza, a casa de Maria do Socorro ficava bem próximo
da pensão, na rua Aarão Reis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
festejos começavam desde segunda-feira, mas era na sexta-feira onde todos
faziam questão de ir à Praça. Toda a sociedade Caxiense, empresários
comerciantes e fazendeiros, políticos de toda região, eclesiásticos, além
claro, de boa parte da população da cidade, que aproveitavam para dançar, comer
e se divertir nas diversas barracas com seus atrativos, espalhadas pela praça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
convidou Helder para beberem no Boteco ao lado da pensão, no finalzinho da
tarde, para acompanharem a movimentação para o início dos festejos, logo após a
tradicional missa das 18:00 horas. E lá estavam os dois na sua quarta ou quinta
cerveja, quando Maria do Socorro passou bem maquiada e com um vestido um tanto
quanto brilhoso para o horário ou ocasião. Passou em direção da sua casa, para
logo após uns vinte minutos, passar com outra roupa, bem mais simples e sem
maquiagem; e assim o fez durante duas horas, indo e voltando alternando roupas
e maquiagens, batons mais claros, outras bem chamativos e sempre com um olhar
altivo e fixado em um ponto imaginário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Helder,
com seu humor peculiar e já calibrado pelas 18 cervejas bebidas em menos de
três horas, tratou logo de alertar Lauro, para que preparasse o bolso para
comprar tanta roupa e maquiagem para a digníssima dama caxiense. Lauro riu,
porem disse, que seria uma honra convolar núpcias com uma mulher tão bonita e
charmosa. Já passavam das 19:30 horas, quando os dois se despediram e
combinaram de se encontrar próximo à entrada da igreja de São José por volta
das 20:30 horas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
se distraiu esperando por Helder, na porta da Igreja de São José e Nossa
Senhora da Conceição. Estava ali parada olhando o movimento da praça, e
admirando o discurso apaixonado do ex governador Sebastião Archer para e pelo
prefeito Eugênio Barros. Seu estágio letárgico só foi interrompido por Helder,
que estava risonho e animado, pois o desengonçado e prestativo amigo ,estava
com a missão de levar o coletor Lauro à mesa da família de Maria do Socorro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lauro
resistiu um pouco, mas fora convencido por Helder a ser levado, a pedido de seu
José de Ribamar, para conhecer toda a família. Tratou logo de tomar duas doses
de fogo paulista , e comer dois crocantes torresmos da barraca de dona
Georgina, simpática albina quituteira da cidade. E lá foram, ao som dos
aplausos para o discurso do então prefeito Eugênio Barros, Helder e Lauro , e se
dirigiram àquela que seria a mesa da família de Maria do Socorro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Seu José de Ribamar era só sorrisos, um pouco
estranho para um homem que vivia sisudo, e sempre aromatizando com seu charuto.
Era conhecido por seus arroubos de ignorância, com sua doce mulher Maria do
Carmo, e também, por não nutrir empatia algum por nenhum filho. Mas era
conhecido por sua predileção por Maria do socorro. Sempre foi visto passeando com
ela desde de criança no seu <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Ford Coupé,
e gostava de mimá-la com todo tipo de presentes: era famoso por ter prazer de
comprar sempre as roupas e maquiagens da moda. Pois era esse homem, que ali
estava rindo e apertando forte a mão de Lauro, como se o conhecesse há tempos,
ou ainda, como se fosse o genro ideal para ele e sua doce esposa Maria do
Carmo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando
Padre Eurico vendeu o ultimo galeto para seu José de Ribamar, depois dos outros
nove terem sido arrecadados por seu Macedo e sua extensa família , Helder , já
tomando de pouco mais de vinte cervejas e alguns goles de cachaça de caju do
Piauí , tratou de tomar o microfone do padre Eurico, e gritou , como se sem
microfone estivesse, que aquele galeto arrecadado por mais de quatro vezes o
valor de compra, era por assim dizer, uma oferta a São José e Nossa Senhora da
Conceição para abençoar o mais novo casal: O coletor e a menina de seu José de
Ribamar. Era uma benção eles se aproximarem, continuava Helder sobre o olhar
reprovador de Padre Eurico, entre dois festejos dos santos dessa paróquia. E
terminou pedindo um viva aos noivos, e exclamando logo após findarem os tímidos
aplausos, um <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“gloria vós senhor!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><span style="text-indent: 70.9pt;"> </span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">I I I<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;">Isn't It A Pity ?<u style="text-underline: words;"><o:p></o:p></u></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "algerian"; font-size: 22.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
porta da casa velha, sempre se sentava uma senhora que era a diversão dos
meninos que ali passavam e brincavam na rua. Eles paravam de jogar “travinho”
com uma bola dente de leita surrada e suja, para ver aquela senhora de quase
sessenta anos, mas que aparentava muito mais, entrar em casa , trocar de roupa e
voltar desfilando na varanda da sua carcomida casa. Ali, que já fora um Bagalô
dos mais belos e tradicionais da cidade, era hoje uma casa onde habitava Maria
do Socorro e mais duas empregadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Helder
sempre aparecia para dispersar as crianças, que ali paravam e galhofavam da
senhora idosa. Ela, vivendo em seu mundo particular, alheia a qualquer maldade,
parecia usar aquelas nem tão ingênuas crianças para seu público: era evidente
sua alegria ao ir e vir com roupas e maquiagens diferentes, em um espaço de
menos de vinte minutos. Parecia tão alheia a qualquer outra realidade do mundo,
que era nítida sua pureza e ingenuidade, fato que irritava ainda mais Helder,
diante de todos que ali paravam para rir ou até mesmo xingá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ele
correia até dispersar, e quase sempre ameaçava dizer aos pais, mesmo que nem
conhecesse sequer a procedência de muitos que ali passavam, ou até mesmo chamar
o delegado, que enfim dizia ser muito amigo, e que poderia dar cadeia perturbar
a vida daquela senhora ou de qualquer cidadão que fosse. Por fim sentava no famoso boteco da Luciana, ou simplesmente Lu. Famosa por seus assados com
batata e a cerveja gelada. Era quase um guardião dali,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meio que um ancião adotado, que vivia de
favores nos quartos do fundo do bar, em troca de comida e por as vezes, levar alguns
clientes que iam visitar a igreja de São José e Nossa Senhora da Conceição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim
Helder ia passando seus dias, mas volta e meia se pegava falando sozinho e
lembrando a história de Lauro e sua mulher. Cismava em balbuciar na tarde
ensolarada e vazia daquela rua, que só costuma ter movimento quando alunos de
diversas escolas voltavam para casa, ou de trabalhadores cansados da labuta
para esquecer um pouco o dia, que ali sentavam para beber o que Lu tinha de
melhor para oferecer: sua cerveja gelada. E era a dona do Bar que provocava
Helder a sempre contar a história da mulher do Lauro, pois as vezes, ele se
mantinha em um estágio tão letárgico ,que era necessário faze-lo interagir<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>com todos do bar, e esse caso era o impulso
necessário para garantir quase que duas horas de uma história repleta de
suspense e drama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
coincidência, nesse mesmo dia de arruaça dos pretensos jogadores infantis de futebol,
um jovem jornalista estava sentado no bar e indagou Helder sobre a história
daquela senhora , vestida com roupas da década de sessenta e setenta, que ele
tanto protegia. A dona do Bar , já foi logo provocando e dizendo que havia aparecido
a chance Helder brilhar no relato do caso. Helder, no auge dos seus sessenta e
cinco anos, tratou logo de pedir seu preço: cerveja enquanto durasse o relato,
e iscas de alcatra temperadas com muito coentro, cominho e pimenta do reino. A
iguaria era uma das especialidades da Lu, que abriu aquele sorriso para seu
amigo de bar e figura já tombada na cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
jornalista André tratou logo de pedir duas cervejas bem geladas e, além do
pedido de Helder, mandou vir o famoso assado desfiado com batatas da Lu. Depois
de dois grandes goles de cerveja, Helder começou o relato descrevendo todo o
início da amizade com Lauro, a importância dos festejos de São José e Nossa
Senhora da Conceição, para o encontro dele com Maria Socorro. Descrevia tudo
com tanto esmero, que era impossível não sair do relato com pelo menos uma
pequena dúvida, de que toda aquela estória não seria de fato uma história da
cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
medida que Helder continuava a história, aumentava a conta de André. O mesmo
não se contentou apenas com dois pratos de aperitivos, e dizia ser o maior caso
de amor e tragédia de Caxias, merecendo, portanto, ficar bem alimentado e
calibrado. Depois de mais um caldo de ovos e uma grande porção de frango a
passarinho fritados no azeite de côco, Helder disse que o noivado de Lauro e
Maria do Socorro não demorou dois meses, e que eles se casaram nos festejos
juninos, mas especificamente no dia de São João, vinte e quatro de junho de 1950.
Um casamento com muita pompa, que parou a região. O prefeito Eugênio Barros fora
um dos padrinhos dentre as duas dúzias de personalidades da sociedade da
cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Parecia
um conto de fadas, que logo na noite de núpcias desmoronaria: Lauro, compareceu
ao cartório logo no dia seguinte para pedir que o casamento fosse anulado. Um
escândalo para a cidade. Logo depois se dirigiu a paróquia e contou tudo ao
Padre Eurico. A notícia logo se espalharia muito rápida por todos os bairros da
cidade, mesmo antes de Lauro sair da Igreja e se dirigir ao comercio de seu
José de Ribamar. Ao contar para padre Eurico, ele também o fez para todas as
carolas, que ali estavam para a reunião dos festejos de São Pedro. Dona Gigi,
que era uma delas, tratou logo de dizer que ele estava certo, porque para ela
aquela menina sempre foi avoada demais. Não daria certo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
cidade que ainda comentava a grande festa do casamento, onde os fotógrafos nem
tinham ainda revelado as fotos do casório, onde os músicos sanfoneiros Apolônio
e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Hipólito, ainda curtiam a ressaca na
pensão da Dona Susana, e ainda, se ouvia o barulho de engradados de bebidas vazios
sendo recolhidos no clube municipal , teve que driblar a ressaca para entender
o escândalo que o casamento de Lauro e Maria do Socorro causara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">André
se impressionara como o entusiasmo de Helder era proporcional ao apetite para
comer e beber. Tratou de pedir uma porção de coração de galinha, parando a
cerveja e pedindo uma rodada saidera de cachaça de caju, em uma singela
homenagem para o pretenso contador piauiense de “causos” da cidade. Helder se
entupia de farofa e coração de galinha todavia, tinha fôlego para dizer que
Lauro em sua noite de núpcias em sua bela casa, presente dos pais de Maria do
Socorro, teve a paciência de aguardar Maria do Socorro se preparar naquela
noite. Aguardara, mesmo que um pouco bêbado, depois da sua grandiosa festa de
casamento. Após ter a bela visão de sua esposa, vestindo uma linda camisola
vermelha e uma maquiagem que realçava seu belo rosto, achou que valeu toda
longa espera. Maria do Socorro se aproximou dando-lhe um beijo na testa, e
tratou logo de sair do quarto correndo e sorrindo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim
o fez, durante quase toda noite, e segundo relatos de algumas beatas da cidade,
Lauro havia dito a Padre Eurico que foram mais de cinquenta camisolas trocadas
e sempre com uma novidade na maquiagem. Há quem diga que ela se mostrou até com
vestido de noite, e ousou até em colocar um espartilho com um belíssimo
corselet preto. Vestia-se e despia-se com uma facilidade de quem treinara a
vida toda, dos seus pouco mais de dezessete anos. Lauro tentou beija-la e só
conseguia um sorriso quase infantil seguindo de um “espera já volto”. E foi
assim a noite toda, até Lauro esgotar-se e dormir, acordando vez ou outra, com
uma incansável Maria do Socorro desfilando pelo quarto do casal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Helder
disse que seu José de Ribamar aceitou resignado sua filha “ser devolvida”,
ainda mais com juramento de Lauro de que o casamento não havia sido consumado.
Lauro tratou de seguir sua vida de coletor, e dizem que casou e teve filhos lá pelas
bandas do Vale do Pindaré, não sabendo ao certo a cidade, e que, muito provável
tenha se estabelecido em Santa Inês do Maranhão. Já a família de Maria do
Socorro entrou em desgraça: a primeira a morrer foi dona Maria do Carmo, aquela
santa, fiel esposa e mãe se apegou a um luto tão forte, que mal se via nas
missas matinais de domingo. Morreu uns cinco anos depois, dizem que fora
consumida pela diabetes, assim como, fala-se que dona Maria do Carmo, mesmo
sabendo do diagnóstico, era uma voraz consumidora de doce de buriti, uma
iguaria muito comum em Caxias, o que com certeza acelerou sua morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seu
José de Ribamar manteve-se firme e sisudo, após a viuvez não casou novamente, teve
breves casos com umas três ou quatro meninas mais novas, namoros frívolos,
rápidos e sem um compromisso oficial. Tratou, até sua morte no final da década
de oitenta, de cuidar de sua filha, passando todos os seus bens a ela e fixando
uma pensão para dependentes financeiros. Ignorou seus filhos e travou uma briga,
que teve até certo ponto teve um desfecho irônico: enquanto seus filhos se
preocupavam com a morte do pai e seus bens, todos faleceram antes de seu José
de Ribamar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Helder
interrompeu o relato, para colocar palito entre os dentes e beber uma cajuína
gelada. Dizia que aquele era o segredo de nunca o terem visto dando vexame na
cidade, pois aquela bebida de calda de caju cortava todo o efeito do álcool e
até de receber santo. Terminou agradecendo a André, e dizendo que sentia falta
do amigo que desde o episódio de seu casamento, tratou de tirar Caxias do mapa
da sua vida. E ele falava com uma entonação menor, que seu amigo estava certo.
Saia sempre do bar e se dirigia aos fundos da casa, onde iria descansar para
ver o jornal das oito. Agradecia a quem pagava e se ocupava com seu caso, e
também, agradecia a Lu pela comida e moradia e finalizava agradecendo ao
falecido Eugenio Barros, que segundo Helder, foi o maior governador que o
Maranhão já teve, como foi o maior prefeito da cidade de Caxias. E que fora o
Governador que conseguiu um emprego na prefeitura, que rendeu a ele, uma pequena
aposentadoria. E foi seu Eugênio também, finalizava o glutão piauiense, a
testemunha mais nobre do caso conhecido como <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A MULHER DO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>LAURO”</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 36.0pt; line-height: 107%;">FIM<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-32124979450225038722019-02-04T16:24:00.003-02:002019-06-01T18:20:01.706-02:00A VIDA EXTRA - ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIPzIWHv3W1Mgefivm4LTHV3zKCcMuLM8doNju_GYpyS7vnE3-b95Jy4CZeUVYF9so_G-U4wuEdMisbt63M906X_tXR83f5CO-R-DYVwG-p-r3XhCvhqYb18b2x9qaQkFp9a9-/s1600/filmes_12942_pvida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="543" data-original-width="370" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIPzIWHv3W1Mgefivm4LTHV3zKCcMuLM8doNju_GYpyS7vnE3-b95Jy4CZeUVYF9so_G-U4wuEdMisbt63M906X_tXR83f5CO-R-DYVwG-p-r3XhCvhqYb18b2x9qaQkFp9a9-/s320/filmes_12942_pvida.jpg" width="218" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: large;">É certeiro: o segredo de um bom documentário, é ter um tema com “apelo”. A vida de Tarso de Castro tem de sobra: fundador do Pasquim e outros tantos semanários e colunas de jornais, amigo e inimigo de outros “grandes”, um revolucionário da crônica, um cara que viveu todas as paixões de uma forma bem visceral. Você pode nem saber quem foi ele, mas após essa documentário, no mínimo vai querer procurar algo da sua obra. Tá no Google Play , indico...</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "segoe ui" , "roboto" , "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span><br />
<div>
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;"><br /></span></div>
</div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-63205792179891397572019-01-15T15:05:00.000-02:002019-01-15T15:06:10.128-02:00 INTERROGATÓRIO<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;">INTERROGATÓRIO</span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFbZ3tpMS9pcRb0LvIIBGdwq0FCEecaUsSQhl5iet4sF2P6emTfO-wqRZhuyOfTAkBYD4GuvsMTEx0upnMLXLRejwBl0Bp3uNepM00KlF9Nvzz_o6S01uIdPQtyCfIyotFlwh-/s1600/BRUXA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="490" data-original-width="736" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFbZ3tpMS9pcRb0LvIIBGdwq0FCEecaUsSQhl5iet4sF2P6emTfO-wqRZhuyOfTAkBYD4GuvsMTEx0upnMLXLRejwBl0Bp3uNepM00KlF9Nvzz_o6S01uIdPQtyCfIyotFlwh-/s400/BRUXA.jpg" width="400" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Cada coisa em seu
lugar:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">A primeira? te amar!!<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Cada verso com sua
cor:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O que pincelo? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o amor...<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Com teu nome posso
brincar:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Amoi, amoisão ...<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O que não quero? Sofreguidão.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O infinito posso
mirar:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O que não finda? Nossa
paixão!!</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAWI1DkLndSaCe-HtgN9z0KPGFXGVHD0W94X-OujnT-IC7ZQIIr9696lRIDy8tapIA2j3kT801Fcp2svy5adrTJu4PaEtjH5QnXb_lQd6OXQj_6MB-zuIi3MENzUMVupR6Bno5/s1600/bruxa+dois.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="749" data-original-width="500" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAWI1DkLndSaCe-HtgN9z0KPGFXGVHD0W94X-OujnT-IC7ZQIIr9696lRIDy8tapIA2j3kT801Fcp2svy5adrTJu4PaEtjH5QnXb_lQd6OXQj_6MB-zuIi3MENzUMVupR6Bno5/s400/bruxa+dois.jpg" width="266" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></span></div>
</div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-91965373636969470042018-12-03T16:45:00.000-02:002019-03-09T12:35:20.664-02:0031 DE JULHO OU SUCESSO EM QUALQUER LUGAR<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>31 DE JULHO OU SUCESSO EM QUALQUER LUGAR</b><o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b><br /></b></span>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIfjkJ6Xms52D_c4V4UzC9OiHRcD1vWvp7sikpihfpwcIPIorp4tQNEdDB1NwA_TOyycjnwbt82L9hyJaInKz-TytyR1DFw6Jvc8oNBcThKTanoZfUaTH9snOjsgA_XKKvLI0X/s1600/armazem+paraiba.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIfjkJ6Xms52D_c4V4UzC9OiHRcD1vWvp7sikpihfpwcIPIorp4tQNEdDB1NwA_TOyycjnwbt82L9hyJaInKz-TytyR1DFw6Jvc8oNBcThKTanoZfUaTH9snOjsgA_XKKvLI0X/s1600/armazem+paraiba.png" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"> Da<i>s memórias do meu pai II ...</i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Santa Inês pela sua localização privilegiada,
um dos eixos rodoviários do Estado do Maranhão, teve o privilégio de ser uma
das sedes de um dos maiores Armazéns do Nordeste. Conhecido por seu comércio
aquecido e diversificado, a cidade no final da década de setenta e começo de
oitenta, viveu um grande crescimento e impulsionou quem nela investiu. O
conhecido Armazém, com origens na década de trinta no Rio Grande do Norte,
começou na esquina da rua do Comércio com a rua Nova, criando até um ponto de
telespectadores envolta das televisões exposta na loja.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sempre foi uma referência de grande comércio
de eletrodomésticos, tecidos, roupas , assim como, sempre possuiu uma vasta
linha de crediário que fazia realizar o sonho de muitas famílias de realizarem
o sonho de ter uma televisão, uma geladeira e outros eletrônicos que permeavam
o sonho da classe trabalhadora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trinta um de julho é o aniversário do grande
Armazém na nossa cidade, uma data ou melhor um mês que não passa desapercebido:
promoções, brindes, sorteios, ajudavam e ainda ajudam a aquecer nosso comércio
de uma forma em geral. No dia específico, o Armazém, sempre preparou uma grande
festa, que marcou gerações em Santa Inês. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lembro-me especificamente de um ano, 1982,
onde a grande rede de comércio caprichou na comemoração do seu aniversário na
cidade. Aliás, desse ano em específico, ouvi de alguns amigos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>diversas “causos” que sempre guardaram na
memória : <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o carro de som, foguetório,
avião monomotor jogando bolas e cartazes, “queimão” de televisões , geladeiras,
fogão<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e tudo mais que o armazém vendia,
marcaram alguém do meu ciclo de amizade e ou vizinho da minha rua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para quem não está familiarizado, ou ainda,
não conhece e nunca ouviu falar do impacto do aniversário desse Armazém, é como
se fosse uma Black Friday em plena década de oitenta. O dia começava com um
insistente carro de som, estilo trio elétrico, tocando repetidamente parabéns
para você, em um coro de vozes beirando o insuportável, seguindo sempre de
fogos de artifícios(com tiros de 12 x1) lançados sobre a alvorada, acordando
meio que forçadamente, toda a cidade. Essa memória é quase que coletiva de
todas os meus vizinhos da Rua Nova: o parabéns mais barulhento do início da
manhã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seguidos dos parabéns, para alegria da criançada
e para desgraça das donas de casa, um monomotor sobrevoava a cidade jogando
brindes e cartazes com promoções. Sendo o brinde, em sua maioria, bolas
amarelas com o logo característico da loja. As famosas bolas eram jogadas aos
kilos por toda a cidade, transformando o início da manhã em uma correria de
crianças, adolescentes e até adultos, que disputavam quem conseguia pegar mais desse
brinquedo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As donas de casa, além de zelarem pelo seu
quintal espantando, ou até mesmo xingando, o bando de crianças sedentas por uma
bola, tinham que se preocupar com a limpeza dos quintais, pois as dez da manhã,
os mesmos já estavam lotados de papeis de propaganda, que formavam uma onda que
cobriam todo o quintal. Até hoje desconheço alguém que tenha encontrado um
cartaz premiado, conforme anunciava a rede de lojas aniversariante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A cidade já estava mais que despertada e
comemorativa, e mesmo quem não tivesse prestado atenção, no mês corrente do
aniversário do Armazém, já sabia que dia 31 de julho era aniversário dessa rede
de lojas. A rua do Comércio, onde a loja já em sua sede nova (na parte mais
central) , ficava intrafegável , com uma multidão de ávidos consumidores e
curiosos , onde bicicletas ,motos, carros e pedestre disputavam espaço, com
meninas e meninos trajados com um uniforme com o logo do Armazém; tudo ao som
de foguetes 12 x 1 e do potente trio elétrico, agora parado em frente à loja,
tocando insistentemente o parabéns para você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há quem lembre de ter provado o bolo, servido
até depois do almoço, com os últimos pedaços já derretidos de tanto calor. Há
quem lembre também, de ter participado de uma gincana (que não me recordo de
verdade se houve em algum ano), e como sempre uns que exageram em estórias das
festa de aniversário e confundem até com memórias de carnaval, natal, dia das
mães, e quase que rotina, com os eventos da quadra com o nome do Armazém.: que
sempre tinha torneios de futebol, evento do dias das crianças e pequenos shows.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O certo é que não só o aniversário do
Armazém, mas o simples fato da instalação da rede de comércio na cidade, ajudou
a impulsionar e consequentemente, tornar nossa querida Santa Inês em um grande
ponto de comércio da região do vale do Pindaré. Talvez 1982, tenha sido um ano
marco, para eu entender o quanto a cidade sabia que aquele Armazém, já era
sucesso em qualquer lugar.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-54666062861665689812018-11-02T14:43:00.001-02:002019-01-15T15:05:19.862-02:00VOLTAS PELO NOSSO MUNDO<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">VOLTAS PELO NOSSO
MUNDO<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">para Moiseane Tobias</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPArDZo7CEcQYkuRlnHSpDuvkGiURojFewwuoI6DAYl4oAQUXUnkrG0D-_1bb8fe8vgg4AzjfTKmeFhc75wkv-_by0Kc_c6Y0BaFXTUSuzph6GA0tHcyswT7bQ14V63XfPofAD/s1600/aliancas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="465" data-original-width="620" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPArDZo7CEcQYkuRlnHSpDuvkGiURojFewwuoI6DAYl4oAQUXUnkrG0D-_1bb8fe8vgg4AzjfTKmeFhc75wkv-_by0Kc_c6Y0BaFXTUSuzph6GA0tHcyswT7bQ14V63XfPofAD/s400/aliancas.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quero andar pelas
estradas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Junto com teus pés!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Tua mão aqui <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Com a minha...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Seja em São Paulo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Ou Tel Aviv<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Em muitos lugares <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Com você estive.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Olhos arregalados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Para as voltas que<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nossa vida deu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Em Paris ou Budapeste<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Meu coração é teu.<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: center;">
<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small; text-align: left; text-indent: 94.5333px;">©José Viana Filho</span></div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-71008339028514654162018-10-01T11:36:00.002-02:002018-10-09T16:44:58.676-02:00 MINHA DOCE RECEITA DE AMOR<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMBzIQQsK3Wkg4wpzln4ZCRLQkBHhNoIdMYDdoa9fNIIDGB3F1SykWhN_i6A3QZM1AsGBupxQoqbNkD50Fq5-rjEU95YQEdGOKH_8I4UoBlmdDRySjV88cMi5VIbkWpKsTTi7L/s1600/preso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="615" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMBzIQQsK3Wkg4wpzln4ZCRLQkBHhNoIdMYDdoa9fNIIDGB3F1SykWhN_i6A3QZM1AsGBupxQoqbNkD50Fq5-rjEU95YQEdGOKH_8I4UoBlmdDRySjV88cMi5VIbkWpKsTTi7L/s400/preso.jpg" width="400" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO I - Verão de
2001</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era quase impossível
imaginar que ele iria se acalmar. Foram quase seis carreiras de cocaína,
cheirados com intervalos de menos de trinta minutos. Encarcerada por quase seis
horas, Maria de Fátima se mostrava apreensiva. Trabalhando com o codinome de Polyana,
a atendente massagista e profissional do sexo, universitária de Direito, que se
dizia poliglota, não contestava em nada o monólogo de Sérgio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele falava sozinho, gesticulava e dava passos
apressados no quarto do hotel quatro estrelas da cidade. Olhava insistentemente
pela janela, abrindo de forma discreta a cortina. Saia e voltava, interrompendo
por idas ao banheiro, à medida que, cheirava mais uma carreira. Maria de
Fátima, a Polyana do anúncio, seminua com um body preto semitransparente, ficou
na cama e vez ou outra pedia para Sérgio se acalmar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Aos berros ele dizia que
aquilo não era forma dela ganhar dinheiro, que Deus tinha plano para ela, que
ele iria salva-la. E interrompia seus sermões, abrindo a carteira e jogando
cédulas de cem reais na direção da cara dela. Ele olhava fixamente nos olhos
dela, e se dirigiu ao telefone, arrancando a conexão da tomada. Ele disse
então, para ela jamais pensar em ligar para a recepção, nem tampouco usar o
celular.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era um dos verões mais quentes da cidade de
São Luís, interrompidos por diversos dilúvios durante o dia. Sérgio, já suava muito,
tanto pelo efeito da droga, como por sua movimentação excessiva do seu corpo acima
do peso. Segundo sua interpretação, um helicóptero sobrevoava o hotel, o que o
fez correr em direção a Maria de Fátima, esbofeteando-a e ao mesmo tempo
dizendo que ela tinha chamado a polícia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O seu surto só teve fim,
quando ele escorregou no banheiro, caindo pateticamente sobre seu braço. O seu
grito de dor, foi quase concomitante com o de pedido de socorro de Maria de
Fátima, pelos corredores do hotel quatro estrelas da Ilha do amor.</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO II - Outono de
2017</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O direct do Instagram de Mariana não parava de tocar. A chamada de um usuário
desconhecido, não despertou o interesse de atender. Mariana estava fazendo um
relativo sucesso na rede social, por exibir sempre fotos do seu corpo bem
malhado, e volta e meia fazer propaganda de sua loja de roupas finas e caras,
sendo ela, a modelo. Sérgio insistiu em ligar, e venceu Mariana pelo cansaço.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Ela atendeu e já disse que não o conhecia, ele desligou, e enviou quase
que instantaneamente sua foto da carteira de identidade. Ao ligar novamente
para Mariana, a mesma já foi bem mais receptiva, falando que o essencial em um
homem era o humor. Já abriu a guarda para Sérgio, e imediatamente se seguirem
no Instagram...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Três horas de ligação foi o
suficiente para falarem de tudo: vinhos, viagens, sonhos e o tipo de parceiro (a)
ideal para dividirem a vida. Sérgio só interrompia a conversa quando mandava
fotos da própria Mariana, capturadas do Instagram dela. Elogiava seu corpo, com
a mesma sede que fazia juras de amor. Galanteios baratos, que foram envolvendo
Mariana a ponto de marcarem o primeiro encontro horas após se conhecerem.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O bar pub escolhido era perfeito para um encontro romântico: piano bar,
uma excelente carta de vinhos e um cardápio ideal para um fim de tarde. Mariana
já estava encantada com a forma que Sérgio conversava sobre tudo. De filmes do
Scorsese, a arquitetura de Florença, da potência do motor dos carros de fórmula
1 aos títulos mais importantes do flamengo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Depois de três garrafas de um bom vinho tinto português, e uma rodada de Stek
tartar, risos, troca de carícias e olhares, Mariana aceitou namora-lo. Sérgio,
com uma euforia nitidamente forçada, gritou em alto e bom som para todos que
ali estavam que amava Mariana. Esforçou-se para escolher uma música para o
pianista tocar, porém com três tentativas negadas, desistiu olhando para
Mariana e recitando em capela uma dessas músicas sertanejas universitárias.
