Comentário Inicial:
Revelar a palavra que estou sentindo agora nesse momento, não traria a
paz que gostaria que estivesse sentindo. Meu Deus! Eu quero a paz e um pouco
mais de dignidade. Sei lá! Acho que as vezes poderia saber o que é amar. Não
sei o que me fez sentir a necessidade de me degradar a este ponto, ou talvez a
me suicidar a cada dia.
Sou Helena, tenho 26 anos, fumo, as vezes bebo, corro da polícia,
viciados, inconvenientes, ladrões que perderam a noite enfim de toda a escória
ou de quem tenta fazer parte dela ,pelo menos em uma noite. Já cheguei a fazer sexo 18 vezes na
mesma noite, mais a média é de três vezes por dia.
Não estou aqui para fornecer dados estatísticos, nem fazer um discurso sociológico, e muito menos ainda um diário
particular que ficará escondido em qualquer canto. Quero apenas contar a mais
forte e gratificante idéia que coloquei em prática.
Por cima da janela vejo que agora,
metade do quarteirão é meu, parece que essa sacada mente, mas o que meus olhos
vêem eu realmente possuo. Cansei de andar pelas ruas ou avenidas e ver
imensidões que jurava que as vezes eram minhas, mas não eram, nunca foram e
jamais seriam...
Esqueci de dizer que além de ser dona da metade do quarteirão que agora
vejo, e para quem sequer usou a cabeça para pensar ou imaginar, e também para
quem deseja saber, eu sou puta.
Sem Revelar a infância e direto para faculdade:
Poderia perder tempos e mais verbos falando de pais ,
irmãos, tios, primário, mas vamos para o ano em que tinha completado 18 anos e
sonhava ser economistas. Sou filha da classe média, e somos em cinco irmãs. Meu
pai é representante comercial e tem uma distribuidora de alimentos. Minha mãe é
professora do Estado. Bom, fui bem criada e tive uma educação para discernir o
que é certo e o que é errado. Mas voltando ao vestibular troquei na fila o
curso que queria fazer. Decide por administração, pois a concorrência estava
menor. Não morava na capital e fui a única das cinco filhas que decidiu ir a
capital fazer vestibular, sou a terceira, o fato é que duas já haviam desistido
. Uma casou e se empenhou no fato de que teria que criar os dois filhos e outra
até veio para a capital. Queria ser atriz, conseguiu ser figuração em três
programas diferentes de televisão e voltou para a cidade.
Bom, então me restou morar em uma pensão enquanto via se
alguém da faculdade dividiria um apartamento comigo. Ah! Passei no vestibular o
que não era nada impossível, pois todos, disse todos que se inscreveram
passaram. Uma lógica matemática que colocava a disposição alunos de Direito e
Economia que não conseguiram uma pontuação não muito boa , para cursos que
sobraram vagas, inclusive administração.
Falei para meus pais e irmãs, não foi bem recebida a
noticia pois Papai teria que pagar a conta..... Que chato.......! Além de pagar a pensão. De concreto aprendi que
administração é muito mais difícil do que a concorrência dizia, se bem que
economia seria bem mais difícil, segundo consta a grade curricular do curso.
Tudo bem, levei todos os quatro anos de maneira enfática e racional. Tentei
alguns estágios mas devo dizer que engavetar papel, café , carimbo e ponto não
combinam e não combinavam comigo , pelo menos até este momento.
O fato que consegui com o dinheiro dos estágios
ajudar meu pai e ter um pouco de
dinheiro para mim.. Mas no segundo ano, meu Pai disse que não daria mais para
pagar a faculdade, fez todo um discurso rodeado de análises de dificuldades no
ramo alimentício, conheci todo o histórico da concorrência para no final ele me
dizer não dá mais. Envolvi-me em um lapso de orgulho e desespero e disse que
tudo bem, pois acabara de arrumar um estágio.
Nem era preciso dizer que não havia estágio e o que eu estava já havia
completado os dois anos. De repente me vi com um objetivo em mente de fazer qualquer coisa para custear meus
estudos e minha vida. Enfim acho que naquela mesma tarde já obtive respostas....
Oportunidades e oportunidades:
Karla era minha amiga de ocasião, daquelas que a gente encontra na
lanchonete ou na biblioteca e somos capazes de ficar falando por uma hora em
diversos assuntos e nem sequer nos olharmos na sala de aula. Em um desse
encontros casuais falamos da aula de Teoria geral, estágios e claro da situação
em que vivia. O estranho é que ela de
imediato resolveu o problema da pensão. Ela dividia um apartamento com uma amiga
e claro que estava com uma vaga do sofá em aberto. Topei de imediato, parecia que era meu dia, quando
disse que estava terminado o estágio, ela também me veio com o solução que a
princípio me pareceu absurda.