Mariana não pareceu envergonhada, agradeceu tamanho romantismo em pleno século
XXI, e nem se importou em pagar a conta sozinha, pois Sérgio não encontrou nada
em seus bolsos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO III - Inverno
de 2008</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio segurou o pescoço de Sandro e bateu com cabeça dele no vidro do
carro do seu, até então, amigo. Sandro sangrava e atordoado com a investida de
Sérgio, ficou sem reação até entender que se tratava de um assalto. Três homens
encapuzados, colocaram Sandro rapidamente no porta malas , com as mãos
amarradas de forma amadora e sem capuz.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sandro respirou fundo e tentou se acalmar para entender a real situação:
sequestrado, ferido e com seu dileto amigo sendo o arquiteto do crime. Da porta
malas , ele ouvia Sérgio dizer que o carro daria um bom dinheiro, e que se
pressionasse a vítima ainda teria direito a saques na conta e no cartão de
crédito. Ouviu ainda, a resposta que Sérgio deu aos parceiros do crime: que
teria que matar Sandro para não ser denunciado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sandro começou por fim a tentar se soltar, enquanto ouvia piadas e
estórias de quatro sequestradores seus. Pareciam se divertir e não entender que
tudo que se falava Sandro ouvia. Soube por exemplo que se dirigiam ao centro,
em direção ao centro histórico de São Luis. Lá tentariam ter a senha de Sandro,
efetuar o saque para depois mata-lo e desova-lo na lagoa do Bacanga.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O nó amador, que um dos parceiros de Sérgio dera, foi facilmente desatado
pela força que Sandro imprimiu nos punhos amarrados. Mesmo com uma forte dor de
cabeça, consequência direta da pancada no vidro do seu carro, ele ainda teve a
perspicácia de pegar uma chave de fenda solta no seu porta malas, conseguindo sem
muito esforço abri-lo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio era o mais animado no carro, sua voz ficava em destaque com seu
riso alto e meio desconexo para o momento. Os sequestradores falavam em
diversos assuntos: dos buracos da cidade ao jogo do campeonato brasileiro, do
mal que a tiquira faz ao tomar banho após bebê-la. Uma discussão inútil começou
para saber quem tinha mais títulos: Sampaio Correa ou Moto Clube. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
A discussão estava tão acalorada, que grande foi o susto dos quatro
amadores, ao perceber que Sandro fugia, e, aos berros, pedia ajuda pela Avenida<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Senador Vitorino Freire, próximo ao terminal
da Praia Grande. À medida que Sandro corria os quatro patéticos meliantes,
amantes de camarão seco com tiquira e futebol, aceleravam o carro, “desovando-o”
posteriormente o veículo e não seu dono, sem dinheiro ou qualquer prova de que
o crime compensou.</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO IV - Inverno
de 2018</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio fez questão de conhecer um restaurante caseiro de uma das melhores
amigas de Mariana. Falou que entendia de vinhos como ninguém, e desfilava sua
falsa sapiência etílica para a admiração cada vez maior de Mariana. Foram em
uma sexta feira, que aliás, sua amiga Flora fazia questão dos amigos irem: uma
música ao vivo estilo MPB violão, e um cardápio variado de peixes e frutos do
mar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Era uma noite com clima agradável, com direito até a um eclipse lunar,
com pelo menos umas oito mesas sendo servidas. Mariana e Sérgio chegaram,
cumprimentaram os amigos que lá estavam, e seguiram para a sua mesa reservada.
Sérgio fez questão de conhecer o cozinheiro e também dono do estabelecimento.
Murilo era chefe de cozinha e marido de Flora, e foi o primeiro a desconfiar da
forma amável forçada de Sérgio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Mariana pediu a entrada com camarões, enquanto Sérgio estava irrequieto
para falar com Flora. Pedia ao garçom quase que insistentemente pela dona do
estabelecimento. Enquanto comia compulsivamente camarões e bolinhos de
bacalhau, intercalados com diversos goles de cerveja, caipirinha e vinho tinto
escolhido pelo valor mais caro. Mariana só atentou para o estado de Sérgio,
após chegar o prato principal: uma pescada ao forno com molho de alcaparras,
onde foi devorado em minutos por Sérgio, quase não deixando nada para Mariana,
que a essa altura já sabia do alto estado etílico do seu companheiro apaixonado
e falso amante dos vinhos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando Flora se aproximou da mesa
já presenciou sua amiga Mariana preocupada, tentando impedir que o seu novo
amor, parasse de comer com as mãos, e de, com mais urgência, que ele parasse de
beber e ou que interrompesse imediatamente a mistura de bebidas. Flora se
aproximou e teve que aguentar o hálito alcoólico de Sérgio, seguido de um
aperto de mãos besuntados de peixe, molho de alcaparras e camarão com côco.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio disse aos berros que amava Mariana, e misturava assuntos, como uma
proposta de consultorias, para o restaurante de Flora e Murilo deslanchar como
a melhor franquia de marisco da Ilha de São Luís, para por fim, terminar a
noite carregado até o carro por Murilo e o garçom Roberto, enquanto Mariana
pagava a robusta conta.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO V - Outono de
2010</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Cândida interrompeu seu sono, olhou para o relógio que apontava para as 03h15min
da manhã de uma quarta feira. Seus vizinhos, Leonor e Alberto, pediam, por
favor, para parar a quebradeira. Cândida ouvia barulhos de copos e pratos
quebrando, com intervalos da voz de Sérgio; sempre ameaçando com um tom
altíssimo seus pais. Cândida foi testemunha também, das agressões físicas que
ele cometia contra seus vizinhos, sempre educados e atenciosos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Assim como Cândida e outros vizinhos trataram, ou pelo menos tentaram
chamar a polícia algumas vezes durante a madrugada; sem sucesso, todos tiveram
que esperar o espancamento moral e físico dos doces vizinhos pelo seu filho
Sérgio. Cândida, pela manhã, ainda teve o desprazer de encontrar Sérgio no
elevador, nitidamente alterado carregando uma televisão de plasma.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Foram mais de sete dias seguidos de gritarias, louças quebradas e moveis
confiscados por Sérgio. Seu Alberto já aparecia nas áreas comuns com o braço
enfaixado, com sua esposa já expondo suas marcas e roxos pelo rosto e pescoço.
Cândida tentava incentiva-los a denunciar o próprio filho, mas sempre recebia a
resposta de quem amava o filho, e também, estavam convencidos de que pouco iria
adiantar tomar qualquer atitude.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Em um sábado chuvoso em São Luis, Cândida mais uma vez encontrou-se com
Sérgio. Com uma simpatia fora do comum e carregando duas caixas de pizzas, que
exalava um cheiro de calabresa e mozzarella, no apertado elevador. Ele se
voltou para ela, com um sorriso de quem reencontrou sua melhor amiga. O
elevador abriu, com os dois saindo e Sérgio colocando imediatamente, as duas
caixas de pizza sobre o chão do corredor. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Abraçou Cândida como se não a visse desde o ano passado. Chamou-a
imediatamente para comer com seus pais, e mais os dois irmãos, a pizza que
havia comprado. Apressou-se em retirar um cartão do bolso, pois Sérgio sempre
evocou para se, o título de consultor de empresas. Enquanto Sérgio se empolgava
em descrever suas qualidades profissionais, Cândida se afastava para entrar
quase que imediatamente em seu apartamento. Sérgio continuou falando e
interrompeu seu monólogo, pegando as caixas do chão e esmurrando a porta do
apartamento dos seus doces pais. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO VI – Verão de
2018</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Leonor e Alberto eram os mais enérgicos ao cantarem o louvor da igreja. A
letra dizia que o que parecia impossível, Jesus tinha mudado a sua sorte. O
pastor Gustavo tratou de chama-los para o testemunho mais esperado do dia: como
o filho Sérgio havia se livrado da dependência química, das más companhias,
incluindo parceiras demoníacas que o levaram ao mundo do crime. Sérgio
aparentava muita calma, e ao seu lado Mariana com os olhos fechados, gritava as
alturas que “haverá um milagre dentro de mim”, a cada intervalo do longo testemunho
dos pais de Sérgio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Leonor parecia em transe, e toda hora evocava a música inicial para
ilustrar o seu testemunho. Apontava para Sérgio e sua namorada Mariana, que o
casal era o exemplo de que Deus torna o impossível em amor. Ela dizia que era
um milagre e estava ali, aos olhos de todos os fiéis, pediu para Jesus usa-la ,
falava que era a imagem e semelhança do senhor, que Jesus mudou definitivamente
a sua sorte. Alberto muito emocionado apertava a mão de sua companheira, e
olhava fixamente para seu filho sentado no banco a sua frente.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Mariana pouco observava o testemunho dos sogros, ficava com os olhos
fechados, com a cabeça olhando para teto. Era a mais empolgada, ao repetir o
refrão que Leonor puxava e pedia, aos amigos e <span style="mso-bidi-font-style: italic;">fiéis</span> presentes, aquele dia no culto. Mariana só abriu os olhos,
quando dona Leonor pediu para o casal levantar e pediu de forma enfática que
todos aplaudissem. Seu Alberto tomou a palavra e foi categórico ao dizer:
Mariana veio ao mundo para amar, servir e ajudar Sérgio nessa nova estrada. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O Pastor Gustavo retomou a palavra, dizendo ser Sérgio um exemplo de
força e fé, e que Mariana era seu complemento. Que a cocaína não vencera a
força do Senhor, e que seus crimes de estelionato, eram apenas brincadeiras de
um adulto que teimava em não amadurecer. Levantou a mão e olhou para o teto da
sua igreja, e com voz alta e firme, desafiou a ex-mulher de Sérgio, diante do
senhor, a vir falar das agressões sofridas. Falou que as injúrias e mentiras
seriam voltadas contra ela, que a justiça divina seria a verdadeira salvação.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O Pastor Gustavo chamou o casal ao centro do palco e segurando o braço de
Mariana, afirmou que ela sim, era a mulher e companheira verdadeira. Que
aguentaria qualquer dificuldade da vida ao lado de Sérgio, que inclusive estava
ciente da luta dele com o álcool. Jesus mudou a sorte dele, e mudará do casal.
Assim seria. Tudo teria saída, e aquela união estava abençoada aos olhos do
senhor. O pastor terminou o sermão abraçando o casal aos prantos.</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO VII – Primavera
de 2016</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio desceu do metrô de São Paulo, na estação Oscar Freire e se
encaminhou direto para o Instituto do Câncer de São Paulo. Na portaria,
solicitou o quarto da paciente Lúcia, esposa de Humberto. Uma maranhense que
tratava há quase dois anos, um câncer de mama já em estado avançado. Tal qual
foi à surpresa de Humberto, ao ver Sérgio em terras paulistas e ainda visitando
sua parceira em tratamento.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sérgio mostrou toda solidariedade, abraçando Humberto, e conversando por
quase duas horas com a paciente Lúcia. Humberto, espantado com aquela visita
inusitada, pois tinha conhecido Sérgio de forma rápida e imprecisa em uma festa
de aniversário do seu irmão, em São Luís do Maranhão. Conversaram algumas
horas, o suficiente para Sérgio saber da lutada esposa de Humberto contra o
câncer. Suficiente também, para o folgado visitante daquela manhã no Instituto
do Câncer de São Paulo, saber que dia o casal viajaria para São Paulo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O amigo de última hora convidou Humberto para sair um pouco daquele
ambiente insalubre: propôs um restaurante famoso, que seria por conta dele,
logo ali em Pinheiros, na Mário Ferraz. Sérgio se adiantou e disse que seria
após o almoço de Lúcia, quando ela geralmente descansava. Disse também, que era
primordial que Humberto mostrasse disposição e otimismo a sua mulher. Sair do
hospital e aproveitar o que a cidade tem de melhor, a gastronomia. Seria ideal
para ele levantar o astral, repetia quase como um mantra, para seu melhor amigo
da última semana.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Os dois então chegaram ao restaurante francês, que servia um único prato:
bife e batata-frita, com um molho que era o segredo do sucesso do mesmo. Sérgio
se empolgava com a carta de vinhos, à medida que se enlambuzava de filés e
batatas. Humberto se admirava do apetite do “pseudogrande” amigo, e sentia de
certo modo, pena de Sérgio. Enquanto Humberto se perdia em pensamentos, Sérgio
bebia freneticamente mais uma garrafa de vinho, e, no momento da conta,
adiantou-se que iria transferir para conta de Humberto, pois havia esquecido o cartão
no seu hotel. Humberto teve que arcar com toda a despesa, assim como, aguentar
um abraço demorado, uma tentativa de beijo na boca, seguido de um choro
compulsivo de Sérgio, que, segundo o mesmo, Humberto já se tornara seu melhor
amigo, e dizia aos berros: “quem paga vinho se eterniza...”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">CAPÍTULO VIII – Inverno
de 2018</span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Luiza era a mais desesperada ao ver a ficha corrida de Sérgio. Duas
páginas que continham estelionato, assalto a mão armada, cárcere privados,
agressões a esposa, tentativa de homicídio... Um baquete de crimes para quem
quisesse escolher. Flora olhou e questionou a veracidade daquilo, afirmou que
só podia ser montagem. Ula tratou logo de dizer que foi retirado da delegacia
do seu esposo Hector. A única brincadeira seria a de Mariana em se envolver com
um tremendo 171, completou. Luiza afirmou também, que os pais de Mariana já
estavam sabendo do currículo do genro e todos estavam temendo acontecer o pior.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Luiza era ainda, a amiga mais engajada em alertar Mariana, mas recuou
perante o aviso de Hector: Sérgio podia parecer inofensivo, mas sua ficha era
de um profissional do crime e violento. O bom senso alertava que seria
infelizmente, uma missão para sua família, para o pai principalmente, que mesmo
cardíaco teria que tomar a frente e alertar sua filha. Flora ficou preocupada,
inclusive, pelo restaurante dela ser frequentado por um bandido. Luiza,
irrequieta, tratou de ligar para Rachel, irmã de Mariana, para passar tudo que
havia descoberto do seu cunhado...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Rachel estava fixamente olhando para Mariana, em um café no shopping São
Luís. Mariana olhava as três folhas de ficha corrida do agora noivo Sérgio. Ia
e voltava com os olhos, às vezes parando para fecha-los e balbuciar algumas
palavras como: “senhor venci”. Rachel que já perdendo a paciência, perguntou se
Mariana queria trazer aquele aprendiz de marginal para a família dela. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para ela pensar e refletir bem, porque ali
seria o rompimento definitivo entre as duas, caso ela insistisse naquela
história bizarra de amor. Rachel também atentou para ela ter cuidado com a loja
de roupas da sua mãe, e principalmente não envolver sua filha adolescente, Patrícia,
nesse turbilhão de desestruturas e desequilíbrios.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Mariana, calmante levantou, rasgando as três páginas de ficha corrida e
deixando sobre a mesa com uma xícara de café já bem frio. Falou que ela jamais
saberia o que era felicidade amorosa. Que a mãe dela e a própria Rachel jamais
quiseram a felicidade dela. E que agora, com a transparente e linda união com
Sérgio, as duas despertaram a inveja. Pediu respeito e distância, e que jamais
mostrasse essa extensa ficha corrida do seu marido, as suas amigas, Flora e
Luiza. Olhou bem nos olhos de Rachel, pediu para ela pagar a conta e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
“Jesus mudou minha sorte ...sou um milagre e estou aqui” e saiu.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
************** FIM******************<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small; text-align: start;">©José Viana Filho</span> </div>
</div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-77190075887934965342018-09-03T18:29:00.000-02:002019-09-13T10:42:10.010-02:00O ABOMINÁVEL HOMEM DE NEVES<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O ABOMINÁVEL HOMEM DE NEVES</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXS_DDU3ktFbSfxpQB8ija2DVVkTWMUDZwBKRI-aMMICykCz0ihv8_TcbQBbW137lLBtTsPXti9IGH7d8StDRBtFZz4kd-criql7mJYOsOulSjnHJuGEx6ECXJskm8laTvgWlG/s1600/sombra+ninja.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="370" data-original-width="377" height="391" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXS_DDU3ktFbSfxpQB8ija2DVVkTWMUDZwBKRI-aMMICykCz0ihv8_TcbQBbW137lLBtTsPXti9IGH7d8StDRBtFZz4kd-criql7mJYOsOulSjnHJuGEx6ECXJskm8laTvgWlG/s400/sombra+ninja.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">CAPÍTULO I</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">INTRODUÇÃO </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Neves é um bairro de São
Gonçalo bem próximo a Niterói, antiga capital do Estado da Guanabara. Bairro da
73ª DP, que teve um grande porto e um imenso comércio de peixes. Neves é o
ponto de partida para a descrição desse assassino diferenciado. Foi em São
Gonçalo que sua mãe, teve a infeliz ideia de gerar filhos: quatro filhos, de
quatro parceiros diferentes. Um menino e três meninas e nenhum pai para ajudar
nas despesas, na criação e nem tampouco na educação dos seus filhos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A mãe é a figura central;
pelo menos nos discursos do assassino, a cada dez palavras uma é sobre a sua
genitora. Das culpas que o fizeram ser esse violento assassino,estão lá : os
murros, pontapés e instabilidades emocionais, somados a goles e mais goles de
bebida barata, que sua mãe consumia com seus diversos parceiros. Também estão
contidos, a clara concorrência estabelecida com as três filhas, uma Medéia
real, que dedicava carinho aos da rua e cultivava o desprezo, a humilhação aos
seus.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No meu gravador, a
entrevista com o “homem de neves” é um misto de ódio, atropelos e rancor;
rancor aliás, bem forte pela sua mãe. Em pouco mais de quarenta minutos de depoimento,
não consegui encontrar uma palavra de arrependimento dos assassinatos e ou
tentativas. Mas sempre tem lá sua mãe: ela que não se preocupou com sua
educação, que o deixava só com as irmãs, que não o incentivou a fazer atletismo
e que por fim sumiu, levando a irmã mais nova, deixando-o em casa abandonado
com suas duas irmãs, com marcas de mordidas em todo o corpo das duas. A mãe é
inclusive, lembrada e diretamente culpada pelo assédio das suas duas irmãs mais
velhas, pelo tio que assumiu a guarda dos três irmãos. A mãe destruiu e moldou
, segundo ele, sua cabeça. A mãe desfarelou a família e seu caráter. </span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> CAPÍTULO II</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">TÓPICO FRASAL
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Duque de Caxias estava de
frente para São Gonçalo, cidades separadas pela Baía de Guanabara, com uma Ilha
do Governador no meio. São diferentes contextos, mas com muitos bairros pobres
e abandonados em comum. E foi em Caxias, que nosso meliante moldou toda sua
“educação” e treinamento, que o iriam lhe valer o apelido de Ninja da baixada.
Criado por um segundo tio, residente na baixada , o assassino aqui analisado,
foi um adolescente calado e leitor voraz da cultura nipônica dos ninjas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O feudal, pobre e
abandonado bairro de Capivari em Duque de Caxias, do século XXI, foi cenário
imaginário para o novo espião das sombras, revelados no feudal Japão do século
XV.O Ninja da baixada foi fruto do desprezo da mãe, no bairro de neves em São
Gonçalo, e da total ausência do tio Álvaro. Segundo suas próprias palavras, de
figura materna e presente, só sua tia Maysa que o levava para diversos cultos
demoníacos e satanistas, e que, com a afirmação categórica do Ninja tupiniquim,
sacrificou sua alma ao demônio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O psicopata de Neves ,
entregue ao capeta e abandonado em Capivari , usou sua imaginação para se
moldar nesse guerreiro obscuro, aprendendo inclusive a forjar suas próprias
armas. Imitações baratas e mal feitas, cacarecos que imitavam, ou pelo menos
tentavam imitar todo o aparato de um verdadeiro ninja: estrelas de arremessos,
esporões de aço, pequenos sabres, bombas de fumaça, arcos, bastões com
correntes. Todos cuidadosamente chamados pelo nome japonês, mostrando sua
devoção total a cultura ninja nipônica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foram dois assassinatos assumidos e comprovados,
e uma tentativa de matar sua namorada e fiel escudeira de magia negra, Luciana.
Era impossível não notar seu ar de desespero ao falar de sua amada. Ele foi
enfático ao dizer que tudo saiu do controle após o rompimento. Luciana era sua
parceira “das trevas”, e ouvinte e incentivadora da sua obsessão pela cultura
ninja; mal sabendo ela que também corria riscos.</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">CAPÍTULO III</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">DESENVOLVIMENTO</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Na madrugada do dia
dezenove de abril de 2008, o 190 teve um chamado de uma mulher que se identificava
como Luciana, aos gritos e se queixando de uma dor provocada por um corte de
uma espada no seu braço. Dizia que estava sangrando muito e gritava que não
queria morrer. Por sorte, uma unidade do SAMU lhe atendeu de pronto, seguidos
de duas viaturas da polícia militar. Luciana foi atendida e levada para um
atendimento mais especializado no Hospital Estadual de Saracuruna.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O Ninja da Baixada,
estava acuado em um canto de um dos três quartos da casa. Cabisbaixo, sentado
no chão e com a cabeça apoiada nos dois joelhos. O quarto, só não estava
totalmente vazio, pois continha todos seus apetrechos de ninja espalhados por
todo canto. As paredes estavam respingadas de sangue, e tudo em sua casa, era
cenário que comprovavam sua intenção de cometer homicídio doloso contra sua
namorada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Dois Pms o levantaram e o
algemaram. Enquanto os outros dois saíram correndo tossindo do outro quarto. Um
pó forte se espalhava ligeiramente pela casa. Era o kemuridamas , ou uma
versão chula da baixada da bomba de fumaça Ninja, tão descrita e filmada na
cultura japoneja. Esse fato o fez rir dentro do seu relato, e suavizou um
pouco<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>seu ar sisudo e meio esquizofrênico de contar
sua história. O sorriso foi interrompido imediatamente, pela descrição do tapa
que um PM lhe deu para interromper seu ar de deboche, perante a patética cena
de dois policiais fora de forma, correndo, tossindo e topando pelos moveis da
sala.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Enquanto Luciana lutava
para não morrer de hemorragia ou de mal atendimento no Hospital de Saracuruna,
o ninja da baixada enfrentava seu martírio na delegacia de Campos Elíseos. Além
de contar com o tratamento habitual da polícia militar, após uma prisão no meio
da madrugada, teve ainda que ouvir diversas conversas de uma dezena de detidos àquela
madrugada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No final do seu relato,
ele me disse que sucumbiu a pressão e acabou confessando dois outros crimes:
havia matado uma menina de vinte anos, e arrancado o olho um senhor de setenta
anos. Ambos , devidamente registrados na mesma delegacia. O cansaço, e ainda,
segundo seu relato, somado a certeza de que deveria abandonar o “maligno” pacto
com o demônio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A noite estava chuvosa, e
Duque de Caxias era ainda mais feia;um ar de abandono, com a eterna chama da
refinaria acessa. Alguns agentes da polícia civil, se amontoavam em volta das
armas produzidas pelo assassino confesso. Risos e surpresas por parte da
polícia civil , misturavam-se com o barulho dos flash de celulares e câmeras
fotográficas dos recém chegados repórteres de jornais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A televisão chegou mais
tarde, já na hora em que a notícia pipocava nos grandes portais de comunicação
e em blogs independentes. O ninja da baixada já estava famoso, e já se notava
algum alvoroço na 60ª DP, de repórteres tentando entrevista-lo. Alguns policiais,
após um certo agrado de alguns da imprensa, trouxeram o mais novo psicopata a
área principal. De cabeça baixa e devidamente algemado, se recusou a falar com
todos, até observar a sala como uma câmera de segurança, e parar olhando-me
fixamente e dizer em alto e bom som, que para mim ele falaria. Para surpresa de
todos os jornalistas dos grandes jornais, que me olhavam da cabeça aos pés. A
camisa, disse ele apontando para mim. Pela camisa do seu time que eu vestia,
ele me concedeu meu maior furo jornalístico. Minhas preces a São Judas Tadeu
foram ouvidas naquele dia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">CAPÍTULO IV</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">CONCLUSÃO</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Carlos já observava Fernanda
há pelo menos dois anos. Vizinha do bairro de Capivari , era um das milhares de
mães solteiras moradoras da baixada. Mães adolescentes, que se veem presas as
casas dos pais , após o aborto espontâneo do parceiro , namorado ou até marido.
Pais que abandonam seus filhos e parceiras, são comuns com mães adolescentes, e
não foi diferente com Fernanda.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Fernanda era mãe de um
menino de cinco anos, que era conhecido por todos na vizinhança, por ser vítima
de maus tratos da mãe. Carlos sempre testemunhava, tanto a violência como os
choros da criança. Era comum também, ele sempre topar com um ou outro parceiro
de Fernanda saindo da casa dos seus pais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em um sábado pela manhã,
Carlos e mais alguns vizinhos foram surpreendidos pelos gritos de Fernanda e
seu pai: os dois travavam um jogo de insultos e palavrões, separados pela
nervosa esposa e mãe, com a criança aos prantos no meio de palavras chulas,
gritos, chutes e puxões de cabelo. O avô tentava proteger a criança, enquanto
sua filha visivelmente bêbada o agredia cada vez mais. Foram quase meia hora
até os ânimos se acalmarem, e Fernanda sair com um homem em uma moto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em uma noite de verão
insuportável em Duque de Caxias, no bairro de Capivari, já sem água por duas
semanas, Carlos sai suado por volta das vinte e três horas, vestido todo de
preto e com capuz.Teve pouco trabalho para invadir o quintal da casa do pai de
Fernanda. Sozinha em casa, ele não teve dificuldade de entrar, com silenciosos
passos se dirigir ao quarto da mãe de Sérgio. A observou e enfiou delicadamente
sua espada nas costas de Fernanda perfurando-o coração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele deixou Fernanda sem qualquer reação para
lutar pela sua vida, com um golpe rápido e determinante para a sua morte. Com
pouquíssimo sangue derramado, Carlos retirou o corpo da pequena e magra mulher,
ainda com a espada atravessada seu tórax. Carlos trocou a roupa de cama e
tratou de por o seu plano em prática.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O demonizado assassino,
sabia que a família de Fernanda havia viajado para a região dos lagos, assim
como, a observou entrar sozinha na casa dos seus pais, após uma tarde intensa
de roda de pagode, em um bar da região. Sozinha, e anestesiada pela cerveja
vagabunda consumida, a mãe de Serginho, não só foi morta por ele , como também,
enterrada em um terreno baldio, poucos metros da sua casa. Carlos colocou cal,
pedras e ácido muriático, colocou também café, sal e diversas camadas de pedra
no buraco cavado por ele, há dois dias atrás. O que impressionou os investigadores,
anos depois, foi a forma que ele a atingiu e causou sua morte, com pouquíssimo
sangue derramado e vestígios do seu ato. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O corpo de Fernanda dificilmente
seria encontrado sem a ajuda do próprio Carlos, que contou ainda com a
indiferença da própria família não denunciando o desaparecimento da vítima em
tempo hábil, o que deu uma vantagem ao pseudo-herói da baixada: todo dia ele
achava uma forma de jogar ainda mais entulho no terreno baldio , disfarçando
ainda mais a cova onde Fernanda fora enterrada. Luciana sua namorada e cumplice
, o incentivava tanto nos desconexos rituais de magia negra, quanto ao fato
dele ser um super-herói dantesco daquela cidade , e até mesmo de toda a baixada,
e foi, justamente nesse incentivo, que ele chegou a sua próxima vítima.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Sr. Max de Arimatéia, era
um idoso de setenta anos que estava isolado em uma pequena casa em Imbariê,
após o escândalo que em 2006 o havia afastado do bairro de Capivari: era
frequentemente observado por suas vizinhas, olhando ou pelo menos tentando
olhar, suas netas tomando banho no quintal. Anne e Yasmim, tinham
respectivamente nove e onze anos, e sua mãe Pâmela as confiava ao idoso,
enquanto ela labutava como faxineira em um hospital público no município do Rio
de Janeiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Pâmela acumulava ainda,
serviço de diarista em algumas residências na própria capital do Estado do Rio
de Janeiro. Além da exaustiva rotina de trabalho, ela ainda sofria com o tempo
de deslocamento. O fato era que , Pâmela contava ainda mais com seu pai Idoso
para cuidar de suas filhas. A rotina diária, comida, banho, escola, tudo ficava
a cargo do seu pai aposentado e viúvo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A situação constrangedora
a que foi submetida , fez Pâmela se mudar de vez de Duque de Caxias, rompendo
de vez relações com seu pai. As crianças, em depoimento, diziam que era
constante o avô as observar tomando banho e, ainda, fazer questão de enxuga-las
de forma bem demorada. Depois das denúncias, foi de forma prudente e rápida sua
saída do bairro. Seu Marx, como era conhecido, vivia uma vida de clausura e
descrição em Imbariê. Solitário, em uma pequena casa, vizinha de um terreiro de
candomblé e de uma barulhenta igreja neopentecostal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Sua moradia não ofereceu
qualquer resistência para a entrada de Carlos. Silencioso e sorrateiro,
adentrou a pequena e humilde residência de forma extremamente cuidadosa.
Trajando seu suado e já envelhecido traje preto com capuz, encontrou o ancião bebendo
água na diminuta cozinha. Marx não teve tempo de ter qualquer reação com o
golpe certeiro no seu peito, que o fez recuar e topar com a pia , o fazendo
desmaiar sobre o chão de lajotas frias e mal conservadas. Carlos se aproximou
diante do combalido aposentado e aplicou um golpe de kung fun , de forma errada
e totalmente mal executada. Marx ainda ensaiou um grito, silenciado por um
golpe certeiro no queixo. O justiceiro então, usou um pequeno punhal afiado e
curvo e retirou meticulosamente um olho de seu Max.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Os gritos do aposentado
foram abafados por mais um soco certeiro, que o fizeram desmaiar mais uma vez,
dando tempo suficiente para a fuga sorrateira do Ninja suado de Duque de
Caxias. O ancião tentava pedir ajuda, mas os sons dos batuques do candomblé de
um lado, e o altíssimo e mal tocado louvor da igreja neopentecostal o abafaram.
Max teve ainda forças o suficiente para sair da sua residência, e adentrar na
igreja aos prantos e ensanguentado sem um olho, produzindo uma imagem em
sintonia com a música, que citava mais demônio do que qualquer outra letra
satanista. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Luciana foi se espantando
cada vez mais com seu parceiro: ele se empolgava cada vez mais com os rituais e
passava dias disperso e imerso na cultura Ninja. Passava horas do dia
trancafiado em seu quarto, treinando com suas espadas, punhais e estrelas, onde
vez e outra, ouvia-se um estrondo abafado seguido de uma onda de fumaça, com o
insuportável cheiro de pólvora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A noite era sagrado vê-lo
correndo com passos cada vez mais silenciosos, com um saco plástico de lixo
improvisando enrolado na barriga. Em desses dias de corrida exaustiva, Carlos
foi surpreendido por Luciana dizendo que não iria mais compartilhar sua vida
com ele. Que havia encontrado Jesus e para ele esquecer o pacto de sangue,
feito há quase cinco anos atrás. Carlos não pronunciou nenhuma palavra, nem
tampouco esboçou qualquer reação: surgiu na sala com a espada em mãos, já
deferindo um golpe quase certeiro, que com certeza deceparia o braço de
Luciana. Poucos segundos de um desvio por parte dela, separaram a perfeição do
golpe, com a força que o pretenso guerreiro colocou sobre a espada, para
atingir seu objetivo macabro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Três horas separaram a
violência da sua tentativa de feminicídio da sua prisão. Quatro horas separavam
desse ato, do nosso primeiro contato. Dias depois já preso, pousou com sua cara
melancólica e sem nenhum arrependimento para a câmera do fotógrafo do jornal, o
Geraldo. Luciana, que escapara da morte e de perder o braço no primeiro
momento, se disse aliviada, mesmo perdendo o braço pelo péssimo atendimento do
Hospital de Saracuruna. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Luciana disse que Jesus a
salvou. Carlos insistentemente afirmava que o demônio o fez fazer tais atos,
inclusive atacar sua parceira. Parceira esta, que confirmou os dois crimes do
Ninja.Com a dupla confissão, os casos foram encerrados e marcaram a cidade de
Duque de Caxias com a eterna sombra do Ninja da baixada, residente do bairro de
Capivari, natural da cidade de São Gonçalo, o abominável homem de neves.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">*******
Fim*******</span><span style="font-size: x-small; text-align: start;"> </span><br />
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small; text-align: start;">©José Viana Filho</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-56197760178673580972018-07-31T11:06:00.000-02:002018-09-03T18:30:17.642-02:00O RETRATISTA OU UMA POSE PARA GEORGIANA<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>O RETRATISTA OU UMA POSE PARA GEORGIANA</b><o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 150%;"><i><span style="font-size: x-small;"> das memórias do meu pai</span></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 150%;"><i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 150%;"><i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 150%;"><i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; line-height: 150%;"><i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTLhyn1aOkjreuOMNKuQwcrYG9akhweIzPTUh_DF504RFJJalp0MhYsAwfwQwIJC9YyXiUKUS0-mdfE6jbCgUyEJuHIT-NHAb8cD0moxiG7kyfmuad_6yIq1LUeGC-ocAspBDj/s1600/imagem.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="611" data-original-width="614" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTLhyn1aOkjreuOMNKuQwcrYG9akhweIzPTUh_DF504RFJJalp0MhYsAwfwQwIJC9YyXiUKUS0-mdfE6jbCgUyEJuHIT-NHAb8cD0moxiG7kyfmuad_6yIq1LUeGC-ocAspBDj/s400/imagem.png" width="400" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-size: x-small; text-indent: 0px;">Foto ©Andres Sierra</span><br />
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era
rotina na casa: todas as mulheres acordavam mais cedo, ficando a meu cargo o
célebre apelido de dorminhoco. A primeira, sempre pontual, a Maria branca, a
babá “mãe”, e braço direito da minha esposa Marly. Com ela todas as meninas,
minhas 06 filhas, já se levantavam. O ano era de 1974 e ainda não tínhamos os
dois mais novos, Luciana e Zeca. Maria Branca era a luz e a energia pela manhã.
Além das meninas, as duas tias , Mairsa e Matilde, levantavam-se para a labuta,
acompanhadas da matriarca Marly. O café da manhã já começava a ser feito, e ,
em lugares separados, as crianças comiam e se divertiam na mesa da cozinha
velha. Simone , Silvana, Juliana e Susana, já formavam a algazarra no meio do
cada vez eminente barulho, que rondava aquela casa com doze mulheres: seis
filhas, duas tias, uma tia avó, três empregadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Maria
Branca parecia uma regente, cuidava do cuscuz de arroz, do café, não deixava o
leite derramar, gritava com as meninas mais velhas, enquanto tinha Georgiana a
sua saia, e Rosana tentando seus primeiros passos na casa. A tia avó Raeltilde,
a tia terré, cuidava de arrumar seu guarda roupa, e esconder suas joias,
bonecas de porcelanas, maquiagens das meninas. Em um dia típico da semana,
Maria Branca, tratava de “despachar” as meninas mais velhas para a escola. E
dava as ordens do dia, para comida e limpeza da casa, para as outras duas
empregadas, enquanto Marly , Matilde e Mairsa, se dirigiam a labuta diária de
professoras. Eu acordava , meio sonado, e antes de qualquer coisa, empurrava
minha primeira dose de nicotina para começar o dia em alerta: o cigarro era, à
época, um grande companheiro, do primeiro trago as oito da manhã, até o último,
por volta das vinte e três horas. Depois, ia quase que no piloto automático em
direção a prefeitura, ofício que fazia àqueles dias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Toda
essa rotina se modificava, aos fins de semana, principalmente aos sábados, onde
costuma acordar com o grito do vendedor de bode, passando pela rua Nova,
fazendo coro as vozes de doze mulheres em diferentes fases e idades. Sábado era
dia de descanso, mas era quase impossível acordar um pouco mais tarde, porque
além da energia costumeira dessas mulheres da minha vida, do som cada vez mais
pungente das ruas, em Santa Inês, era dia do retratista passar nas residências.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seu
Catariano, como era chamado, era o fotógrafo mais famoso daqueles anos em Santa
Inês. Um negro alto, com quase dois metros de altura, e sempre acompanhado da
sua máquina Yashica Minister, responsável por retratar quase toda nossa
história da cidade. Boa parte da nossa memória fotográfica devemos a ele, de
minha família e de tantas outras; nossos álbuns fotográficos foram feitos por
seu Catarino. Ao clicar nossa memória diária, compôs com maestria uma boa parte
da história da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Maria
Branca era a mais agitada de todas quando seu Catarino chegava. Dava ideias de
poses, dizia a ordem e quem seria fotografado. E tentava fazer uma ordem
cronológica com prioridades. As filhas mais velhas, Simone e Silvana, foram
vetadas por já terem sido clicadas diversas vezes. Juliana seria a próxima da
fila, mas ela mesmo se retirou, pois estava envergonhada do cabelo mal cortado
pela sua Tia Matilde. Um corte que a deixou com os cabelos bem curtos,
lembrando as feições de um menino. Sobrou então para Susana, com seus cabelos
lisos e semblante sisudo, lembrando uma indiazinha Timbira, que trouxe à
família o gene de minhas bisavós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Esse
sábado<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>específico ,que escolhi retratar
aqui, nesse imenso relicário de lembranças, eu trago os cheiros e sons como se
fosse vivido aqui nas minhas palavras. Cheiro do assado , do arroz de cuxá e o
feijão verde na pressão. Cheiro do vinho de garrafão que tia Raetilde, sempre
dava uns goles antes do almoço dos fins de semana. Sons de gritos,
sussurros<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>das meninas e mulheres, do
vinil tocando Noite Ilustrada, Padre Zezinho, Roberto Leal, Eliseth Cardoso e
tantos outros. Sábado dos volantes de sons anunciando de tudo: de velórios e
promoções de um famoso armazém. Sábado que deixava Maria Branca ainda mais
“general”, para arrumar a filha escolhida para o retratista mais famoso da
terra santa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Susana
já estava a postos, desde sete horas. Não era de se estranhar, pois as mulheres
da casa odiavam atrasar qualquer compromisso, mesmo que este fosse só para as
nove da manhã, horário costumeiro do retratista Catarino chegava em nosso lar.
Acordei supresso de ver minha filha Timbira, já pronta sentadinha no sofá com
ar de tédio, com certeza pelas horas a espera para a famosa foto. Comi meu
cuscuz de arroz costumeiro, ensopado de manteiga<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>com café preto adocicado ao excesso , fumei
mais três cigarros, e já ia sentar-me para dedilhar meu inseparável violão,
quando surpreendi-me com Susana correndo, com seu vestido novo branco com azul,
e já a essa hora, respingado de lama dos bueiros do quintal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Maria
Branca pedia ajuda de minha esposa Marly, e as duas empregadas, Marcelina e
Maria, para trazer de volta a acuada indiazinha Timbira do fundo do quintal,
escondida atrás do grande pé de jamelão, que de forma errada chamávamos de
azeitona preta. Susana havia corrido ao ver aquele fotógrafo alto e risonho,
munidos de seus equipamentos para tirar seu retrato. E mesmo com os gritos de
sua tia Matilde , não tivesse cristão ali que a fizesse posar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Já
passados meia hora , e Susana já chorava sem roupa e no seu quarto, com uma
reclamação interminável de Maria Branca, mais preocupada com a foto e seu
Catarino ter perdido a viagem, do que com o choro soluçante da minha filha
Susana. A solução encontrada foi fazer um ensaio comigo, pousando com meu novo
violão, que a esse momento rabiscava uns sonhos como de costume. Na sala havia
comprado uma bela radiola em forma de aparador, cor de mogno, onde eram ali,
que tirávamos os primeiros sons de músicas dos sábados e domingos até a
invenção do famigerado cd.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
grande, em tamanho e talento, Catarino arrumou seu tripé e fez uma bela
sequência, com sua não tão boa máquina Yashica Minister. Posei de diversas
formas e quando íamos encerrar, ele propôs uma sequência com a máquina na sua
mão. Para meu espanto , e agradável surpresa, ao tirar a última foto , comigo
sentado na cadeira e segurando o violão em um ângulo quase que de 90 graus,
minha filha Georgiana largou a barra da saia da Maria Branca ,para posar ao meu
lado, “vestida” apenas de uma calcinha bordada e sua singela botinha preta.