Como disse fui educada para discernir o que era certo ou errado, ou pelo
menos para distinguir do que era absurdo
do provável, achei que ela estava brincando comigo, mas tudo bem, resolvi fazer
o que todos fazem ao perguntar como???
Ouvi a mesma coisa .E penetrou em mim
uma sensação de nojo e fobia, será que era tão estranho para mim ouvir aquilo,
ou seria mero pudor temporário. Disse que resolveria com a pensão para me mudar os mais rápido
possível para o apartamento. Ganhei tempo, claro. Mas não podia parar de pensar
no que foi-me proposto. Meu Deus! Pensei... tive uma sensação do que o destino
me reservara , ao mesmo tempo em que
pensei na possibilidade de lucro e quem sabe até de um futuro negócio,
quem sabe... Aquela tarde fazia um calor insuportável, e minhas mãos
escorregavam ao pegar o telefone público do qual ligara para meu pai e enfim
entramos em um acordo, ele me ajudaria com a despesas do apartamento da qual eu
dividiria com minhas amigas e ajudaria também com a despesas dos livros. Até
que no final sai-me bem, não pagaria mais aquela pensão nojenta e comeria na universidade todo
dia. Acho que o dia quente , o mais quente até ali, segundo constava nos
noticiários seria o dia em que desenvolveria a mais rápida decisão que mudaria
até então a minha vida tão discreta e racional.
A oportunidade em si:
Cheguei as dezenove e trinta do horário de verão daquele dia, ainda
claro, bem claro, embora envolto de uma situação que lembraria um temporal.
Lembro-me bem desse dia , pois acho que foi o dia que mais olhei para o céu,
talvez umas quinze ou dezesseis vezes. O calor começava a dar um espaço para o
vento que esfriava um pouco mais aquelas ruas.
Carregava duas malas e subi até o segundo andar, o condomínio era
simples, não havia elevador e somente três andares, moraria no 203, segundo
andar portanto, era apenas a duas quadras da faculdade e apenas a três quadras
da pensão onde cuspi a minutos atrás, fui de táxi e três quarteirões foram o
suficiente para saber toda a violência
que ocorria pelo centro da cidade, o taxista foi responsável pelo relato mais
dramático ,que até então, havia ouvido. Foi rápido embora demorasse um pouco
mais , pois a rua só do apartamento só descia e tivemos que dar uma volta pelo
quarteirão anterior para enfim entrarmos na rua que só descia aonde ficava o
apartamento.
Quando toquei a campainha foi Luana que atendeu. Era mais velha que nós
mas estava travada no quarto ano, e aquele seria seu último ano, mesmo senão
conseguisse passar, segundo me informou. Karla tinha ido ao supermercado e
Luana mesmo me mostrou onde poderia
deixar minhas roupas e também aproveitou para dizer-me que as duas estavam
pensando em comprar um beliche e me ceder uma das camas e claro uma parte do
guarda roupa de uma das duas. Não demorou muito Karla chegou e estavam ali o trio que faria parte da maior
revolução que as mulheres poderiam fazer até o momento.
Conversamos enquanto comíamos, e tivemos várias idéias de como
restruturar o apartamento. Luana até jurou ficar mais uns dois anos conosco.
Mas o fato que todos vocês devem estar pensando é qual era a proposta afinal ? O que me disse
Karla? O que seria de tão ruim a ponto de me fazer pensar em valores, o que é
certo ou errado, o que seria afinal?
Quando Karla me propôs na lanchonete se por um acaso poderia fazer
programas para uma agência da qual trabalhava a dois anos e meio, pensei duas
coisas, como poderia ela trabalhar em tal lugar e ainda por cima pensar que eu
poderia também. Para mim meu corpo é sagrado e até agora não falar de
envolvimentos portanto supostamente sou virgem, meu corpo sagrado, entretanto
aquela noite , o que era de mais sagrado foi se degradando a medida que minha
boca falava sim.
Um pouco mais de Karla e Luana:
O café da manhã foi rápido e gostoso, torradas light com geleia de
framboesa acompanhados de suco de laranja feitos todos pela Luana. Só não sei
porque todas nos entupimos de coisas leves e tomamos o suco mais pesado em
calorias, talvez seja a mais perfeita lembrança em nossas mentes de nossas mães
servindo-nos o suco pela manhã.