Posou como se fosse a maior modelo infantil da época, com um sorriso tão puro,
que fez seu Catarino fazer uma sequência de diversos ângulos , mesmo com os
gritos de Maria Branca e Matilde, reprovando a intromissão, e, mais ainda, os
trajes da minha pequena, risonha e loirinha filha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Catarino
saiu avisando que teria uma surpresa, uma ou duas semanas depois das fotos
reveladas. Enquanto isso, a semana correu com todas as repetições que tínhamos
direito: Maria Branca acordando e direcionando minhas filhas, Marcelina e Maria
labutando com a casa sempre cheia, e envoltas na produção da vasta comida
servida no dia a dia. Matilde com seus afazeres da igreja, Mairsa na sombra das
meninas e Marly mergulhada em aulas e planejamento escolar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Decorridas
duas semanas, em um sábado, onde fui acordado pelos sons da rua e de casa,
recebi seu Catarino e seus apetrechos fotográficos, com um sorriso diferente:
já foi logo me avisando que tinha excelentes sequencia minhas e uma surpresa
que sairia mais cara. Tratou-me de me apresentar dez fotos minhas, sendo uma
que seria eternizada, chamada por todos os filhos de “papaizão”: uma foto 16x20
minha posando abraçado com meu violão. Fiquei com as dez fotos minhas, já
propondo um abatimento, quando seu Catarino, sacou a surpresa mais cara...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estava
lá, a foto mais bonita, da minha parca memória há de lembrar, que seu Catarino
tirou de um filho meu. Georgiana, minha única filha loirinha, ao meu lado, com
um sorriso de anjo e captado sobre medida pelo retratista de quase dois metros
de altura. Já convencido de pagar a mais pelas fotos de minha filha, Catarino,
apresentou ainda uma foto colorida, com a mesma pose.Naquele momento já nem me
importava, pagar míseros cruzeiros a mais, para ter registrado em cores minha
única filha loira, sorrindo, pousando e posando ao meu lado, lembrando a
personificação de um anjo , como também, a herança de minha família na cor de
seus cabelos loiros , mesmo que coloridos artificialmente pelas mãos de
Catarino.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">**************** FIM****************</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 253.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small; text-align: start;">©José Viana Filho</span></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-10826287152527358162018-07-02T23:36:00.004-02:002019-09-03T22:12:12.663-02:00PRESENTE CONTINUOUS TENSE<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background: white; color: #373737; line-height: 107%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><b>PRESENTE CONTINUOUS TENSE</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht4s1hpTaZa5xIDqIkCagkNk4aPl6TvADx-bX36FYo4z9R94Ww1eLphl7OwjDnjlFBvdu8X2up26Y6vwiLhlr71KewINqKI0k6tSfAXWPo3xOHl06HbYrvlkjpnNd8WNmDeGTE/s1600/casal-de-maos-dadas-na-praia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="750" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht4s1hpTaZa5xIDqIkCagkNk4aPl6TvADx-bX36FYo4z9R94Ww1eLphl7OwjDnjlFBvdu8X2up26Y6vwiLhlr71KewINqKI0k6tSfAXWPo3xOHl06HbYrvlkjpnNd8WNmDeGTE/s400/casal-de-maos-dadas-na-praia.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">O passo que damos hoje,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">Ultrapassa o passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">Esse passado chato,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">enfadonho, que passa;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">Que não é lembrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">A memória que temos;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">Que outrora vivemos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">É você desfilando<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">E meu olhar calado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">Memórias que atraem </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">o presente perfeito<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: large;">que é estar ao teu lado...</span><o:p></o:p></div>
<span style="font-size: x-small;">©José Viana Filho</span>José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-25270148391364708402018-06-12T13:29:00.001-02:002018-07-31T10:59:07.973-02:00CHUVA<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoeLIF9l3jWrhCnP4tuZze1jls-1b2zd6UdDSV0onxa6-G1-sxvVzT9hXZKaf5x9Qq5Z_GGyZmPrGZY-ZhyphenhyphenfGQjJpHR999lV2sXnqDzN7SG8aczwe9FrZ6nTQ3h88NpIUgW_fo/s1600/beijo-na-chuva-novela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="465" data-original-width="620" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoeLIF9l3jWrhCnP4tuZze1jls-1b2zd6UdDSV0onxa6-G1-sxvVzT9hXZKaf5x9Qq5Z_GGyZmPrGZY-ZhyphenhyphenfGQjJpHR999lV2sXnqDzN7SG8aczwe9FrZ6nTQ3h88NpIUgW_fo/s400/beijo-na-chuva-novela.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Nesse dia dos namorados, doces lembranças:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">CHUVA</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"> </span><span style="font-size: xx-small;"> </span><span style="font-size: xx-small;"> </span><span style="font-size: xx-small;">Para Moi</span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
E pingos caem</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
sobre nossos vidros;</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Eles não quebram,</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
não se despedaçam...</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Se esparramam </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
e observam:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Nossos toques,</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Nossos olhares,</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Nossos beijos...</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
E feliz a chuva presencia</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
nosso AMOR.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">©José Viana Filho</span><o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-34073638815608189452018-04-29T20:36:00.002-02:002018-05-11T23:29:23.236-02:00MORRO DE VONTADE<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRusssd2sD2I2Q6lgIccfTmOX3UIrghzcYH4N8mV-2zKlJH1fB_OaXE4V9hdSbkBAN8cmyxTZ2Z-LweainHvUCVFuTrem37gpLD5n1xTi69Mj7LNDNv1ucEC_Vdj4AuQ3CdbdK/s1600/autorretrato-com-morte-tocando-violino-noticias.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="712" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRusssd2sD2I2Q6lgIccfTmOX3UIrghzcYH4N8mV-2zKlJH1fB_OaXE4V9hdSbkBAN8cmyxTZ2Z-LweainHvUCVFuTrem37gpLD5n1xTi69Mj7LNDNv1ucEC_Vdj4AuQ3CdbdK/s400/autorretrato-com-morte-tocando-violino-noticias.jpg" width="400" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MORRO DE VONTADE<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Todo mundo um dia vai morrer<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A diferença está em viver<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Pode ser com sódio, fel ou rancor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu prefiro o amor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Todo mundo um dia vai partir<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O que te importa és como vais seguir<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Com muito ódio ou perda<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu caminho pela esquerda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Todo mundo um dia jaz<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Com muita ou pouca paz<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em um buraco raso ou fundo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu abraço meu mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Todo mundo um dia se vai<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ou se levanta ou se cai<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A direção é você quem determina<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Deixa que a vida te ensina<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ou se se perde,ou se ama.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A morte é certa,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vida tem , em mãos,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
várias incertezas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Esqueço a morte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não sofro pelo que não se vê,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mesmo sabendo que um dia se vai,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Que um dia vamos morrer<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Prefiro aqui, em vida, eu e você.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-67172507142937895142018-03-13T01:48:00.001-02:002018-05-16T22:31:26.701-02:00A REVOLUÇÃO DAS PUTAS OU DIÁRIO DE UMA MENINA DE PLANTÃO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI1EK6Dm1eoPwrUly5pAeacC_dYFXUM7nsPsd8ZKs3DlZu0OZblJ82NGR7UBLfClw7-N1KZWvICLPLfMur0s8jpFbXopr3hHmg4mh3g7kbTKSeVTN4VQCNkHajq6SwlV2y10g_/s1600/destaque-461614-post.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="888" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI1EK6Dm1eoPwrUly5pAeacC_dYFXUM7nsPsd8ZKs3DlZu0OZblJ82NGR7UBLfClw7-N1KZWvICLPLfMur0s8jpFbXopr3hHmg4mh3g7kbTKSeVTN4VQCNkHajq6SwlV2y10g_/s400/destaque-461614-post.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Comentário Inicial:<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="text-indent: 70.9pt;">Revelar a palavra que estou sentindo agora nesse momento, não traria a
paz que gostaria que estivesse sentindo. Meu Deus! Eu quero a paz e um pouco
mais de dignidade. Sei lá! Acho que as vezes poderia saber o que é amar. Não
sei o que me fez sentir a necessidade de me degradar a este ponto, ou talvez a
me suicidar a cada dia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Sou Helena, tenho 26 anos, fumo, as vezes bebo, corro da polícia,
viciados, inconvenientes, ladrões que perderam a noite enfim de toda a escória
ou de quem tenta fazer parte dela ,pelo menos em uma noite. Já cheguei a fazer sexo 18 vezes na
mesma noite, mais a média é de três vezes por dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Não estou aqui para fornecer dados estatísticos, nem fazer um discurso sociológico, e muito menos ainda um diário
particular que ficará escondido em qualquer canto. Quero apenas contar a mais
forte e gratificante idéia que coloquei em prática.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Por cima da janela vejo que agora,
metade do quarteirão é meu, parece que essa sacada mente, mas o que meus olhos
vêem eu realmente possuo. Cansei de andar pelas ruas ou avenidas e ver
imensidões que jurava que as vezes eram minhas, mas não eram, nunca foram e
jamais seriam...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Esqueci de dizer que além de ser dona da metade do quarteirão que agora
vejo, e para quem sequer usou a cabeça para pensar ou imaginar, e também para
quem deseja saber, eu sou puta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Sem Revelar a infância e direto para faculdade:<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Poderia perder tempos e mais verbos falando de pais ,
irmãos, tios, primário, mas vamos para o ano em que tinha completado 18 anos e
sonhava ser economistas. Sou filha da classe média, e somos em cinco irmãs. Meu
pai é representante comercial e tem uma distribuidora de alimentos. Minha mãe é
professora do Estado. Bom, fui bem criada e tive uma educação para discernir o
que é certo e o que é errado. Mas voltando ao vestibular troquei na fila o
curso que queria fazer. Decide por administração, pois a concorrência estava
menor. Não morava na capital e fui a única das cinco filhas que decidiu ir a
capital fazer vestibular, sou a terceira, o fato é que duas já haviam desistido
. Uma casou e se empenhou no fato de que teria que criar os dois filhos e outra
até veio para a capital. Queria ser atriz, conseguiu ser figuração em três
programas diferentes de televisão e voltou para a cidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Bom, então me restou morar em uma pensão enquanto via se
alguém da faculdade dividiria um apartamento comigo. Ah! Passei no vestibular o
que não era nada impossível, pois todos, disse todos que se inscreveram
passaram. Uma lógica matemática que colocava a disposição alunos de Direito e
Economia que não conseguiram uma pontuação não muito boa , para cursos que
sobraram vagas, inclusive administração. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Falei para meus pais e irmãs, não foi bem recebida a
noticia pois Papai teria que pagar a conta..... Que chato.......! Além de pagar a pensão. De concreto aprendi que
administração é muito mais difícil do que a concorrência dizia, se bem que
economia seria bem mais difícil, segundo consta a grade curricular do curso.
Tudo bem, levei todos os quatro anos de maneira enfática e racional. Tentei
alguns estágios mas devo dizer que engavetar papel, café , carimbo e ponto não
combinam e não combinavam comigo , pelo menos até este momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O fato que consegui com o dinheiro dos estágios
ajudar meu pai e ter um pouco de
dinheiro para mim.. Mas no segundo ano, meu Pai disse que não daria mais para
pagar a faculdade, fez todo um discurso rodeado de análises de dificuldades no
ramo alimentício, conheci todo o histórico da concorrência para no final ele me
dizer não dá mais. Envolvi-me em um lapso de orgulho e desespero e disse que
tudo bem, pois acabara de arrumar um estágio.
Nem era preciso dizer que não havia estágio e o que eu estava já havia
completado os dois anos. De repente me vi com um objetivo em mente de fazer qualquer coisa para custear meus
estudos e minha vida. Enfim acho que naquela mesma tarde já obtive respostas....<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 70.9pt; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><span style="text-indent: 70.9pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Oportunidades e oportunidades:</u></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Karla era minha amiga de ocasião, daquelas que a gente encontra na
lanchonete ou na biblioteca e somos capazes de ficar falando por uma hora em
diversos assuntos e nem sequer nos olharmos na sala de aula. Em um desse
encontros casuais falamos da aula de Teoria geral, estágios e claro da situação
em que vivia. O estranho é que ela de
imediato resolveu o problema da pensão. Ela dividia um apartamento com uma amiga
e claro que estava com uma vaga do sofá em aberto. Topei de imediato, parecia que era meu dia, quando
disse que estava terminado o estágio, ela também me veio com o solução que a
princípio me pareceu absurda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Como disse fui educada para discernir o que era certo ou errado, ou pelo
menos para distinguir do que era absurdo
do provável, achei que ela estava brincando comigo, mas tudo bem, resolvi fazer
o que todos fazem ao perguntar como???
Ouvi a mesma coisa .E penetrou em mim
uma sensação de nojo e fobia, será que era tão estranho para mim ouvir aquilo,
ou seria mero pudor temporário. Disse que resolveria com a pensão para me mudar os mais rápido
possível para o apartamento. Ganhei tempo, claro. Mas não podia parar de pensar
no que foi-me proposto. Meu Deus! Pensei... tive uma sensação do que o destino
me reservara , ao mesmo tempo em que
pensei na possibilidade de lucro e quem sabe até de um futuro negócio,
quem sabe... Aquela tarde fazia um calor insuportável, e minhas mãos
escorregavam ao pegar o telefone público do qual ligara para meu pai e enfim
entramos em um acordo, ele me ajudaria com a despesas do apartamento da qual eu
dividiria com minhas amigas e ajudaria também com a despesas dos livros. Até
que no final sai-me bem, não pagaria mais aquela pensão nojenta e comeria na universidade todo
dia. Acho que o dia quente , o mais quente até ali, segundo constava nos
noticiários seria o dia em que desenvolveria a mais rápida decisão que mudaria
até então a minha vida tão discreta e racional.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>A oportunidade em si:<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Cheguei as dezenove e trinta do horário de verão daquele dia, ainda
claro, bem claro, embora envolto de uma situação que lembraria um temporal.
Lembro-me bem desse dia , pois acho que foi o dia que mais olhei para o céu,
talvez umas quinze ou dezesseis vezes. O calor começava a dar um espaço para o
vento que esfriava um pouco mais aquelas ruas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Carregava duas malas e subi até o segundo andar, o condomínio era
simples, não havia elevador e somente três andares, moraria no 203, segundo
andar portanto, era apenas a duas quadras da faculdade e apenas a três quadras
da pensão onde cuspi a minutos atrás, fui de táxi e três quarteirões foram o
suficiente para saber toda a violência
que ocorria pelo centro da cidade, o taxista foi responsável pelo relato mais
dramático ,que até então, havia ouvido. Foi rápido embora demorasse um pouco
mais , pois a rua só do apartamento só descia e tivemos que dar uma volta pelo
quarteirão anterior para enfim entrarmos na rua que só descia aonde ficava o
apartamento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Quando toquei a campainha foi Luana que atendeu. Era mais velha que nós
mas estava travada no quarto ano, e aquele seria seu último ano, mesmo senão
conseguisse passar, segundo me informou. Karla tinha ido ao supermercado e
Luana mesmo me mostrou onde poderia
deixar minhas roupas e também aproveitou para dizer-me que as duas estavam
pensando em comprar um beliche e me ceder uma das camas e claro uma parte do
guarda roupa de uma das duas. Não demorou muito Karla chegou e estavam ali o trio que faria parte da maior
revolução que as mulheres poderiam fazer até o momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Conversamos enquanto comíamos, e tivemos várias idéias de como
restruturar o apartamento. Luana até jurou ficar mais uns dois anos conosco.
Mas o fato que todos vocês devem estar pensando é qual era a proposta afinal ? O que me disse
Karla? O que seria de tão ruim a ponto de me fazer pensar em valores, o que é
certo ou errado, o que seria afinal?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Quando Karla me propôs na lanchonete se por um acaso poderia fazer
programas para uma agência da qual trabalhava a dois anos e meio, pensei duas
coisas, como poderia ela trabalhar em tal lugar e ainda por cima pensar que eu
poderia também. Para mim meu corpo é sagrado e até agora não falar de
envolvimentos portanto supostamente sou virgem, meu corpo sagrado, entretanto
aquela noite , o que era de mais sagrado foi se degradando a medida que minha
boca falava sim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b style="text-indent: 70.9pt;"><u>Um pouco mais de Karla e Luana:</u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O café da manhã foi rápido e gostoso, torradas light com geleia de
framboesa acompanhados de suco de laranja feitos todos pela Luana. Só não sei
porque todas nos entupimos de coisas leves e tomamos o suco mais pesado em
calorias, talvez seja a mais perfeita lembrança em nossas mentes de nossas mães
servindo-nos o suco pela manhã.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Karla conversou a respeito de Carlos ,o dono da agência. Falou que o
conheceu na universidade mesmo, que ele “namorava” uma de suas conhecidas na
aula de musculação. Ele com muito jeito e delicadeza me perguntou se gostaria
de aumentar meu rendimentos. E foi logo dizendo que não era vendas e nem colar
postais em tempo livre. Claro que ele sabia que o Karla não estava dando conta
de pagar suas despesas , somente com o emprego de secretária - recepcionista -
auxiliar administrativo. Bom foi ai que ela deixou seus instintos de pratica e dinheiro falarem mais alto e
topou. Lá conheceu Luana e hoje faço parte das principiante que por falta de
dinheiro e medo de perde o que conquistaram entram na agência onde os
rendimentos poderão ser mais altos que o esperado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Estava parecendo que havia sucumbido a mais fraca decisão de toda a minha
vida , mas a vontade de conhecer o desconhecido e até porque não uma excitação
fora do comum fizeram-me mergulhar num mundo onde não há volta somente marcas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><b style="text-indent: 70.9pt;"><u> Meu caro Amigo:</u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Carlos ficará marcado aqui neste relato pois será o primeiro homem do
qual falarei (o meu pai e o taxista são apenas passagens). Tinha o olhar meio
que pervertido, um que de cinismo e choro, mas gostei dele, tanto físico como
em suas palavras brotavam o que talvez eu chamaria de força e segurança. Foi
bem direto com relação ao assunto, talvez pelo fato de que Karla já havia me
preparado. Depois fiquei sabendo que ele gostou de mim, do corpo, cabelo, voz,
simpatia e também que Karla havia ganho uma comissão ao me indicar. Que ironia,
não sabia que tinha todos os requisitos para ser uma garota que faz programa
uma puta em si, uma mulher que a princípio teria todos os requisitos que o homem quereria para fugir da sua mas doce e
pobre rotina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Trabalharia somente a noite, a não ser que tivesse um cliente que estivesse
disposto a pagar o dobro para me tirar da sala de aula e ou acordar-me das
cestas da tarde. Daria até para estagiar, mas não estava nem um pingo a fim de
me sacrificar (além do sacrifício de ser puta) para mergulhar em um estágio
cheio de papéis e fofocas. O concreto é faria somente isso, e se os rendimentos
fossem realmente o que Carlos prometera, estaria em um ano não só pagando a
faculdade como que pagando até um
apartamento somente meu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Funcionava mais ou menos assim: Carlos colocava anúncios da agência em
diversos jornais , Internet e até televisão. O número era de seu escritório e o
do celular era seu. Não havia nenhum escritório, na verdade era sua casa,
morava sozinho e sai as vezes com suas acompanhantes. Ele tinha uma carteira de
clientes bastante diversificada, ia de Políticos, atores, velhos milionários,
adolescentes ricos até mulheres. Ligava para alguns dizendo que havia
novidades, no caso as vezes até nos pagava para enviar de graça a algum cliente
mais exigente e que dava bastante lucro para ele. Trabalhava com um leque de fotos de todas e cobrava para
entregar até o requisitante. Ao todo eram 27 mulheres , se recusava a trabalhar
com travestis e homens, para ele a prostituição era ato exclusivo das mulheres
e o resto eram aberrações. Até aceitava de que duas mulheres pedissem seus serviços , mas era simplesmente
pelo fato de que um influente cliente
pedisse para ele para alimentar os caprichos de suas enteadas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Cobrava trezentos reais por
programas ,mais taxi ida e volta para nossas casas. Dependendo de quem fosse
ate iria nos deixar e trazer .Ficávamos com
30% do programa, noventa reais, pouco né. Mas coloquei no papel, poderia
fazer em média 50 programas por mês, um lucro de quatro mil e quinhentos reais
sem contar com as gorjetas. As vezes faria apenas companhia, para mim pareceu o
paraíso, embora um paraíso meio nebuloso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Todas tinham que ter celular e jamais deveriam ficar desligados por falta
de bateria, por esquecimento, e não tínhamos que ficar presas em casa a espera
de seu contato, poderíamos sair desde que informássemos a ele nosso paradeiro.
Carlos não tinha um controle de onde estávamos, mas gostava que déssemos
satisfação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Tudo me parecia bem tranqüilo, afinal não era tão ruim assim. Ficava em
casa , na maioria das vezes , e Carlos me passava roteiros até que bem perto de
casa. Luana e Karla me deram muita força, embora não me pareça tão difícil
empurrar alguém para a beira do precipício, o que de positivo tirei foi que as
vezes me encontrava com pessoas bem mais fáceis de comunicação e que tinha mais
afinidade do que qualquer amiga, incluindo ai Karla e Luana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>O primeiro programa:<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Poderia falar do primeiro programa com bem mais detalhes , mas o que vi e
senti foram tão rápidos que nem devia me prolongar a este ato. Ah esqueci de dizer, já não era
mais virgem a muito tempo, embora tentei induzi-los a tal castidade, mas de
fato não era desde os quinze.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Meu primeiro cliente era um japonês que não disse um só vocábulo ao
entrar e nem tão pouco ao sair. Fomos a um motel bem luxuoso , peguei-o em
frente ao seu hotel e depois fomos ao motel de fato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O que me parecia era que seria um sacrifício absurdo passar duas horas
com aquele japonês, mas não foi. Carlos
havia me premiado com aquele que dizem que é o melhor freguês dele. As meninas
adoravam, Karla havia saído com ele umas quatro vezes e Luana duas, não me
disseram, nem elas e nem tão pouco Carlos o porque era tão prazeroso sair com
ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Bom, o fato é que ele não fala e a pouco me parecia sofrer de ejaculação
precoce, pois gozou tão rápido que o tempo de ir e vir de táxi demorou mais do
que minha estadia no motel com ele. Contei no máximo entre dez minutos em
entrar ,sair do banheiro e ao ato em si, depois já estava pedindo a conta e nem
sequer olhou nos meus olhos. A partir daí comecei a observar o quão fraco são
os homens . Não era nem ao fato dele sair , pagar para sair melhor dizendo, mas
era o fato de deixar dominar pelo sexo de uma forma tão fraca ao ponto de que
era dominado por aquele ato pois o fazia como se fosse uma necessidade vital,
tal qual beber água.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
No mesmo dia lucrei duzentos e setenta reais o japa ainda me deu cem
dólares por fora, nada mal. Carlos jamais deixava um cliente pagar diretamente para gente e sabia , sempre
sabia(não sei como) se uma de nós déssemos
algum número de celular por fora. Carlos tinha sua carteira de clientes na mão
pois seus eles jamais entraram em contato, mesmo podendo pagar mais barato .
Ele recebia sempre adiantado pelos programas. Trabalhava sempre pela manha e a
tarde nos esquemas de recebimento e
podíamos sempre pegar no outro dia pela manha ou a tarde o que tínhamos
faturado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Parecia um mar de rosas , mas com o tempo fomos observando que Carlos
faturava e alto e que podíamos sim ter um controle próprio para nós afim nossos
rendimentos aumentassem mais. Estava tão entretida nessa idéia que pela tarde
quanto Karla e Luana chegaram , convidei-as a participar de uma idéia que no
fundo , não parecia tão mal assim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><b style="text-indent: 70.9pt;"><u>Para quer servem as amigas:</u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Quando ser faz programas o dia parece tão longo e cansativo , que as
vezes você pensa que vai parar, estática no tempo, tudo bem lento, chato, enfadonho. As noites então! São
tão tristes esparsas, que as vezes dava vontade de vomitar. Dormir duas tr6es e
até quatro vezes com homens diferentes, idades, conversas, hábitos, soava tão
bizarro que não sabia bem ao certo
quando ia parar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
No fim de tarde de um dia que não me recordo (sou péssima de data,
hora...) quando vi Karla e Luana entrarem juntas pela porta passou-me pela
cabeça uma idéia que havia me balançado a cabeça alguns dias atrás. Porque não
trabalhávamos sozinhas e unidas? Não via como resposta o poder onipresente de
Carlos, pois não engolia o fato de que um Homem sozinho possa comandar uma
carteira de clientes ao ponto de todos serem fiéis ao extremo de nunca mudar de
fornecedor. Sim, fornecedor, pois não somos mercadorias, não é um comércio.
Porque não podíamos criar uma só para gente? Não via obstáculos, nada de
concreto que poderia nos impedir de fazer algo realmente nosso. Não eram nossos
corpos ora!!!! Eu mando em mim, e sei muito mais das minhas qualidades na cama
do que qualquer outro agenciador que supostamente venha me falar que entende de
mulheres.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Karla pareceu-me mais espantada que Luana, afinal ela era para Carlos
como que uma olheira , e agenciadora júnior. Mas coloquemos no papel, a cada
trezentos reais ganhos, com nossos corpos, nossa segurança, nossa vida até,
levamos apenas noventa reais e ele fica com
duzentos e dez reais. Não achava justo, de forma alguma. Karla me disse
que ele tinha despesas, e sua maravilhosa carteira, com clientes gentis,
afáveis, múmias depositantes , bêbados educadíssimos, homens da melhor estirpe
três mulheres em dúvida. Um japa que nos dava mais lucro que qualquer outro emprego
nos pudesse exigir em sacrifício e recompensa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Não tinha a minha intenção de rouba-los, na verdade queria outros, talvez
o japa quem sabe. Não iria admitir que um homem , embora fosse sedutor, pudesse
construir uma gama de clientes tão lucrativa, apenas com anúncios do tipo:
“mulheres inteligentes procuram homens inteligentes para relacionamento
relâmpago e muito sexo, ligue-nos” ou “Você já teve prazer? já sentiu algo
parecido? Ligue-nos”. Parecia interrogatório ou uma letra do Wando, mas o fato
é que vou lá viu e venceu, sem dar duro é claro. Seu único trabalho foi, isso
devemos reconhecer, foi de ter, hoje, trinta e duas lindas mulheres, até certo
ponto instruídas e bem bonitas, mas ainda acho que seu maior erro foi me ter em
seu banco de garotas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Amigas ou colegas?<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<span style="text-indent: 70.9pt;">Nunca soube destinguir amigas de colegas. Seria o fato de você contar
tudo a uma mulher, dores, paixões, desejos, relações, essa pessoa poderia ser
considera amiga. Então acho que todas as pessoas com as quais me relacionei são
minhas amigas. Acho que sou assim feito guache, vou sendo jogada e esparramada
pelas paredes. Minhas incertezas são discutidas e embutidas completamente nos
diálogos alheios. Como se minha fala fosse fumaça desperdiça na boca de várias
pessoas das quais nem sequer conheço.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Colegas seriam então, para mim, pessoas avulsas. Conhecidas de ocasião.
Aquela mulher que reclama na fila do banco que as companhias de telefone não
faturam assaltam. Ou uma vizinha raivosa e mal amada, que grita e me pede apoio para expulsar o ônibus de
turismo da porta do condomínio. Diante desse meu pensamento Karla e Luana são
amigas e as vezes colegas. Amigas pelo fato de que sabem todo raio x de minha
vida. Até fala brincando que elas sabem até aonde fica meu ponto g. E são colegas
pois sou eu quem escuto toda tarde relatos e relatos de relações , sejam elas
sexuais ou de convívio, todos os dias meu Deus. Só me escondo ao fato de que
uma “colega” de trabalho me disse uma vez: “ e puta lá tem amiga minha filha”.
Talvez sim, mas não vou esquecer do ato que as duas me deram de amizade e
confiança, Karla e Luana , Luana e Karla
disseram sim ao meu ato rebelde de independência ou melhor de anular um
atravessador entre a comunicação entre nossos corpos e os clientes em si. Alias
foi Karla mesmo que me convidou a marcamos esse dia ( da discussão em si) como
a data da revolução. Luana nos disse que revolução era uma palavra
paradoxal.....<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Vejamos: <i>Revolução - Ato ou efeito de revolver-se ou revolucionar-se.
Rebelião Armada. Revolta, sublevação. Transformação radical dos conceitos
Artísticos ou científicos. Movimento de um astro em redor de outro. </i>Levando-se
em consideração que somos três universitárias , putas e meio sem disposição para atos tão históricos , mas acredito cegamente no fato que queríamos
agitar em vários sentidos e até lutar quem sabe, mesmo que inicialmente em
interesse próprio , pela nossa classe como um todo. E se a Revolução tivesse
uma pessoa como símbolos, quais seriam?? Surgiram vários nomes, Jack kenedy,
Princesa Daiana, Hebe Camargo, surgiu
até o nome de Dona Ruth Cardoso, como uma socióloga que se prostituiu pelo
poder. Mas ficou chata e decidimos que, se desse certo (e daria) criaríamos a
cartilha “método Karla , Luana e Helena de ser.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Terminamos com a assunto pois o telefone tocou, era Carlos.... a verdade
é que voltamos ao método fácil de passar a vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Vão-se os anéis ficam-se as putas.<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Rebelar-se. Espargi de felicidade sobre o dinheiro acumulado da
exploração que sofríamos de Carlos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Na verdade era fácil... Nos livraríamos da mais - valia e assumiríamos o total controle dos nossos
negócios, digo nossos corpos. Sentia-me mais forte, mais mulher, mais puta do
que nunca. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Era fácil. O plano era o seguinte, anunciaríamos na Internet e nos jornais
específicos dos bairros próximos . A idéia foi de Karla, pois ela havia dormido
com um dono de um site e que conhecia um dono de jornal. Essa idéia fervia em
minha cabeça. Não entendia como não tivemos essa idéia antes. Parecia tudo tão
fácil, tão rápido....<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Filtraríamos os clientes pelo preço, R$ 200.00 por programa de uma hora,
sem nada somente o que o sexo simples pode oferecer, de cada dez programas um
programa grátis (essa idéia foi minha). E nossa meta na carteira de clientes do
Carlos era o japonês ,óbvio! Vinte e quatro horas, no ar. Fomos bem agressivas,
mas para início tínhamos que diversificar os horários. Faltaríamos a faculdade
se preciso, e as baterias de celulares sempre carregadas. Luana foi bem mais
longe e conseguiu envenenar outras
amigas ou melhor companheiras de trabalho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O fato é que eu , Luana e Karla em
menos de dois meses já tínhamos uma carteira se não melhor ,ou igual a
de Carlos. Nosso faturamento triplicou, e em seis meses Carlos havia perdido
toda a sua carteira para as putas que um dia foram de seu domínio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Carlos tinha , na época, trinta e cinco mulheres. Todas, eu disse todas
resolveram se autovender. Se anunciar , tomar conta de sua própria luxúria.
Carlos , solteiro , sem emprego, empresário falido, sem saldo bancário, não
tinha hoje sequer a piedade das mulheres que um dia ele agenciou. Tentou partir
para o ramo da bonecas e homens, mas acabou ferido por um desvio de pagamento
de comissão. Acredito eu que ele senão morreu voltou a vender cocos na praias
do Espírito Santo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Triste fim para um homem charmoso que não soube dar valor ou não soube
reconhecer o instinto feminino da traição e para o comércio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><span style="text-indent: 70.9pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>A revolução em sonho:</u></b> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Terça feira é dia de sonhos.
Sempre sonho de segunda para terça , talvez porque era o dia que menos fazia programas.
Engraçado, quando passava não mais que doze horas sem fazer sexo, minha cabeça
doía e ficava com a sensação de que meu corpo jazia em pus por dentro. Parecia
com eu tivesse que ter algo dentro de mim , me estimulando, para que pudesse
andar, correr , sentir prazer, absorver o que o mundo tem de bom. Era chato
admitir mais sexo para mim era vital. Não o orgasmo em si, mas a sensação
gostosa de ter um homem me do minando e eu dominando ele. Sinto falta e meu
corpo é um relógio que derrama solidão de doze em doze horas preciso de algo .
Tornei-me escrava do meu desejo, do meu libido, das minhas entranhas, instinto puro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Pois terça sonhei.............<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Desde que nos rebelamos e tornamos
real nosso sonho de sermos putas independentes , coloquei na minha cabeça que
se os homens são capazes de pagar duzentos, trezentos ,que seja , reais para
passar uma hora , as vezes nem isso, alguns nem gozam, outros só falam, uma
hora com uma mulher desconhecida e que dorme com vários por dia e milhares no
ano. Poxa , acho que poderíamos dominar o mundo , quem sabe?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Homens são frágeis e domináveis pelo instinto, outros são monogâmicos por
acomodação , outros fracos quem não tomam partido nem para um lado nem para
outro. Outros são gays, alguns tentam
virar mulher, ah que raça de fracoídes. Por que não dominar o mundo??? E já não
são das mulheres??? Por que não das putas???<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>O sonho :<o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<i>Obs: Se fosse
cinema, meu sonho seria em preto e branco...<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Copacabana estava lotada de todo tipo de mulheres que se submetem a
vender o corpo ou a tirar proveito dos homens, como algumas falam. A avenida
tomada de mulheres libertinas. Putas sofisticadas, como eu, velhas decadentes
da lapa, nigrinhas esculhambadas da zona oeste e norte. Até um batalham , com
faixa e tudo, de nova Iguaçu. Ainda dava para avistar que a ponte Rio Niterói
estava cheia de mulheres prestes a dominar o porto, aterro do flamengo, lagoa e
Urca. Na avenida atlântica a marcha era lenta, e revoltosa, todos os homens
tinham os pênis decepados e o grito de agonia e dor era abafado pelos gritos da
prostitutas seguidoras da pomba gira . <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O ônibus de turismo fora virado por 50 mulheres robustas e incendiado
pelo álcool usado para limpar ou desinfetar leitos semi imundos que alguns
homens se submetiam a fazer sexo e ainda pagavam. Uma marcha raivosa em direção
ao Leme. Putas vindas da Barata Ribeiro e Nossa senhora de Copacabana se
juntavam e a força feminina crescia a ponto de só vermos mulheres destemidas.
Copacabana era, aquele momento, a prostituta do mar. A estátua de Drumond era
substituída pela foto de vedetes .
Tomávamos a zona sul pelo simples fato de sermos mulheres e putas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Ao fim da marcha até o pão de açúcar dançávamos desenfreadamente até nos
esvairmos em dor e choro. Alguns homens tomavam proveito daquela situação e
ainda propunham um programa de meia hora. Talvez atraídos pelo odor do
feromônio característico de quem passou a vida a rebelar-se em sexo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Foi um sonho, mas parecia tão concreto, tão perto, tão hábil. Com certeza
o país tem putas suficientes para dominar os maiores líderes pelo sexo. E em
Copacabana acho que tem o maior número de espécies de putas de todo o mundo,
portanto o lugar ideal para se começar uma revolução, a revolução das putas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Acordei derramando lágrimas e segundo Luana, com um sorriso discreto em
minha face. De fato acho que levei a frente demais esse desvairo, daqui para
frente acho que levarei apenas o fato de que sou e sempre serei uma mulher, o
que faz de mim especial, não só por ter os órgãos sexuais internos , mais o
fato de sermos imbuídas de mistérios e sons. As vezes sonho, mas
nunca tornei minha imaginação tão real como nesta terça feira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><span style="text-indent: 70.9pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<b><u>Sonhos e considerações:</u></b> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Era como eu estivesse sempre sonhando. Entrando em pesadelo e se
infiltrando em um prelúdio. Um arraso de sinestesias e catarses. Tenho as vezes
lapsos de memória e crises de amnésias, as vezes acho que sou meio louca, meio
pobre de espírito, meio mau, meio tonta. As vezes acordo com idéias na cabeça
que me transformam na mais perfeita rainha. Sinto-me como estivesse em um mundo que não é meu, não
me pertence. Sou meio sombra, meio farsa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O fato é que todo esse período vivi em sonhos, e como me entrego ao ato
(em si) da luxúria, do sexo exposto e pago, sinto-me como não estive em meu
corpo. Em um mundo condenado de sombras negras e vampiros em todas as minhas
sensações. Karla e Luana dizem que é frescura minha, mas de fato e concreto,
sinto-me mal. E também já vi as duas chorando pelos cantos e prometendo, Deus
sabe o quando!, que irão deixar esta vida. Prometi para mim mesmo que esta vida
era finda. Sinto-me culpada por não ter forças, não ter paredes para me
sustentar. Penso em meu pais . Choro. Desagrado-me. Torturo-me. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Dois fatos positivos:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
1: Conseguir ganhar dinheiro mais rápido do que conseguir imaginar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
2: Comprei a maioria das coisas que quis com a vida que levo. Sinto-me
independente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Só consigo pensar em dois , somente dois motivos para contrabalançar com
a enxurrada de fatos negativos que a mim cercam. Não queria passar um ar de
nobreza, nem fazer um manifesto ara
todas as mulheres virarem putas. Eu sei é contraditório, mas o que de fato tem
de correto em minha vida. Não são as putas , um paradoxo, usar a feminilidade
para sujar a feminilidade? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Certo sei que quando comecei esta vida, perdi o caracter e o pudor. Perdi
a noção do que é certo e o que é errado. Sou usada, já nem sei o que é mais
prazer. Exponho-me a tantos fatos e perigos que chego ao cúmulo de acreditar
que temos proteção , mesmo sem merecer.
Tenho , hoje, minhas virtudes apagadas.
Minhas memórias em branco. Já não me
curto mais, me enojo , me repudio. Sinto-me fraca, aliás todas nós nos
sentimos. Sou escrava do dinheiro. Começo a ter como moeda, programas. Com
quantos homens tenho que dormir para compara um carro? Hoje gosto do inútil. Arrasto-me na solidão e na anemia das
almas que usam e abusam da sua energia sexual.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p> </o:p><b style="text-indent: 70.9pt;">Que fim então mereço eu?</b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Poesia não se aprende, nem se herda, se nasce. Nunca tive pretensões de
escrever e ou de com maestria orquestrar palavras. Preferia driblar a poesia
com o corpo. Preferir o sexo ao soneto. Escrevi, pois achei interessante
exorcizar meu fantasmas de minha memória. Bom de fato hoje me sinto bem melhor.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Dois anos se passaram e de imediato posso dizer a vocês que larguei , ou
melhor deixei adormecida, a minha profissão. Minha vida mudou, mas não me
informei, nem me desperto da curiosidade de levar adiante o curso. Karla e
Luana continuam na mesma, embora elas jurem que será por mais um mês , até
pagar as contas. Quase a há uno vi Luana e a mesma me disse que havia sido
pedida em casamento pelo cliente japonês e que logo, logo estaria a solta desta
vida. Pelo que soube o japonês foi encontrado morto em um motel barato
asfixiado por um saco plástico. Talvez tentando algum método de prazer
alternativo. Karla nunca mais a vi, desde que sai do apartamento. Sai de cabeça
baixa, olhando mais detalhes do chão do que o rosto dela. Não sinto falta de
nada. As vezes só do sexo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Parei a faculdade e fui trabalhar como vendedora de assinaturas de
revistas. Trabalhei como telemarketing, vendedora externa, auxiliar de
escritório. Fui secretária-recepcionista-assistente administrativa . Sofri o
imaginável e o impossível. Não levei dinheiro da vida de puta. Aliás você nunca
leva, sempre te falta, quer sempre mais. Consegui guardar mais dinheiro hoje do
que quando fazia programas. Sou econômica. Esqueci minha família, talvez por
complexo de culpa, sei lá.<b><u><o:p></o:p></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Em dois anos dormi com poucos homens. Mas sempre me entrego fácil.
Esqueci minha família, talvez por complexo de culpa, sei lá. Em uma dessas
entregas, me apaixonei, nos apaixonamos e estamos aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Ë difícil escrever sobre a gente , então decidi preserva-lo. Casei-me, pelo menos em sonho.
Senti-me esposa pela primeira vez, toda de véu e grinalda, andando pelas ruas
vazias. Apaixona e levemente febril. Meio suada e borrada. Decidi então que
seríamos só nós. Quis sempre proteção,
braços fortes, vida, carinho, conforto, amor, orgasmo, tudo só para mim. E de
graça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Acho que morri, entre sonhos e relatos. A maior revolução que poderia
fazer era casar. Ser o inverso, ser certa, centrada, eu. Aliás, nem sei o que
me levou ser tão irresponsável , ao ponto de comprometer todas a minha vida.
Fiz da minha vida ser embebida em revoluções e só consegui tornar-me mais e mais cheia de culpa. Não há caminho que
faça voltar , a ser o que era, o que pretendo ou desejo ser. Posso ter filho, marido,
ser avó. Mais não existe ex puta, sempre serei taxativamente e
irresponsavelmente uma leviana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Que direito tenho eu de envolver pessoas com meu passado? Quem sou eu?
Que na verdade haveria de ser uma mundana revestida de pudores. O que sou eu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
O complexo e a culpa que sinto jamais serão responsáveis pelo atos
corretos que tentarei seguir. Sou inútil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
Termino meu relato e endosso por completo toda a realidade que vivi. De
fato nada valeu a pena. Acho que a minha maior revolução ainda está por vir.
Sou mulher e nada tenho para sonhar. O fato é que todo o sonho de posse que
sempre quis está somente em minha mente adormecida. Que venham meus pulsos
reclamarem do que vou fazer...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 70.9pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b>FIM<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b><br /></b></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-13142918855599413032018-03-09T00:20:00.001-02:002018-03-09T11:30:57.628-02:00BAILARINA<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>BAILARINA</b><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
para moimoi</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDdFWnSIToQzEykNuGz5iz42V2kw7Hd3AiOy_CDCaPJMEImbFD4BoQ5x60H3zFV2mMFhx223K4xrt1s2dkGYCno9-RYjz_tKZdDopxR6k3Sn5Ma1DN_GaSCRH1S2583cmA_7i2/s1600/aba_laura-flores.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="700" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDdFWnSIToQzEykNuGz5iz42V2kw7Hd3AiOy_CDCaPJMEImbFD4BoQ5x60H3zFV2mMFhx223K4xrt1s2dkGYCno9-RYjz_tKZdDopxR6k3Sn5Ma1DN_GaSCRH1S2583cmA_7i2/s400/aba_laura-flores.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Tens os pés com essa sina<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Bailarina...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Na ponta, no estilo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Com sua beleza , eu retiro:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Qualquer elogio a outra mulher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Rodopia e completa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
De forma discreta<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nossa vida no teu giro...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Com sua beleza , eu retiro:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Qualquer elogio a outra mulher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO0sXeNxmcckFaNn6tNhjzbg0sktrFpmoMlaD6_CYhFpdGFLE39mJZ-EWdFRaJtqCvz-1hZLH7SXCMdQ38wHZbBDx8Z6peHy-3TWBg1vz_vFR0Nz2-OJCHtaU7JScBZEkRQd-Y/s1600/12122945824120-t1200x480.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO0sXeNxmcckFaNn6tNhjzbg0sktrFpmoMlaD6_CYhFpdGFLE39mJZ-EWdFRaJtqCvz-1hZLH7SXCMdQ38wHZbBDx8Z6peHy-3TWBg1vz_vFR0Nz2-OJCHtaU7JScBZEkRQd-Y/s400/12122945824120-t1200x480.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Dança comigo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Faz o que quer.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Interpreta suas leis<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Minha doce mulher...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Me refaça, me beija<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Provoca -me, me deixa tranquilo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Nos meus versos eu insiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Meu amor, por ti mulher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-27212674633053145952017-12-10T00:43:00.002-02:002018-08-27T11:29:09.920-02:00ESTALO<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ1bCcuFx84r6cGTLsMp3AfHLYdKfKc-3hEPfYyzX6n0YQzFRhXpMy-guqPpRRp1sqsGRBGGMrPBoLwkWDEb66hatm0-qQBYxCpdswI03GYm7peAAI8L-6e8JMoS3_pqwoQbZ/s1600/4708076842_369162da24.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="292" data-original-width="500" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ1bCcuFx84r6cGTLsMp3AfHLYdKfKc-3hEPfYyzX6n0YQzFRhXpMy-guqPpRRp1sqsGRBGGMrPBoLwkWDEb66hatm0-qQBYxCpdswI03GYm7peAAI8L-6e8JMoS3_pqwoQbZ/s400/4708076842_369162da24.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
ESTALO<br />
<i>para Moi</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Quero ver as estrelas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
ao teu lado...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Calado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Ver os sons do espaço...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Os sonhos que nos espera se voarmos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
Um sono na tua mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
O que nunca vamos ver ou tocar?<o:p></o:p><br />
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Lá distante, bem distante<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
quero teu olhar!!!</div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-48908393037960819172017-11-13T21:15:00.000-02:002017-11-13T21:25:34.486-02:00O ANO EM QUE NÃO PECAMOS<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX_tRbqmhOn6kAskwq2hWBa0k6tR_gNLQbdD8D54RK_lRbY6zAQ7si8Y_aDpPJWjiIzNTrcKnIlVLHDrm7Rwo2z5baPGXhIQocn6GgYkKNCOJrHwb6BL0N-K8nwDv-HIh5O458/s1600/796px-Edvard_Munch_-_Separation_-_Google_Art_Project.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="599" data-original-width="796" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX_tRbqmhOn6kAskwq2hWBa0k6tR_gNLQbdD8D54RK_lRbY6zAQ7si8Y_aDpPJWjiIzNTrcKnIlVLHDrm7Rwo2z5baPGXhIQocn6GgYkKNCOJrHwb6BL0N-K8nwDv-HIh5O458/s400/796px-Edvard_Munch_-_Separation_-_Google_Art_Project.jpg" width="400" /></a></div>
<b><br /></b>
<b>Prólogo</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Estávamos todos sentados. Um a olhar ao
outro, entrecortados por lembranças
fúteis que só se vê em um velório. Era uma tarde fresca e bruta. Estávamos, eu
e Júlio, folgados em ternos maiores que nossos números. Fumávamos Belmont.
“Para morremos mais rápido”, balbuciava Júlio
sempre ao acender o cigarro. Já haviam se passado mais de três horas, depois que os corpos
chegaram. Era o velório mais longo que já se havia presenciado, a única coisa
que nos salvava a aquele martírio
fúnebre, era o café. Uma hora ou outra , ouvia-se um leve som de Vivaldi,
tocando alguma estação. Era outono, o melhor mês para se morrer. Todo o cenário
já está pronto pronto para receber a doce e velha depressão do inverno, no
outono as flores e as folhas migram para nosso coração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Em nenhum momento olhei os mortos, mas
ouvia-se comentários de que “estavam lindos”. Se é que pode haver defuntos com
alguma beleza a cativar. Estava tenso aquela hora, o café já não me servia e me
via a cada instante espremendo-se sobre pessoas que passeavam no salão (talvez
umas 35), e como era pequeno o salão.
Júlio estava mudo. A vista da janela me
incomodava, um cemitério longo e vasto, um sem fim que se perdia no horizonte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Verdadeiras esculturas se erguiam, e
parecia-me que quanto mais oponente o túmulo, maior o poder. O maior estava na
entrada, olhei-o quando entrei, era do governador Lelis de Castro. Eram três
metros de altura por cinco da largura, com seu busto todo em bronze e suas
letras cravadas em tom prateado com a frase abaixo mencionando: “Foi preciso
que ele morresse, para seu povo lhe dar valor”. Enquanto o tempo se arrastava,
lembrei-me de uma das estórias que o povo contava de que o Governador se
apoderou das pedras de cantaria e do portão do cemitério para coloca-los no seu
sítio em Cruz quebrada, onde foi encontrado morto. Os nativos da região balbuciavam
sempre essa estória, e ainda por cima diziam que ele fora vítima de uma
maldição dos mortos, que vieram para cobrar-lhe o que era seu. De fato o
Governador havia morrido esmagado pelo portão, mas provou-se mais tarde que foi
imprudência do pedreiro que colocara somente barro e algumas pedras para
segurar um portão de aço com mais de meia tonelada. Meses depois o pedreiro foi
entrado morto com a boca repleta de pedaços de blocos de concreto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Esse caso me veio a cabeça, mas
evaporou-se quando ouvi um grito de pavor e suspense, era a mãe de um dos mortos, ela começara a balbuciar algumas
palavras em latim, gritava, sorria e soluçava, de repente começou apontar para seu filho como se quisesse extrair
alguma culpa do pobre moribundo. Era Heliodora Bernardes, fina
Sra. da sociedade que andava sempre bem trajada e orgulhava-se de ter a
maior coleção de jóias da cidade, “mais que a primeira dama do Estado”
gabava-se nos seus surtos de exibicionismo. Seu marido desde que ficara
impotente gastava quase toda sua
aposentadoria em jóias para a mulher. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Alias, foi ele que se aproximou dela
primeiramente para tirara-la de perto dos dois caixões. Todos estavam
completamente estáticos com aquela cena,
uma mulher tão fina, sujeitando-se a
baixaria de lamentar duas mortes em público. Parecia completamente fora de si,
trajava apenas um roupão de banho e seus cabelos pareciam sair de uma
centrifuga com defeito. Mas em seu pescoço corria sua maior jóia, um cordão com os nomes dos seus dois
filhos cravados em diamante e rubi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Voltei a si quando Júlio pediu-me para
observar os comentários das pessoas no velório.
E tinha muitos comentários que voavam naquela pequena sala com cheiro de
flores baratas e cigarros angustiados. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Odeio outono, acho tudo triste, mas parece
que com o cair da noite torno-me mais vulnerável, mais triste, mais insano.
Ainda mais por estar em um velório de dois grandes amigos. Ficara só, Júlio não
agüentou a família se recompor para
concretizar o enterro. E as cinco e quarenta da tarde o padre autorizou os
seguranças fecharem os caixões e para enfim enterramos os corpos. Não quis segurar um dos caixões,
também nem tentei, muito menos esperava que alguém me convidasse. Não vi
ninguém tomar a iniciativa, mas também pudera, uns brutamontes faziam uma
barreira impenetrável , que impediam qualquer ser humano de tomar uma iniciativa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O padre pediu desculpas a todos os
presentes pela ausência dos familiares dos dois mortos, alegando choque
traumático em todos os próximos dos defuntos ali presentes. Depois de dizer que
aquele caso era a maior e mais dramática história que já havia presenciado em
sua vida, e pediu a todos que esse exemplo fosse visto para não ser mais
repetido. E sua últimas palavras ficaram cravadas em minha memória, pois ele
recitou um poema de Thiago de Mello enquanto os caixões desciam. “A morte é
indolor. O que dói nela é o nada que a vida faz do amor. Sopro a flauta
encantada e não dá nenhum som. Levo uma pena leve por não ter sido bom e no
coração, neve”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
E insistiu para que a cidade ficasse de
luto durante todo o mês, para que ficasse na memória de todos o caso de amor que jamais poderia ser repetido.
Quando os corpos desciam, eu sentia que minha cumplicidade também descia com
eles. Depois daquele dia eu e a cidade nunca mais existimos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Capítulo I<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Era impossível não notar o talento que se
dispertara em Paulo naquele ano. Em menos de três meses o menino prodígio
escrevera 100 poesias e 3 contos. Todos os seus escritos eram recheados de
metáforas e todo o conjunto de estilística que só o mais rebuscado escritor
contera. Seu talento fora descoberto por seu professor de Matemática. Poucos
minutos após passar um exercício de equação, notara que Paulo não se
concentrava em cálculos e sim estava mergulhado em mais uma ode ou balada, que
dedicaria mais tarde ao seu amor eterno.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O professor não pensou duas vezes para se dirigir, com
seu passo manco, à carteira que presenciava o surto de criatividade de um poeta
que nascia. Ao chegar à carteira, viu aquela figura minúscula, entretida e
completamente entregue aos seus manuscritos. Como era indefesa ! Parecia não
notar o semblante rústico do velho professor de Matemática.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O professor leu rapidamente umas estrofes do poema. Leu
pouco. Mas foi o suficiente para pedir ao sexagenário professor de Português
prestar atenção aos escritos daquele menino franzino.O professor nunca prestou,
mas o diretor sim. E gostou do que leu. Muito mais, ficou impressionado com o
tamanho talento que crescera em sua escola. Promoveu, um mês depois, um
Festival de Contos e Poesia: um mero pretexto para fazer Paulo ser reconhecido
por seu dom. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt 191.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo, como fora previsto, ganhou nas
duas categorias. O conto falava da estória de uma menina que passa toda a
infância vivenciando uma guerra e imagina que a paz é um intervalo entre uma
batalha e outra. Já a poesia era um soneto que comentava a dor de um homem que
perdera a inspiração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo fora aclamado pelo diretor da escola e todos que
ali estavam naquele dia tiveram a certeza de que naquela cidade nascera um
escritor. Filho único por circunstância
do destino, pois perdera seus irmãos mais velhos de um surto de tosse braba,
que matou metade dos anjos daquela cidade, Paulo crescera sem vícios e sem
parâmetros. Com exceção de uma ou outra tragada de cigarro, nunca fumava. A
única vez que bebera foi quando amanhecera entre as doces pernas de Mãe Preta,
a prostituta que iniciava todos os adolecentes bêbados da cidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Era católico, mas não fora crismado, pois desafiara o
padre ao dizer que Jesus Cristo era negro. Desgosto que sua mãe levara para o
todo o sempre junto com seus dias.Estudara toda sua vida na única escola
estadual daquele município. Anos mais tarde, escreveria uma crônica para o
Jornal A Queixa, de que fora essa a única dívida que tinha com o governo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Era um menino bom. Bom não só por não ter contraído
vícios durante a adolecência, como também porque soubera levar sua vida pacata
sem reclamar um centésimo de seu tédio. O
fato que o fizera ser retirado de seu ambiente foi uma de suas poesias ter sido
premiada no 700<sup>o </sup>Concurso da Capital. Ficara também em 1<sup>o</sup>
lugar com o conto “em que devo votar”, em que uma bancada magistral na
esquerda, que ao mesmo tempo que reclamava não tinha, em sua opinião, forças
para levantar o governo. E fora com este conto, tido como reacionário, que Paulo
Guilherme Vitto conquistara a Capital.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Tudo indicava que seria esse o caminho que o menino de
ouro seguiria, mas Paulo contrariou à todos e foi fazer Engenharia Elétrica:
“para aprofundar-me no que tenho de mais franco”. Seus pais perceberam ali que
não o conheciam..<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Capítulo II<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa de Monteiro
Cruz nascera na Capital, no dia 09 de março de 1974. Era outono e seus pais mal
sabiam que nasceria ali sua única filha. Devido a uma inflamação, dois anos
depois a Sra. Carla Monteiro teria que extrair seu útero e ficar “uma mulher
sem função”, como costumava dizer depois do ocorrido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa era profundamente perfumada. Um perfume natural, que
escorria da pele como flor. Era branca, como a revoada de cisnes sobre o lago.
Adorava ver crianças brincando, embora ela mesma, em sua condição, detestasse
brincar com outras da sua idade. Era só. Tinha a capacidade de concentrar-se em
um mundo só seu, mesmo que o mundo real teimasse em contrariar-lhe as idéias.
Crescera em um ambiente de amor e felicidade. Fora sempre mimada e educada para
ser independente. Aprendera a nadar com cinco anos e passou sua infância
solitária, a travar uma luta consigo mesma para bater seus próprios recordes.
Queimara bonecas, em sua imaginação, para sacrificar á Deus. Não rezava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Não estudava, somente 3 horas antes da prova. Seguiu à
risca todos os ensinamentos da mãe. Tornou-se tão independente que, aos treze
anos, já ia de carro à escola. Fez curso de inglês e ria da pronúncia de seus
amigos, nas sonolentas aulas da matéria na escola. Era tímida, porém
intrinsecamente gostava de ser observada. Adorava ler prosa e não se
concentrava em poesia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify;">
Se sentia tão
melancólica, que as vêzes beirada a depressão. Era só. Tinha dúvidas quanto ao
seu futuro. Ficou tão indecisa que só escolheu o curso na fila de inscrição do
vestibular. Ocorrera por sua cabeça milhões de idéias.... até que, por seguir
um surto de lucidez, resolveu fazer Psicologia. Seus pais nada comentaram. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Ela pouco importou-se.
Seguiu sua vontade impulsiva, assim como fez-se em delírios extremos e fechou
seu coração por meses. A faculdade começava no fim do verão. João de Monteiro
Cruz morrera em uma das noites mais quentes daquele verão. Era um homem
discreto. Passara sua vida quase imperceptível. Tinha os olhos de Monalisa:
parecia nos observar em todos os cantos e becos. Casara-se duas vêzes. Três
filhos. Os dois filhos do primeiro casamento o haviam abandonado. E ele tinha
um desgosto imenso com a personalidade de todos eles.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Em seu segundo casamento, com Carla Bel Monte, toda a sua
alegria foi recauchutada. Era expressivo e carinhoso com sua segunda esposa.
Não quisera filhos e jogara todo o seu rancor sobre sua doce filha, quando
nascera e, principalmente, quando crescera. Foi um pai ausente durante toda
a vida. Os dois trocaram poucas
palavras. Segundo a Sra. Carla Monteiro, as últimas palavras que ele
pronunciara antes de um infarto lhe vencer aos 62 anos foram: “Isa, não ame”.
Isa só saberia daquelas palavras de seu pai quando sua mãe, em seu leito de
morte, lhe as balbucia-se exatamente como seu marido fizera. Infelizmente, de
nada mais adiantariam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa ficara,
durante todo aquele ano, mergulhada em estudos. Não que amasse Psicologia.
Achava Freud “<i>objetivo e determinista
demais</i>”, e Jung “<i>relativo demais</i>”.
Na verdade, no fundo não entendia nem tinha vocação para a mente humana.
Estudava para esquecer a dor de um pai ausente, para compensar a falta de um
amigo, companheiro, que lhe ouvisse. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Tudo lhe fazia falta. Desde o simples ato sexual à doces
palavras de amor. Sua mãe se perdera no tempo. Ela agora estava só. Era, entre
muitas outras pessoas no mundo, alguém que se sentia só. Até voltar seus olhos
para um livro que mudaria completamente sua vida.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt 99.25pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Capítulo III<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 42.55pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo estava no segundo período do primeiro
ano da faculdade, e todo o seu tempo disponível era dedicado a sua produção
literária. Sua bolsa de estudo lhe era garantida àquele ano com a condição de
que o mesmo produzisse dois livros, um em prosa e outro em verso. E Paulo não
desapontara a Secretaria de Cultura da Capital. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Produzira
primeiro o livro de poesias intitulado “Era”.
Usava sempre as festas da faculdade para se promover. Ia em todas. Foi
vaiado por punks ao interromper uma festa para declamar seus poemas. Fazia
destes atos impulsivos uma espécie de marketing para se auto-promover. Era um
péssimo aluno, no entanto não só de notas vivia. A faculdade era seus arrimo.
Morava a duas quadras de lá, onde almoçava e jantava. Só voltava à sua casa
para dormir. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Era conhecido em todo o campus. Seus poemas ecoavam em cada canto
daquele território. Estava sempre em primeiro lugar, à frente de qualquer
discurso ou fórum social ou político. Estava tão decepcionado com sua vida de
estudante universitário que decidira contar tudo em 217 versos, completos e
herméticos, em rimas alternadas e consideradas por Josué Estrelas (colega de
falculdade) como a obra mais complexa de toda a Literatura Mundial. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo intitulou-o “Psicologia do Medo” e lançou-o, é claro, no auditório
do campus central. Tratou de pedir à gráfica cartazes e folders para o seu
lançamento. E como faria mais tarde em todo
livro seu que viria a lançar, convidou os líderes de cada curso,
autoridades dos departamentos, a imprensa local, divulgou na rádio (ao som de
“Blues Give”), proclamando que este livro dissecaria mentes e atropelaria
provérbios. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Fora perverso durante as poucas palavras
que declarara naquele comercial de apresentação. Dispensou o reitor, poupou o
diretor do banco, que lhe negara créditos, sobretudo o cartão, de não ir. Pediu
aos dementes de plantão, às putas universitárias, aos professores medíocres e à
todos os vendedores de balas, que comparececem ã noite. Falou que não
distribuiria autógrafos e assim o fez.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Depois
de toda esta revolução de marketing, Paulo, a poucos minutos do lançamento, só
conseguia sentir uma coisa: medo.Isa soubera do lançamento pouco mais de duas
horas antes do acontecimento. Ouvira na rádio o comercial e achou-o
pretencioso, mas ao mesmo tempo libertino. E, acima de tudo, o título aguçara
sua percepção. Resolvera que iria até lá, e o fez. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O
auditório estava cheio. Os amigos de Paulo, Presidentes dos D.A.‘s, os
vendedores de balas, os garis que ali passavam, algumas universitárias de
plantão, uma ou duas putas, nenhum professor, quatro ou cinco diretores de
cursos e somente um pro Reitor (de pesquisa e extensão). Todos formavam um ar
denso e estavam apreensivos se haveria ou não a leitura dos duzentos e
dezessete versos em rimas alternadas, que contavam a tortura de um estudante
suicida que não encontrava satisfação pessoal em nada e frequentemente tinha
crises de medo perante todo o seu Universo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa
chegou no horário em que Paulo chegou. Entraram juntos. Olharam-se, mas não se
virão. Ela de vestido vermelho longo (com um decote profundo que deixava à
mostra os ossos grandes das costas), com sapatos pretos que cintilavam leves
pedras de strass. Paulo com seu “velho companheiro, meu terno preto”, sapatos e
cintos marrons, camisa branca e a gravata que tinha em estampa uma foto de um
homem completamente sem dentes, sorrindo com uma lua ao fundo de sua boca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa
sentou na fila C, na cadeira 3. Ele continuou em seus passos lentos e fóbicos,
com a ânsia de quem quer pisar nos pólos da terra. “Sras e Srs, o livro está pronto ! São duzentos e dezessete versos, com rimas alternadas, que
falam e decifram o medo. Não sou formado e nem estudo Psicologia. Estudo
Elétrica, mas sou humano e isso basta. O livro custa R$ 25,00 reais e não darei
autógrafos. Somente para minha mãe, Deus e à mulher que amo, abriria uma
exceção. Como minha mãe nem sabe que estou lançando um livro, Deus ainda não
sabe que existo e minha amada ainda reside em meus sonhos, deixo à todos o meu
carimbo ao lado, com a seguinte mensagem: “<i>Obrigado
por ler, boa noite.”. </i>Obrigado à todos boa noite.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“Mas
que diabos ! Você não vai ler nada ?” resmungou um baleiro conhecido seu, que
fazia tráfico de cigarros da Indonésia, proibídos pelo Reitor naquele Campus.
Paulo então leu uma página qualquer, uma estrofe solta:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“
Solto no meu arbítrio tosco,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
emerjo sobre um mar pútrido<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Para espargir em um sonho fosco<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O vendaval trépido e lúdico.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“É
só, boa noite.”. No mesmo instante, Isa se aproximou das escadas e
encontraram-se em caminhos opostos. Ela já estava com o livro na mão e pediu-lhe um autógrafo. Paulo a interrogou:
“À quem devo oferecer?”. Isa não pensou e disse-lhe: “À sua Amada”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<b> </b><b>Capítulo IV<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo
estava sentou-se na varanda da casa nova, que acabara de alugar, e sentia que
algo mais faltava em sua vida. Estava trabalhando em seu primeiro romance, uma
encomenda da Editora Better, que havia lhe dado esta oportunidade, pois
acreditava que encontrara ali um talento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo
aceitou de imediato a proposta, só não sabia ao certo o que iria escrever. Sabia que o livro conteria 753
páginas, nenhuma a mais, nem a menos, nada mais. Começara então a escrever o
livro das tais 753 páginas durante todo o verão. Algo estava faltando, não
sabia bem ao certo, mas por um instante pegou-se pensando em Isa. Aquele
vestido vermelho não conseguia se antepôr à personalidade dela. Estava ali,
vista em seus gestos, olhares e voz. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
E foi pensando nos atos de Isa que
lembrara da última frase que ouvira dela <i>“À
sua Amada”</i>. Havia ali uma mistura de sarcasmo e inteligência ? Ou seria ela
a detentora de seus segredos amorosos ? Não importava mais o que pensava. Tomou
um banho rapidamente e lá foi Paulo Guilherme Vitto ao encontro de sua “Amada
Isa”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
A única lembrança que tinha em sua memória
era que, naquela noite do autógrafo, Isa havia lhe pedido que oferecesse o
livro ao Departamento de Psicologia, para sua professora de Metodologia
Científica. Ele achara inusitado, mas oferecera o livro à tal professora.
Poderia até ter oferecido um à ela também, mas não o fez. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
De posse desta lembrança, dirigiu-se ao
Departamento e informou-se com a secretária o seu nome completo e endereço.
Ficara pronunciando seu nome na mente por alguns instantes: <i>“Isa de Monteiro Cruz”</i>. Soubera também
que ela morava um pouco distante e somente com a mãe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Ao chegar no tal endereço, deu de cara com
a Sra. Carla Monteiro. Os dois se olharam profundamente, como se conhecessem-se
à anos. Paulo irrompeu o silêncio dizendo: “Boa tarde, gostaria de falar com
Isa”. Sra. Carla, ao mesmo tempo em que o olhava da cabeça aos pés, respondeu:<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“Pois não, já vou chamá-la”. “Ah.. diga à
ela que eu...” Sra Carla virou as costas e não esperou que Paulo terminasse sua
frase torta e sem verbos, meio que para disfarçar sua timidez. Sentada à porta do seu nervosismo, se viu a
admirar as flores do “Jardim de Isa”, que assim batizaria mais tarde. Seus
pensamentos foram interrompidos pela doce e frágil voz de Isa Monteiro Cruz.
“Oi, o que deseja ?”. “Oi Isa ! Na verdade eu tenho um convite a lhe fazer, ou
melhor... em primeiro lugar, gostaria de entregar-lhe um exemplar de meu livro,
sabe, pois acho que a sua professora ficou com o outro”. “Ah, sim... obrigada
por ter lembrado. Como é o seu nome mesmo ?” . “É Paulo... Paulo Guilherme
Vitto” . “Lembrei ! Você é o escritor. Obrigada pelo livro ! Mas... e quanto ao
convite ?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo
era um escritor de poesias e contos, sintético e rápido, um homem de falas
certas e pensamentos avulsos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“Isa, você quer namora comigo ?” <i><o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Capítulo V</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Em
todos os locais na faculdade, eles só andavam juntos. Comiam juntos, estudavam
juntos Psicologia, pois Paulo se recusava a estudar Elétrica, e todos os
momentos da vida de Paulo, todos, não existiam sem Isa. Ela discutia sua obra,
opinava, criticava, concordava e fazia jus à todos os verbos para completar a
vida de Paulo. Foi um relacionamento que se formou de maneira tão rápida que
assustou a Sra. Carla Monteiro. Mas Isa sempre a acalmava: “Mãe, Paulo me faz
sentir segura. Não sei bem ao certo, mas me faz sentir assim.” . “Mas filha,
vocês nem chegaram a ser amigos !”. Isa resumia sempre na sua velha convicção:
“Mas mãe, amigo não se beija na boca...”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo
acabara de falar com Isa ao telefone e declamara sua vigésima quinta palavra de
amor para ela, o que a fazia sonhar em um mundo de sonhos, um atrás do outro.
Ela se imaginava sonhando e assim sucessivamente, um sonho atrás do outro.
Parecia mesmo desligada da realidade. Ali nascera todas as palavras que Paulo
pronunciava em sua mente, verso a verso, estrófe a estrófe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Quando desligou, Paulo caiu em si e imaginou que o seu livro de 753
páginas estava tão perdido quanto seus pensamentos. Resolvera então parar na
página 653. Foi aí que tivera a idéia que aos poucos trabalharia em sua cabeça.
“A Novela da Vida Humana !”, como intitulou,
seriam 6 livros de uma grande novela, onde em cada capítulo um fato da
vida humana seria descrito com exaustão. Fatos universais tais como o Amor, o
Ódio, a Traição, o Medo, a Felicidade e a Morte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
De manhã, Paulo ligara para seu editor e
blbuciara três palavras. Aquilo rondava a sua cabeça como uma música suave que
dançava e ecoava sons de caixas registradoras. “Nós estamos ricos !”, gritara
Paulo. “O quê ? Você já terminou seu livro de 653 páginas ?”. “Que nada, Célio.
Eu comecei foi a escrever a vida humana !”.Isa apoiara completamente a idéia de
Paulo. Ele que só pensava em acabar o primeiro livro, foi profundo na arte em
que tomou para si. Era um fracasso na faculdade e sua paixão por Isa foi
processada e moída junto com sua inspiração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
“Isa, me ame, me ame forte, pois o livro é
sobre o Amor.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
A idéia era simples, porém parecia fluir
em sua cabeça como se já estivesse lá. Só ia abrindo a porta e seus personagens
saíam, um à um, prontos para vivenciar as situações que o autor desejava. Ele
dissertaria sobre os temas em um único ambiente: uma cidade imaginária, com
personagens pseudo-imaginários, pois todos os tipos de pessoas que conviveram
com ele estavam lá, sua mãe, seu pai, seus professores primários, Isa, Sra.
Carla, os vendedores de bala, todos, de forma seca e clara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Passadas duas semanas de lançamento da
“Novela da Vida Humana”, com o Capítulo “AMOR”, Paulo já colhia os frutos do
sucesso de vendagem e crítica, mas acima de tudo, o livro havia agradado a Isa.
Era o que lhe bastava. Todos os seus atos de amor estavam contidos ali. Isa era
só calor. Uma temperatura que circulava sua áurea, transbordando paixão e
poesia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Casaram-se, amaram-se e rodaram o mundo
real e fictício. Juntaram-se em uma realidade perigosa, que é a da imaginação.
Viveram o seu mundo, fazendo de suas rotações um eixo que só se quebraria mais
tarde, com a morte dos dois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo estavaem um período tão fecundo, que
escrevia dois livros ao mesmo tempo “O ÓDIO” e “A TRAIÇÃO”. Começara mais um
surto de criação. Dormia pouco, falava pouco e sofria muito com sua coluna. Isa
interrompeu este processo e falou: “Paulo, mamãe não gostou do primeiro
capítulo de ÓDIO”. “Ótimo Isa, vai ser um sucesso”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 106.35pt; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Capítulo VI</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Depois do lançamento duplo das novelas,
Paulo decidira que finalmente iria ficar no mínimo seis meses descansando ao
lado de Isa. E assim o fez. Na verdade não ficaria seis meses, mas todo o ano.
Ele e seu amor organizaram sarais, jantares, tudo em nome <i>“da poesia e da literatura”, </i>como costumava dizer Paulo. Mas o
certo é que eles não tinham acabado a faculdade e nem ele, nem Isa, tinham
planos para tal. Não passava por sua cabeça
o fato de que ainda tinha que produzir, em menos de dois anos, três
livros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
O fato que marcou ainda mais aquele ano,
além da mesmice e das poucas horas produtivas, fôra a morte da Sra. Carla Monteiro Cruz. Morrera
às 16:00 hs, no momento em que a Catedral da cidade proferia as badaladas
rotineiras das horas e horas. Possivelmente teria sido um infarto, já que
reclamara de fortes dores no estômago e de uma fadiga intensa em seus braços.
De concreto, nada; nem prognósticos. Mas para Isa o que realmente marcara
aquele ato fúnebre não era a morte em si de sua mãe, não era o fato da perda,
nem tão pouco a importância que sua mãe representara para ela. O que marcara
Isa naquela morte foram as últimas palavras ditas pela sua mãe: “Isa não ame”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Aquele ano começara de maneira frenética
para Paulo, ele nem mesmo quis saber de festas, comemorações ou champagne.
Começava na virada, em pleno Reveillón, a sua retomada literária. Era um verão
espetacular, magnífico e que dava uma disposição necessária para ele ou qualquer
outro poeta escrever.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Já sabia que “O MEDO” não seria fácil
desenvolver, mas mesmo com a toda a insegurança, sentia que ao mesmo tempo era absorvido por um ar de
inspiração que nunca lhe havia tocado.O que mais comovera Isa foi a dedicatória
que lêra naquilo que Paulo chamava de <i>“candidato
ao lixo se não convencer”. </i>Eram doces palavras do autor dedicadas ao seu
amor :<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>“Isa não tomes o caminho incerto, uma curva, um arbítrio.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>Não coma do dia toda a certeza de que dele tragará.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>Traga para mim,<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>a fonte, o brilho.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>O Amor, traga para mim.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>E o solte. Solte a fumaça de sua boca,<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>para tornar minha vida mais louca,<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>cheia de imperfeições e nuvens.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 42.5pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<i>Mas sem medo de estar em ti”.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Do verão ao outono, Paulo não produziu
mais nada. Além de doces poemas dedicados a Isa e fortes pensamentos escritos
ao léu. Dedicara todo o verão a amar, no sentido físico e espiritual da
palavra, Isa. Ela percebia que quanto mais era amada, menos produzia. Quanto
mais se dedicava à ela, menos se entendia com os verbos. Não escrevia nada,
absolutamente nada, ficara cego de pensamentos. As palavras, todas elas,
estavam ali. Livres e perplexas por verem que Paulo não as via. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Estavam todas querendo, uma sofrida que
fosse, participação em sua vida. Mas o amor não deixava. Parecia irônico,
escrever sobre o medo, pois era isso que sentia ao perceber que seu amor
barrava a sua felicidade plena, era a morte para sua criação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Os editores durante todo ano pressionaram
Paulo para sair pelo menos uma novela. Até propuseram, no auge do desespero,
que ela seria publicada em capítulos avulsos, em uma promoção conjunta com o jornal Diário da Manhã. E <i>a posteriore</i> a novela seria editada por inteiro. Todas
essas medidas agradavam Paulo e ele entendia a pressão que sofria, mas de nada
adiantava que ele fosse pressionado, pois não conseguia produzir senão mais que
meia dúzia de palavras foscas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Foi quando em uma noite fria de inverno, Isa Monteiro Vitto, resolveu
abandoná-lo. Pois, embora não entendesse, estava clara a proporção inversa que
ali existia. Quanto mais amava, menos ou
nada Paulo produzia. Juntou toda a sua lógica, refletiu sobre toda a sua vida,
juntou frases, momentos, dores, egoísmo, orgulho, sabedoria e um incrivel e
frio senso de lógica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Isa partiu para nunca mais encontrar
Paulo. Partiu com a certeza e o ódio de que nunca mais amaria ninguém. <i> <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 0cm; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<b>Epílogo<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 0cm; text-align: center; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo nunca entendeu a
atitude de Isa, mas o certo é que depois de sofrer com processos e amor
frustado, nunca mais fôra o mesmo. Andava solto, como verme, <i>“uma bactéria a produzir pús”.</i> Dormia
com várias mulheres, outras nem tão mulheres, putas bêbadas. Tinha o requinte
de comer pratos finos de dia e anoitecer arrotando rum. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Formou-se em Engenharia
Elétrica. Seus pais não mais cogitavam em ajudá-lo. Em uma madrugada de verão,
ligou para seu antigo editor e rastejou
doces palavras : “Tenho as três últimas novelas prontas. No mais, quero
meu contrato pago como combinado e que retirem todo o processo”. O editor
parecia que estava vivendo um sonho, mas estavam lá, as três novelas reunidas em
um único volume. “<i>753 páginas de poesia e
sucesso”, </i>dizia com entusiasmo Célio, o editor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
E Célio não errara.
Estava tudo contido lá, todo seu estilo, toda a sua obra. Nem é preciso falar
que o livro fôra um sucesso. Paulo fôra movido pelo ódio intenso da perda e da
atitude de Isa em decidir lhe abandonar. Era o fim, o fim de tudo. Ao mesmo
tempo, fôra abordado pela vontade insípida de voltar a escrever. Suas idéias
brotavam com o tempo e o próprio tempo encarregou de fazer a sua obra ficar
perfeita.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Paulo Guilherme Vitto
escreveu sobre o medo inspirando-se na
trágica história em que passava. Tivera medo de perder Isa, perdera. Fôra
feliz, e sabia que não mais seria. Descreveu sobre os dois temas com ar de quem
era PHD no assunto. 500 páginas para o MEDO, 252 páginas para a FELICIDADE. E
reunira em uma única página, não a morte física da carne apodrecendo e o
espírito elevando, escrevera e ditara para si a morte que supreenderia a todos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Matou ao mesmo tempo sua poesia e seu imaginário. O enterro simbólico de sua
vida propriamente dita. Parecia que ali ele jogara todo o rancôr do medo de
perder Isa e a felicidade que tivera ao amá-la.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
Parecia uma vingança,
mas era uma tétrica coincidência. Depois daquele último capítulo, morrera para o mundo, mas continuava vivendo,
como se quissesse falar a todo momento: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<b><i>“Isa, me
ame”.<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<b>FIM<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; tab-stops: 99.25pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
José Viana Filhohttp://www.blogger.com/profile/07313480962038756106noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-16382656.post-38533849315523295362017-09-08T18:21:00.000-02:002018-05-16T22:33:07.996-02:00SÃO FRANCISCO MARGINAL <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNU-nLhfVY-Wu28Tfzfzn7e0kl8LYaccoufZWJjYw50vO5bN8dJSxYbYeauIzvU_9tj8zul0m9JzZt_rHP47TIvFIEMjRlqzUWs-ejB925hQ7PpyPpuchHVUezarL06fYVwVYr/s1600/story-lucianfreud-072811-1425664844.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="369" data-original-width="630" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNU-nLhfVY-Wu28Tfzfzn7e0kl8LYaccoufZWJjYw50vO5bN8dJSxYbYeauIzvU_9tj8zul0m9JzZt_rHP47TIvFIEMjRlqzUWs-ejB925hQ7PpyPpuchHVUezarL06fYVwVYr/s400/story-lucianfreud-072811-1425664844.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -60.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
I – ENQUANTO EU SEI QUE TEM TANTA ESTRELA POR AÍ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Era rotina , naquele verão,
chegar e apanhar em casa. Mamãe sempre me batia com força na cabeça. Já tinha
até acostumado. Relaxava os músculos do pescoço e a deixava bater sem deixar
cair uma lágrima. Toda vez que minha mãe pegava meus escritos , poemas sem
sentidos, soltos ,pelo quarto, começavam as pancadas. Não admitia , em hipótese
alguma, um filho poeta ou desenhista. Queria um advogado, que cuidasse das leis
e da pensão dela, para quando ela se separasse do meu pai. Coisa que nunca
acontecia...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Mamãe me batia porque não tinha
outro escape. Seus tapas já não me importavam e muito menos sentia dor. Criei
uma rotina de desespero e angústia que suportava tudo. Eram tapas certeiros ao
pé do ouvido, que me deixavam horas sem escutar um som. Sua mão só diminuia o
ritmo, quando ela notava que não fazia a mínima diferença. Ela saia ralhando
pelos cantos e gritava do corredor que era pro meu bem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Eu ficava sentado na minha cama e
tentava pensar em uma música que me desse conforto para aquelas horas. Às vezes
me pegava cantarolando S.O.S de Raul Seixas. Uma canção que pede para Ets o
levarem da terra, com tanto estrela por ai... Às vezes queria ser super-herói,
sem roupa espalhafatosa ou fantasia idiota, queira sair andando por ai,
salvando vidas enquanto fugia de mamãe para escutar o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO II – EU CONHEÇO BEM A
FONTE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Quando me trancava no quarto para
estudar para alguma concurso de algum tribunal qualquer, minha mãe se
orgulhava. Vinha meiga e convencida de que eu seria alguém na vida ,exercendo o
Direito e perdendo a vida entre papéis e memorandos. Estudava e fazia seu
gosto, mas no fundo sabia que exercer Direito não passava pelo meu destino.
Muito embora tivesse me formado e, ainda, contra minha vontade estar estagiando
em um escritório de um tio meu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Papai era uma sombra, mais
daquele homem amargurado e sem vida que lia jornal e só me observava com os
olhos,tinha um homem que desconfiava que eu estava me tornando ele. Vez ou
outra, ele me pedia para ver meus desenhos e poemas. E me perguntava onde era
minha fonte. De onde decalcava os desenhos. Sem entender que criava aquele
mundo, embaixo dos livros de Direito enquanto fingia estudar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Somente eu, conhecia bem a fonte
daqueles desenhos. Aquilo para mim era minha maior obra. Tinha um falso orgulho
de criar mundos e galáxicas. Enredos e estórias que , somente eu, e às vezes meu
pai, lia. Sabia que pelo seus olhares, ele não confiava que eu poderia criar
aquilo sem meramente copiar. Isso me deixava orgulhoso, meu pai inerte e
controlado pelos gritos de mamãe, não confiava em mim. Eu agradecia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -63.0pt; margin-right: -69.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
III – COMO É QUE POSSO LER SE NÃO CONSIGO CONCENTRAR MINHA ATENÇÃO? <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">A vizinha do andar debaixo me
convidou para ensiná-la álgebra. Sendo que antes já havia dito que odiava
matemática. Que para mim os únicos cálculos que sabia eram as métricas dos
poemas. Mas ela queria aula. Queria a forma mais pura de se aprender anatomia.
Queria me entupir de beijos enquanto respirava fundo. Queria sentir o meu sentido
no peito dela. Queria muito,muito. E eu a desejava de forma sistemática e enfadonha,
continuamos por um longo tempo nessa forma estranha de se analisar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Érica era seu nome, quinze anos e
muito hormônio para dar. Eu, com trinta e três, sabia bem o mal que havia me
envolvido. Mesmo sabendo que fora seduzido por ela, não teria provas
suficientes para dizer a todo mundo que ela que me tirou da minha tosca rotina
para entrar no seu mundo pervertido e sexual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Foi Érica que me deu coragem para
encarar o mundo, enfrentar ou pelo menos ter coragem de fugir das surras de
minha mãe. Foi ela, com sua juventude pervertida e seu ar clichê de lolita que
me fizeram balançar o sangue no meu tosco corpo. Foi dos seu sussurros de quero
mais que tive a sensação de que aquela vida já não me bastava.Foram dos seus
gritos e de seus cálculos mal feitos que surgiram em mim a coragem que tanto me
faltava e que me faziam aguentar heroicamente todos os chutes e pontapés, tapas
e arranhões de minha mãe. Foi Érica que roubou minha atenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-right: -69.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
IV – E DAS TEMPESTADES JÁ NÃO TENHO
MEDO <br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-right: -69.8pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Tinha acabado
de voltar das aulas do curso preparatório, quando minha mãe me aguardava com
cara de juiza na sala. Meu Pai se retirou selencioso e balançando a cabeça. Estavam
na sala, sobre a mesa, toda a minha coleção de Hustler. Como ela havia achado
aquilo? meu maior segredo escondido e calculado para nunca ser encontrado.
Havia feito um fundo falso na última gaveta do meu guarda-roupas e colocado por
cima todas as minhas apostilas de Direito, impossível de serem achadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Depois de um
sermão de quase meia hora, ela me deu a maior surra que já havia dado.
Desgastou seu chinelo , passando para qualquer coisa da sala que estava a seu
alcance. Fui atingindo por um cinzeiro que fora do meu avô e de vários objetos
, seguidos de diversos tapas e telefones no meu pobre ouvido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";"> O show de ódio só não foi maior por que foi
interrompido pela Érika e sua mãe. Impulsionada pela filha, as duas subiram
para verificar o barulho. Mamãe vermelha e desconcentrada foi abrir a porta,
esquecendo seu filho jogado no sofá e com vários hematomas no rosto. Sai devagar
para o quarto a ponto de somente trocar olhares de gratidão com aquela menina. Triste
saldo de um dia, minha vida salva por uma debutante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -45.0pt; margin-right: -51.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
V – <span style="color: #333333;">NÃO SEI ONDE EU TÔ INDO MAS SEI QUE EU TÔ NO
MEU CAMINHO <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -45.0pt; margin-right: -51.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="color: #333333; font-family: "courier new";">Naquela
noite, mamãe ainda bateu em minha porta dizendo que o jantar estava no forno e
me recriminando por namorar uma menina mais nova .Ela falou que o jantar estava
esfriando e disse que ela entendia o que Érica sentia por mim. Passei algumas
horas desenhnado um esboço de quadrinho, onde eu falava para meus pais o motivo
da minha fulga.<b> </b>Milimetricamente
desenhado em três páginas, deixei embaixo da porta do quarto de meus pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="color: #333333; font-family: "courier new";">Estavam
lá, as surras indigestas ,o amargor de
minha mãe e o marasmo do meu pai. Optei pelo deboche e pelo escatológico para
representar em poucos desenhos meus pais. Mamãe comia vidros da janela para
esquecer a vida e defecava copos. Papai transava com jornais na sala e era pai
de três enciclopédias. Tudo muito detalhado nas expressões do dois, os desenhos
era a minha visão real dos meus patéticos e humanos pais. Achava ,e ainda acho,
que eles se assustaram com aquilo. Nem sei se eles tiveram a real sensação de
que era para avisar da minha fuga que havia desenhado aquilo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="color: #333333; font-family: "courier new";">Peguei
minhas revistas e filmes pornôs e uma magra sacola com roupas, mais o dinheiro
da semana. Ainda tive o despudor de roubar o dinheiro de minha avó entre os
bordados e fugir com uma debutante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -45.0pt; margin-right: -51.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
VI – O CAMINHO DO CERTO É O ERRADO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Eu precisaria
bem mais que seiscentos reais para sobreviver fora de casa. E ainda tinha
Érica, adolescente e sem nenhuma permissão para que ela tivesse ao meu lado.
Passamos o primeiro dia a vagar pela rua, depois de ter acordado em um motel
vagabundo que servia café após a pernoite... Naquele instante Érica servia...
Seu corpo e sua vitalidade me davam ânimo para o que eu havia planejado e
executado. Ela me fazia bem, mas me causava desconforto após um lapso de
lucidez passar pela minha cabeça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Beijar sua
boca molhada e fundar partidos, jogar buraco, lamber suas pernas e dizer eu te
amo compulsivamente,faziam-me sentir um adolescente. Sabia que tinha fim aquela
ilusão e que minha estrada seria sofrida e sem volta, porém me separar de Érica
e suas pernas grossas e lisas , de seus cabelos e fome infantil; deixar aquela
pequena espécie de mulher em desenvolvimento, de sexo pequeno e quase sem o
cheiro dos anos , da pele branca e comportamento compulsivo, foi minha maior
provação nesses anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Após
desgastantes passeios pela cidade, dormimos em mais um hotel barato pelas
intermidiações do centro . A amei mais que podia, beijei-a como se ela fosse a
morte. Depois,deixei 30 reais pro táxi e a certeza de que Deus sempre olha o
que se faz dentro do banheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -45.0pt; margin-right: -51.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
VII – AO SOM DA FLAUTA DA MÃE SERPENTE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Mamãe aos
berros forçava meu pai a correr por todas as delegacias da cidade. Não sei se por
amor ou por solidão mamãe já não podia deixar de viver sem a minha presença.
Papai era um mero figurante para seus gritos. Apenas balançava as sobrancelhas
e concordava sistematicamente com tudo. Decidi raspar minha cabeça e deixar a
barba crescer para que não tivesse a infelicidade de ser levado para casa de
volta. Jamais me perdoaria se errasse e voltasse para debaixo dos braços de
minha mãe e para as observações desnecessárias do meu pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Enquanto fugia
dos meus pais e de Érica, ficava cada vez mais certo de que passaria aperto no
mais tardar no sábado(sete dias após a minha fuga), estava apenas com duzentos
e cinquenta reais depois de gastar em hotéis baratos e comer joelhos com
vitamina de mamão pelos bares da cidade.
Havia aumentado um pouco as provissões , depois de me desfazer da minha coleçao
de revistas e fitas pornôs. Decidir então apelar para banhos pagos na
rodoviária e a vagar e dormir em lugares públicos. Economizaria em hotéis e
sobraria mais para comida. Enquanto tratava de pensar o que fazer para
sobreviver pela cidade. O pior vivenciar um plano é descobrir que você não o traçou,
apenas tentou ou no impulso de fugir do veneno de minha mãe ,corri, sem saber
que já tinha sido picado por ela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
VIII – VAI SAIR UM NOVO GIBI<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Na rua olhava
com olhar de cachorro morto as prateleiras das grandes confeitarias e lamentava
não comprar mais um número da Pixel Magazine. Numa dessas lamentáveis e
funestras observações, me vi olhando para uma bela dupla de mulheres
malabaristas que brincavam com o fogo ao fechar o sinal. No final da tarde me
peguei seguindo elas e observando a quantia que ganhavam, razoavelmente, era
uma quantia necessária para se viver por um dia. Tirando o fato do querosene na
boca e os muitos finos de carro pelos pés das duas, fiquei com uma certa inveja
e desejei ganhar a vida assim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Lola e Lila
eram as duas irmãs gêmeas, de cabelos loiros e signos diferentes. Nasceram, uma
as 23:50 de um dia e a outra já na divisão do outro dia. Sendo portanto uma de
Libra e outra de escorpião. Lola , a libriana parecia uma hippe de botique,
blusa com bastente cor e fina e uma calça larga que escondia suas formas
perfeitas. Tudo nela lembrava delicadeza. Lila, tinha o rosto mais rosado e
fazia questão de exibir suas formas, com uma mine blusa e uma calça de cintura
baixa, quase mostrando os pelos pubianos. Era mais arredia e desconfiada. Era
melhor equilibrista e cuidava sempre do dinheiro. Dinheiro, aliás, que eu
salvei, correndo e pegando um magro trombadinha faminto. Minha primeira boa
ação na rua assim como um herói de gibi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
IX – MEU PRINCÍPIO JÁ CEGOU AO FIM<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Em um pequeno
apartamento da zona nobre da cidade me vi passando dias e horas com as duas
gêmeas solteiras e malabaristas. Amantes da vida livre , elas haviam rasgado os
diplomas de psicologia e resolvido ganhar o dia fazendo malabarismo com o fogo.
Uma da água e outra do ar passando o dia manipulando o fogo. Bela distração,
que segundo elas , as vezes arrecadavam até 500 reais por dia e diversas
propostas indecentes também. Filhas da classe média alta e bem resolvidas finaceiramente
resolveram adotar o estilo para romper barreiras que ainda não conheciam nos
seus pouco mais de vinte e três anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Uma bela
diversão, melhor ainda passar ao lado delas, perdendo tempo ouvindo histórias
fúteis e brigando por um cigarro de maconha. Elas ouviram a minha vida,
lamentaram com a mesma proporção que esqueceram. Nos divertíamos sem nos
preocupar com o tempo. Foram duas semanas ,sete horas e alguns segundos e
segredos que me fizeram crer que estava certo ao pegar o rumo da estrada. Enquanto
Lila se divertia em descobrir a melhor posição para o seu prazer, Lola era mais
doce e delicada. Confesso que às vezes elas de tanto brincarem entre si, eu nem
mais sabia com quem dormia. Na cama, cada uma a seu modo e observação, me deram
grandes momentos de prazer , calados apenas pela bebida e fumaça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
X – CADA UM DE NÓS É UM UNIVERSO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Por Lola e por
Lila, ficaria ali até entender o sentido da vida e o porque de abandonar tudo e
vagar pelas ruas. O que elas não entendiam e muito menos fiz questão de
explicitar, era que aquele momento apenas ganhava tempo para seguir a frente. E
ainda, ao melhor dos prazeres, comer melhor, beber um doze anos e fazer sexo
sem o compromisso dos amantes e namorados ,e, sem o peso de pagar para tê-lo.
Por elas, ficaria ali prostado e até esquecido, enquanto elas cuspiam fogo pela
cidade e voltavam rindo pelo ato dar ,até certa forma, um alimento para o
estilo de vida que adotaram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Por um lado,
Lola e Lila, apagaram de vez da minha cabeça Érica. Impossível um homem lembrar
de uma adolescente depois de horas e horas de sexo com duas irmãs gêmeas
descompromissadas com o tempo e com tudo. Érica sumiu, assim como ,sumi do
apartamento das gêmeas que brincavam com o fogo e com as horas, com a certeza
de que havia pago mais uma provação. Sai de lá com o gosto azedo do sexo das
duas, com lembranças espassas e com a sensação
de inseguraça dos dias que viriam e das noites que seguiriam. Com meus
míseros 200 reais no bolso e mais 1.000 reais da caixinha aberta das gêmeas,
deixei meu paraíso provissória para entrar no meu inferno permanente de
dúvidas, medo, fome, desejo e inércia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XI – ANDO COM MINHAS CABEÇA JÁ PELAS TABELAS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Andando pelas
ruas da periferia, percebi que havia
deixado um pouco de mim com Lila e Lola. Elas me consumiram a ponto de ser
difícil a nova adaptação pelas avenidas e ruas e hotéis baratos. A verdade, é
que não tinha a mínima noção do que faria. Mas decidi não parar para pensar um
só momento, nem um minuto para calcular o futuro e ver as diversas possibilidades
que podiam me aguardar naquela vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Desci do
ônibus em um bairro que não me recordo o nome e segui andando e olhando a
paissagem de cada quadra. Andava muito até secar a garganta e tornei-me um
observador de pessoas. Estava aprendendo a diferença de cada grupo por bairro.
E podia chutar, sem exagero, o que uma pessoa sentia só pelo olhar. Pelo menos
esses dias de andarilho e solidão me fizeram ter uma virtude que pouco
exercitava: observar as pessoas, olhar no rosto de quem passa. Nesses dias e
noites vi olhos de desespero, pressa, confusão , maldade, loucura, raiva e
muitos outros sentimentos escondidos em meio a agitação e a falta de
proximidade nesses tempos modernos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">No meio das
pessoas e pesamentos travados, comecei a sentir uma imensa dor no ouvido,
seguida de uma profunda dor de cabeça. Parecia que agora, as surras de mamãe
vieram me cobrar os anos de indiferença.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XII – NÃO É QUE EU FAZER IGUAL, EU VOU FAZER PIOR<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Logo após as
intermináveis dores de cabeça do dia, minha visão ficava turva e minha audição
aumentava dez vezes mais, a ponto de escutar conversas do outro lado da rua e
ou de dentro das lojas. A audição não me pareceu problema, às vezes até me
divertia de ouvir o que as mulheres falam no troca roupas de uma loja. O que de
fato me incomodava era quando a visão ficava turva e via pessoas que logo após
sumiam. Pareciam miragens perante aquelas loucas alucinações que vinha
apresentando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Perdi a
completa noção de tempo nessas duas últimas semanas, ficava em lugares cada vez
mais baratos e vagabundos e ouvia absurdos entre as paredes. Quase não tinha
mais dinheiro e em uma certa tarde, fiz mais outra grande ação. Ouvi a uma
certa distância três meninos de rua combinando de roubarem o ofertório de uma
igreja. A igreja era de São Jorge ,um santo que sempre fui devoto. Esperei eles
fazerem a ação e os interpelei correndo na esquina. Os três já estavam rendidos
por um homem vestido de terno preto e sapatos bicolor(branco e preto) e uma
enorme chapéu branco com uma fita preta o envolvendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Os três sairam
correndo esquecendo o ofertório no chão, ele levantou a sua vista e me encarou.
Deu-me o ofertório , onde devolvi imediatamente para a igreja, sendo comparado
a um herói. Sem dinheiro e com fome, fiz minha boa ação.O homem havia sumido
pelas ruas da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XIII – DESEJO, NECESSIDADE E VONTADE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Procurando em
meu bolso as últimas notas de dinheiro que me restavam, tive a sensação de que
possuia muito mais que imaginava, aliás, ou eu havia descoberto uma forma de
multiplicar cédulas , ou estava completamente sem noção do que havia gasto. Pelas
minhas contas restava bem pouco do que havia pedido emprestado as gêmeas. No
entando somava-se no meu bolso uma enorme quantidade de cédulas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";"> Imediatamente quando pensei no homem de terno
preto, ele apareceu na esquina sentado a uma mesa de bar, tirou o chapeu, coçou
a testa, colocando-o seu acessório no colo. Pegou um copo e bebeu o que parecia
ser Wiski, tomou todo o líquido, batendo o copo na mesa. Riu, uma gargalhada
muda e se levantou olhando pra mim, para depois sumir virando a esquina de um
cruzamento de duas grandes avenidas da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Aquela imagem
ficou na minha cabeça por dias, e cada vez mais tinha a certeza de que fora ele
que me ajudou, colocando de alguma forma o dinheiro no meu bolso,cerca de 3.800
reais, o que me deu folga para ir em hotéis melhores e até se dar o luxo de
pagar garotas de programa pela noite. O fato é que fiquei pelas intermediações
da avenida onde eu o avistei pela última vez.Em uma dessas noites a esmo, um
senhor de capa preta me parou na esquina. Tentei me lembrar se devia algo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XIV – É INÚTIL DORMIR QUE A DOR NÃO PASSA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">O homem era
bem alto, vestia uma calça preta com uma camisa vermelha manga longa. Calçava
sapatos pretos e usava um bonito chapéu da mesma cor. O que mais chamava
atenção porém, era a sua imensa capa preta com fundo vermelho. Ficamos mudos,
um olhando pro outro, acredito que uns trinta segundos no máximo. Tive todo o
seu pensamento gravado no meu, lia-os como se ele estivesse pronuciando
palavras para mim. Ele me alertou para uma casa perto do hotel e me pediu para
salvar aquela que seria uma afilhada sua. Foi rápido, e não pediu, ordenou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Saiu virando a
esquina, e tive a certeza que estava atrasado para cumprir a ordem que havia obedecido.
A casa a que se referia era um ponto de encontro de boêmios e nos fundos
funcionava um prostíbulo.Das quatros noites que havia passado no hotel ao lado,
escutava mulheres gritanto, às vezes de prazer e às vezes de puro medo e
angústia. Não tardei em conhecer a mulher a que o homem se referia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Ela era de uma
beleza exótica e aparentava ter mais idade do que tinha. Tinha os olhos e enormes
cabelos negros e vestia uma blusa
vermelha cheia de babados e uma saia que pareciam varias saias dentro da outra,
no total de sete. Estava bêbada e prestes a ser espancada , se não fosse pela
minha rápida ação ao ler o pensamento de quem queria atacá-la. A noite estava
apenas começando para mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XV – NEM SEMPRE SE PODE SER DEUS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Dois homens se
dirigiam com todo ódio para cima dela. Parecia que devia algo, que traira
alguém, que tinha feito alguma coisa bem grave, a julgar pela expressão dos
dois homens. Ela fugindo de qualquer expressão de preocupação, ria e bebia
ainda mais seu martine.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Eu não a
julguei, e ainda comprei o seus pesadelos e erros. Em menos de um minuto dois
homens estavam jogados sobre o chão com várias garrafas quebradas. As pessoas
aplaudiam e ele ria ainda mais, balançando seu corpo e dando várias rodadas ,fazendo
um efeito hipnótico pela sua saia de sete babados coloridos. Ela me ofereceu a
bebida do seu copo, e me pediu para fazer um pedido. Bebi um leve gole, e
fiquei envolto em pesamentos esparsos sem pedir uma coisa concreta. Ela
gargalhou e sumiu pela porta do banheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Sai do bar e segui
para o hotel, com uma leve sensação de que a bebida me deixara em um estado de
letargia. Andava e conseguia ouvir meus passos em sons altos que incomodavam
meu ouvido. Ao chegar em meu quarto, tomei um banho e tirei todas as manchas de
sangue do rosto. Deitei um pouco e antes que dormisse, a campainha tocou, sete
mulheres vestidas de vermelho de diferente formas, entraram e me fizeram perder
a noite. Se a realidade se esvaiu na bebida, aquele sonho foi bem real para
minha fraca imaginação pensar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XVI – DESCANSA MEUS OLHOS, SOSSEGA MINHA BOCA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Fugindo do
barulho dos engarrafamentos do começo da noite, andava por atalhos de becos
escuros que ladeavam os prédios da cidade. Num desses becos comecei a ver uma
legião de crianças. Desesperadas elas gritavam e tentavam me arastar como que
se me pedisse socorro. Duas delas estavam muito machucadas. Uma havia levado um
tiro no olho esquerdo e a outra parecia que haviam raspado seu crânio. Essas
duas crianças apontavam e me mostravam o fundo de um prédio pequeno de quatro
andares. Segui as quase vinte crianças, lideradas pelas duas que iam à frente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Avistei uma
enfermeira saindo pela porta dos fundos, elas riam e não notaram minha parca
presença escondida nas escadas de incêndio de um outro prédio, e muito menos as
crianças desesperadas. Entrei pelo porta deixada aberta por elas e segui em um
corredor escuro com várias divisões que pareciam quartos, em um deles, uma
jovem de olhos verdes cintilantes ,de bata e sentada em uma cama, penteava os
cabelos. Não demorei muito para ver que aquilo era uma clínica de aborto e que
aquela menina havia feito um, ou estava prestes a fazer. A tirei de lá sem
perguntar seu nome e muito menos sem saber o que estava fazendo. Ela teve tempo
apenas de se vestir e pegar sua bolsa, e eu apenas de olhar no seus olhos e
saber que estava fazendo a coisa certa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XVII – QUERO FICAR NO TEU CORPO FEITO TATUAGEM<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">O seu nome era
Ellen. Chegei a tempo de impedir seu aborto. Grávida de dois meses e abandonada
pelo namorado, ela havia decidido que iria tirar o bebê. O médico havia
atrasado e as enfermeiras foram comer algo na rua. Nesse espaço a salvei, fiz
minha boa ação, as crianças sumiram e seu filho ria no ventre. Nesse mesmo
espaço, me apaixonei pelos seus olhos, pelas suas formas de 17 anos e poucos
dias e cuidei dela como se fosse minha. Como se fosse a última mulher na terra
e a mais doce princesa que habitava meus sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">No terceiro
dia já havíamos contatado nossos segredos e ríamos da nossa própria sorte, ela
me entregou seus 5.000 mil reais conseguidos para o aborto e ainda me deu toda
e completa segurança para confiar nela. Ficamos uma semana inteira apenas vendo
tv, comendo sorvete, e pedindo comida do CHINA da esquina. Quanto mais as horas
passavam mais e mais tínhamos a certeza de que éramos feito um para o outro, ou
pelo menos a paixão que se iniciava naquela semana nos fazia crer nisso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">E Ellen me
entregou seus segredos da mesma forma que se entregou a mim. Suas voz no meu
ouvido e seu sorriso ficariam sempre marcados durante aquele verão
insuportável. Eu lhe prometi diversas coisas que não podia cumprir, me ofereci
para criar seu filho muito embora não fosse minha vontade. Ela aceitou e apenas
sorriu.<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XVIII – SAIA DE MIM VOMITADO ,EXPELIDO, EXORCIZADO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Na esquina do
hotel onde estava hospedado com Ellen, tinha uma padaria onde sempre comprava
sonhos para ela. Tinha descido e já estava voltado quando ouvi dois gritos
enormes vindo da direção do hotel. Eram gritos de medo , estridentes e muito
alto, no entando parecia que só eu escutava. Eram de Ellen, tinha certeza.
Corri , atropelando algumas pessoas pelo caminho,e, ao passar pelas escada do
hotel, que davam acesso ao meu quarto, cruzei com três crianças trajadas de
branco e muito sorridentes. As três andavam de mãos dadas e nem sentiram a
minha presença.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Olhando melhor,
percebi que duas crianças eram do mesmo grupo de meninos que me guiaram pelo
beco escuro. A outra criança, tinha o olhar e sorriso de Ellen. Entrei
imediatamente no quarto e vi que Elle estava encostada na porta do banheiro.
Completamente nua e sangrava muito. Não conseguia me mexer a ponto de chegar
até ela. Apenas observava suas feições se esvairem em um pranto jamais visto.
Ela não percebeu minha presença em nenhum momento apenas gritava e sangrava.
Aparecertam do seu lado duas pessoas de rosto coberto por uma espécia de capa
que iam até os pés. A roupa também possui um manto vermelho cheio de detalhes
dourados e calçavam botas brancas. Elas levataram Ellen e a levaram para dentro
do banheiro. Sem dar um passo, sentei-me no chão e adormeci.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XIX – TUDO ISSO AS VEZES TUDO É FÚTIL<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Acordei duas
horas da tarde, espantado e com uma imensa dor de cabeça. Parece que havia
bebido horas e horas até parar em coma alcoolico. Parece que Ellen havia levado
minha alma consigo. Lembrava absolutamente de tudo que havia passado e visto,
quadro por quadro, momento a momento; só não sabia explicar: o que era Ellen, o
que era aquilo, o que as crianças faziam descendo a escada como fantasmas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">De todas as
perdas que tive na minha pequena existência, Ellen foi a que mais doeu. Talvez
pelo trágico final da nossa relação, havendo ainda o filho, que por bem ou mal
já era meu. Passei três semanas vivendo como um trapo. Sem fazer a barba e bebendo
desesperadamente wiski barato. Entreguei-me levemente ao vício, consumindo me
horas marcadas cocaína e Haxixe. Parecia que Ellen estava em cada carreira
aspirada , em cada gole passado pela garganta, em cada fumaça produzida. Em
cada erro e em cada entrega minha eu exergava ela dizendo para parar e as vezes
tentando conduzir-me ao banheiro para tomar banho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">O pior de toda
paixão é exatamente se livrar dela. Você se apega e se transforma. Acho que
fomos programados para suportar o fim dela. O que não se suporta é perder uma
paixão assim como me tiraram Ellen. Seja o que o destino programou pra mim, mas
quem o traçou me esqueceu no caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XX – O MALANDRO ANDA ASSIM DE VIÉS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Já estava indo
para o primeiro mês de abandono, quando acordei assutado com a sensação de
alguém me olhando. E não era só sensação, estava de pé a minha frente, um homem
alto, negro, trajando um terno branco, gravata e lenço vermelhos, calçava
sapatos pretos e tinha na cabeça um chapéu branco. Ele olhava lentamente para
todo o quarto, analisando a obra de abandono que se instalara ali. Caminhava e
voltava o olhar para mim, sempre me deixando ao seu alcance na visão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Entrou no
banheiro e saiu com um copo de cerveja na mão. Tomou um gole e colocou sobre o
móvel a sua frente. Levantou as duas mãos e fez o número oito. Pegou o copo,
bebeu mais um gole, sorriu pra mim, fez um cumprimento com o chapéu e entrou
pelo banheiro. Logo após sua saída, tive ânimo suficiente para entrar no
banheiro, tomar banho, fazer a barba, levar a roupa para lavanderia, e pedir
para o hotel uma troca de quarto. De mudança feita e espírito novo, estava
ainda com 1.000,00 reais no bolso para poder encontrar uma solução na minha
vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";"> Depois de Ellen, pouco me importava o que
viria pela frente. Para mim dois reais no bolso e a comida na barriga bastava.
Era o que tinha de me precoupar. E foi sem preocupações e sem fome, revigorado,
que eu sai do hotel ao encontro com o homem de terno branco, sem saber ao certo
onde ia me encontrar com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXI – EU COMUNICO, NÃO PEÇO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">As oito horas
da noite , em ponto, estava andando pelas ruas nas proximidades do hotel e tive
a nítida sensação de que ia andar horas e não ia encontrar aquele homem de
terno branco e gravata vermelha. Estava quase desistindo quando eu o encontrei
na esquina, em um bar tomando cerveja. Olhou-me de viés, levantando
imediatamente e saindo andando em passos acelerados, como quem estivesse me
levando para algum lugar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Entrando em um
rua com diversos bares e alguns travestis fazendo programas, ouvi quase que
no final da rua uma barulheira enorme de
pessoas brigando. O homem de terno branco e gravata vermelha andava apreensivo
em direção ao final da rua. Mais perto pude ver duas mulheres histéricas e dois
homens batento , chutando e jogando pedras em um homem. Ele era magro e
aprentava uns quarenta anos. A julgar pela intensidade do ataque de quatro
pessoas, ele seria morto em poucos minutos. O homem sangrava muito e uma
criança de cinco anos tentava separar, do outro lado, aquela que parecia ser
sua mulher, gritava pedindo ajuda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Eu e o homem
de terno branco e gravata vermelha, entramos na briga devolvendo as fortes
pancadas nos homens valentões e por último leves tapas no ouvido das mulheres.
Uma quis medir força e levou um murro no meio dos seios. Todos correram e nos
viram entrar no táxi com o ferido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXII – NO DIA SEGUINTE O SEGUINTE FALHOU<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Do táxi o
deixamos na porta do hospital e ele foi devidamente atendido. Nos despedimos, e
voltamos para a rua onde havíamos visto o acontecido. Fomos aplaudidos pelos
travestis daquela noite e algumas mulheres do prédio aplaudiam nossa atitude.
Uma das mulheres que estava batendo no ferido tentou tomar satisfação com cacos
de vidro na mãos, foi colocada para correr a soco e pontapés e facadas
proferidas pelo homem de terno branco e gravata vermelha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">E lá ficamos a
noite toda, bebendo e dançando com algumas prostitutas, travetis e vapores de
drogas da noite. A mulher do homem ferido e seu filho passaram pelo bar e nos
agradeceu, chorando compulsivamente, ela nos deixou paga dez cervejas como
gratidão. Eu tentei recusar, mas o homem de terno branco e gravata vermelha,
riu e fez o sinal de negativo com a cabeça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Na máquina de
caça níquel escondida no canto do bar, o homem de terno branco e gravata
vermelha, colocou uma nota de cinquenta reais amarrada a uma linha, a maquina
registrou o valor e ele puxou astutamente, registrando não só o valor como
ganhando minutos depois uma quantia significativa em dinheiro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Soltando uma
gargalhada , ele me deu a maior parte do dinheiro e gastamos o resto em bebida
só parando com o raiar do sol e a espuma de sabão da limpeza nos pés.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXIII – DA MELHOR MANEIRA POSSÍVEL<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; tab-stops: 81.0pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Difícil
é acordar depois de uma noite cheia de aventuras e bebidas, e ainda com uma
mulher desconhecida ao seu lado. Ela ainda dormia nua ao meu lado quando
acordei, tinha a pele escura e lisa, seu corpo era impecável mas seus seios
espalhados , tinha o nariz arrebitado na mesma proporção que seus cabelos
“olhavam” para cima. Quando acordou me fez carinho como se fosse minha mulher e
foi ao banheiro com uma intimidade suficiente para andar nua. Parecíamos marido
e mulher...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; tab-stops: 81.0pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Ela
voltou do banheiro , ainda nua e perguntou o que iríamos comer. Estava faminta
e as cinco da tarde , eu também já estava. Desci e fui pegar alguma comida no
china, o que pelo horário da tarde, seria alguma coisa fria e com bastante
molho de soja. Voltei e ela estava ainda mais bonita , com seus seios caídos,
seus cabelos revoltos (já quietos) e seu sorriso (de dentes brancos) espalhafatoso foi aberto logo quando ele viu
a quentinha de comida. Agradeceu, comeu tão rápido que nem imaginava qual sabor
teria aquela fria comida do china. Nem deu tempo de falarmos sobre o péssimo
almoço, e ela, que já havia devorado o seu, caiu-me de beijos e mordidas. O
começo da noite parecia destinado ao arroto da soda que bebemos e ao gosto de
molho de soja entre linguas que se cruzavam. Ela me abandonou levando consigo,
meio litro de refrigerante, meu barbeador elétrico e todo meu dinheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXIV – TEM GENTE PRA SENTAR PRA ME VÊ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Sem dinheiro
para pagar a semana seguinte do hotel e sem nenhuma idéia de como ganhar
dinheiro fiquei apreensivo. Peguei o pingente que Érika havia me dado, como
prova de sua paixão por mim, onde havia uma foto sua dentro de um coração. Aquela
paixão de adolescente havia se esvaido de mim e troquei por míseros cem reais
seu cordão de ouro na praça perto do hotel. 5,4 gramas de ouro ,sem remorso, se
foram na mão de um ourives vagabundo. O rosto dela fora derretido perante minha
pobreza de espírito e material.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Na volta olhei
o homem de terno preto e sapato bicolor apontando para o número da casa ou
comércio que passava. Ele pulava algumas combinações , e meio que queria me
avisar sobre alguma coisa. Aquela combinações deviam me levar a alguma coisa.
Passei em todos os estabelecimentos anotando todos os números que ele havia me
apontado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Continuei
seguindo o homem de terno preto e sapato bicolor, até que ele parou em um largo
ao lado de um ponto de jogo do bicho e tirou seu chapéu branco com fita preta
fazendo menção de que devia jogar. E o fiz. Joguei todas as combinações
possíveis, sempre jogando na cobra,uma homenagem a puta que havia me amado com
gosto de molho de soja e me feito dormir como um bebê desprotegido em um hotel
vagabundo de colchão fino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXV – O POETA É SEMPRE MALANDRO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Das poucas
certezas da vida, a que mais apostei foi o fato de que estava no caminho certo.
Fazendo a coisa certa e , de maneira inusitada, fazendo até o bem. Havia
conhecido mulheres inesquecíveis, havia ganho dinheiro sem muito esforço e
havia me livrado das surras quase diárias de minha mãe e da burrice e moleza de
meu pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Não sentia o
mínimo remorso do que havia feito, e ainda tinha a certeza de que poderia ainda
ser reconhecido do que fazia. Foi em um desses lapsos de análise do futuro que
me peguei sendo olhado pelo homem de terno branco e gravata vermelha. Ele ria e
balançava notas de dinheiro que sumiam instantâneamente de suas mãos. Ele se
dirigiu a porta e o segui até o ponto de bicho. Até entender o que o homem de
terno branco e gravata vermelha queria , um homem gordo , negro e com a camisa
de time de futebol com uma faixa preta dividindo-a no meio, veio me dar os
parabéns. Ele havia decorado o dono do jogo e sabia que tinha vindo de minha
mão a aposta premiada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Deu cobra na
cabeça, o mesmo veneno que havia provado e ficado sem dinheiro , eu usei para
ganhar ainda mais do que perdi , lembrando do gosto de molho de soja da mulher
de pele negra, seios caídos, dentes brancos, cabelos assanhados e corpo escultural.
Provei do seu veneno e o cuspi para fora , acertando naquela tarde no bicho. Deu
cobra na cabeça e dinheiro no meu bolso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXVI – PEGO O CHICOTE DE OURO COM FIOS DE NYLON<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Parei no bar
com os dois homens na mesa. O de terno branco com gravata vermelha e o de terno
negro com sapato bicolor. O primeiro comeu bife mal passado e o segundo um
peixe a escabeche. Paguei a conta dos dois e saímos andando até o anoitecer
completo da cidade. O homem de terno preto e sapato bicolor nos apontou um beco
e lá vimos três mulheres que pareciam , pelo traje, ciganas desesperadas. Elas
apontavam para uma prédio semi abandonado , os dois homens seguiram-nas e eu
fui no rastro. Entramos na prédio e vimos um homem que aparentava seus
cinquenta anos, mal trajado e sujo, tentando estuprar três meninas que
aparentavam 12 anos. As três tentavam gritar, mais eram impedidas pela corda
sobre a boca. Dois cachorros também estavam amarrados e ele dava chicotadas
para eles pararem de latir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Uma das
ciganas me deu um chicote de ouro com fios de nylon que proferi sobre o homem
que se assustou com a minha presença, os dois malandros liberam os cães e as
ciganas soltaram as meninas rasgadas e bem assutadas. O velho foi perseguido
por mim, pelo prédio abandonado e se jogou por uma janela do corredor do quinto
andar, morrendo em cima de um teto de carro abandonado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Quando voltei
não havia mais ninguém, apenas os dois cachorros, que me acompanharam
solidariamente até o hotel. Amanhã o homem estaria nos jornais, pensei...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXVII – O SOL NÃO ADIVINHA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Havia já
adotado os dois cães quando para minha supresa apareceram na minha janela dois
pardais. Eles entravam no quarto e faziam uma grande volta pelo teto do hotel,
voltando na janela e novamente fazendo a mesma volta, repetida vezes até me
fazer ir a janela e observar que um dos pardais se dirigia a um apartamento de
frente pro meu. Ele especificamente parava em uma janela e parecia conversar
com outros pássaros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Tomado de
curiosidade fui ao prédio ao lado , no quarto andar, e me deparei com um
barulheira de animais do outro lado da porta. Arrombei a porta e para minha
supresa, o apartamento estava cheio de gaiolas de pássaros silvestres e muitos
em extinção. Soltei todas aqueles que podiam voar e liguei para a polícia do
próprio apartamento saindo imediatamente. No final do corredor , um homem trajado
como um guerreiro africano , com um arco na mão e as flechas transpassadas pelo
corpo semi nu,e ainda, um objeto na mão que parecia um maracá com imensas
palhas caindo como uma cascata. Ele me olhou e levantou seu arco como um sinal
de gratidão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -15.8pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Do meu prédio
vi a polícia levando um homem algemado e colocando em um carro todas as aves
apreendidas. Até o final da semana, minha janela foi ponto de pardais e outros
passarinhos, parecia que eles me agradeciam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -15.8pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -81.0pt; margin-right: -3.0cm; margin-top: 0cm;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXVIII – QUEM ANDA NA AREIA DA PRAIA RECEBE DO VENTO SAUDADES DO SEU AMOR<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Andando e
firmando meus passos nas areias da praia, resolvi ver o por do sol, naquele
dia, caindo sobre o mar. Parecia que alguém havia me levado até lá. Parecia
obrigação. Levantei cedo da cama com essa vontade de ver o mar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Já no final da
tarde fui supreendido pela imagem de Ellen andando sobre o mar. Ela trajava um
lindo vestido branco com um véu na cabeça e estava cercada de nove mulheres com
o mesmo traje. Ela me olhava melancolicamente e sentia que eu sofria com aquela
imagem. De longe, nossos pensamentos se cruzaram. Ela disse que estava bem e
que estava feliz. Falou do seu filho como se fosse meu. Sorriu e pediu-me um
favor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Naquele final
de tarde fiquei incubido de cuidar das águas daquele mar, fazendo sempre
campanhas para não polui-lo e ainda concientizar para a preservação das águas de
suas águas. Fazendo isso estaria me preseervando e salvando a vida de Ellen,
pois ela agora dependia do mar para viver. Ela também me prometeu orar por mim,
bem como , me esperar até o fim de meus dias na terra. Falou-me que sentia
falta da minha boca e que um dia se entregaria em sonhos para mim. Ellen se foi
me deixando a missão. Ao lado das belas mulheres de branco , uma ainda mais
bonita e com uma luz que não posso descrever levou Ellen me deixando apenas
vendo a força das ondas sobre a areia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -42.8pt;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXIX – FAÇO DE MIM O QUE POSSO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -15.8pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Dos dias que
se passaram , foram de inteira satisfação. Sentia-me mais leve e quase não
guardava o rancor de meus pais. Estava com dinheiro suficiente para viver mais
três meses naquele hotel vagabundo que já chamava de casa. Adorava também tudo
de mais medíocre que existia naquele bairro: as ruas sujas, a batata frita
murcha e a cerveja quente, bem como , as
comidas do china impregnadas de molho de soja. Gostava das ruas ,dos becos, dos
bares, do jogo do bicho, dos sons da noite que a avenida e o hotel produziam; gostava
mais de mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -15.8pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Numa dessas
noites tranquilas de sono em dias, e estômago cheio, quase adormecendo, vi ao
meu lado oito figuras bem familiares. O homem de terno branco e gravata
vermelha, o homem de terno preto e sapato bicolor, a mulher das sete saias, o
homem da capa vermelha mais as três ciganas que salvaram as crianças. Todos bem
sérios e compenetrados. Eles fizeram um corredor, recebendo ordens do homem de
capa vermelha,dividindo-se para cada lado com que abrindo um caminho para
alguém passar. O homem de terno preto e sapato bicolor não recebeu ordens do
homem de capa vermelha, mas abaixou a cabeça quando um homem todo de azul e
espada na mão se aproximou de mim. Sua luz me fez sentir ainda mais confiante;
ele com um golpe forjou uma espada no ar e me deu de presente olhando firme em
meus olhos. As horas foram tranquilas e a noite de melhor sono e sonhos que
tive.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: -51.8pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "courier new";">CAPÍTULO
XXX – ENTRE CANÇOES QUE OUVI, ENTRE NOTÍCIAS QUE LI<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Da vida, levo
a certeza de que cada dia é um dia diferente. Da minhas angústias o melhor
remédio é caminhar pelas ruas da cidade. Dos meus passos também trituro minhas
dúvidas sobre o futuro. Fui criado para ser alguém na vida, desde que advogado,
engenheiro e ou médico. Um alguém já traçado e carcomido pelos padrões sociais
vigentes. Do sucesso da escola ,como melhor aluno, ao fracasso e desânimo da
faculdade e aos dias posteriores a formatura , havia me transformado em um
homem amargo e sem destino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Pouco sobrou
daquele homem que apanhava calado e quieto da mãe , muito pouco daquele que
amava uma adolescente do andar de baixo do seu apartamento, menos ainda daquele
menino que se masturbava para revistas pornográficas. Hoje, sou bem mais o
homem que faz boas ações e salva, a seu modo, algumas pessoas e castiga outras.
Sou bem mais aquele que segue mulheres e homens da rua e que é guiado pela espada
, pela força e pela luz de um ser bem maior que eu. Sou também aquele homem que
beija mulheres que cobram, que roubam e que saciam sua fome e me beijam com
gosto de molho de soja entre os dentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-right: 2.2pt; text-align: justify; text-indent: 72.0pt;">
<span style="font-family: "courier new";">Sou mais um
ser humano entre tantos outros dentro dessa cidade, que não pensa no presente e
continua , de uma certa forma sem destino e ou futuro...<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "courier new"; font-size: 12.0pt;">É APENAS O COMEÇO</span></b></div>
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shapetype id="_x0000_t161"
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