Karla conversou a respeito de Carlos ,o dono da agência. Falou que o
conheceu na universidade mesmo, que ele “namorava” uma de suas conhecidas na
aula de musculação. Ele com muito jeito e delicadeza me perguntou se gostaria
de aumentar meu rendimentos. E foi logo dizendo que não era vendas e nem colar
postais em tempo livre. Claro que ele sabia que o Karla não estava dando conta
de pagar suas despesas , somente com o emprego de secretária - recepcionista -
auxiliar administrativo. Bom foi ai que ela deixou seus instintos de pratica e dinheiro falarem mais alto e
topou. Lá conheceu Luana e hoje faço parte das principiante que por falta de
dinheiro e medo de perde o que conquistaram entram na agência onde os
rendimentos poderão ser mais altos que o esperado.
Estava parecendo que havia sucumbido a mais fraca decisão de toda a minha
vida , mas a vontade de conhecer o desconhecido e até porque não uma excitação
fora do comum fizeram-me mergulhar num mundo onde não há volta somente marcas.
Carlos ficará marcado aqui neste relato pois será o primeiro homem do
qual falarei (o meu pai e o taxista são apenas passagens). Tinha o olhar meio
que pervertido, um que de cinismo e choro, mas gostei dele, tanto físico como
em suas palavras brotavam o que talvez eu chamaria de força e segurança. Foi
bem direto com relação ao assunto, talvez pelo fato de que Karla já havia me
preparado. Depois fiquei sabendo que ele gostou de mim, do corpo, cabelo, voz,
simpatia e também que Karla havia ganho uma comissão ao me indicar. Que ironia,
não sabia que tinha todos os requisitos para ser uma garota que faz programa
uma puta em si, uma mulher que a princípio teria todos os requisitos que o homem quereria para fugir da sua mas doce e
pobre rotina.
Trabalharia somente a noite, a não ser que tivesse um cliente que estivesse
disposto a pagar o dobro para me tirar da sala de aula e ou acordar-me das
cestas da tarde. Daria até para estagiar, mas não estava nem um pingo a fim de
me sacrificar (além do sacrifício de ser puta) para mergulhar em um estágio
cheio de papéis e fofocas. O concreto é faria somente isso, e se os rendimentos
fossem realmente o que Carlos prometera, estaria em um ano não só pagando a
faculdade como que pagando até um
apartamento somente meu.
Funcionava mais ou menos assim: Carlos colocava anúncios da agência em
diversos jornais , Internet e até televisão. O número era de seu escritório e o
do celular era seu. Não havia nenhum escritório, na verdade era sua casa,
morava sozinho e sai as vezes com suas acompanhantes. Ele tinha uma carteira de
clientes bastante diversificada, ia de Políticos, atores, velhos milionários,
adolescentes ricos até mulheres. Ligava para alguns dizendo que havia
novidades, no caso as vezes até nos pagava para enviar de graça a algum cliente
mais exigente e que dava bastante lucro para ele. Trabalhava com um leque de fotos de todas e cobrava para
entregar até o requisitante. Ao todo eram 27 mulheres , se recusava a trabalhar
com travestis e homens, para ele a prostituição era ato exclusivo das mulheres
e o resto eram aberrações. Até aceitava de que duas mulheres pedissem seus serviços , mas era simplesmente
pelo fato de que um influente cliente
pedisse para ele para alimentar os caprichos de suas enteadas.
Cobrava trezentos reais por
programas ,mais taxi ida e volta para nossas casas. Dependendo de quem fosse
ate iria nos deixar e trazer .Ficávamos com
30% do programa, noventa reais, pouco né. Mas coloquei no papel, poderia
fazer em média 50 programas por mês, um lucro de quatro mil e quinhentos reais
sem contar com as gorjetas. As vezes faria apenas companhia, para mim pareceu o
paraíso, embora um paraíso meio nebuloso.
Todas tinham que ter celular e jamais deveriam ficar desligados por falta
de bateria, por esquecimento, e não tínhamos que ficar presas em casa a espera
de seu contato, poderíamos sair desde que informássemos a ele nosso paradeiro.
Carlos não tinha um controle de onde estávamos, mas gostava que déssemos
satisfação.
Tudo me parecia bem tranqüilo, afinal não era tão ruim assim. Ficava em
casa , na maioria das vezes , e Carlos me passava roteiros até que bem perto de
casa. Luana e Karla me deram muita força, embora não me pareça tão difícil
empurrar alguém para a beira do precipício, o que de positivo tirei foi que as
vezes me encontrava com pessoas bem mais fáceis de comunicação e que tinha mais
afinidade do que qualquer amiga, incluindo ai Karla e Luana.
O primeiro programa:
Poderia falar do primeiro programa com bem mais detalhes , mas o que vi e
senti foram tão rápidos que nem devia me prolongar a este ato. Ah esqueci de dizer, já não era
mais virgem a muito tempo, embora tentei induzi-los a tal castidade, mas de
fato não era desde os quinze.
Meu primeiro cliente era um japonês que não disse um só vocábulo ao
entrar e nem tão pouco ao sair. Fomos a um motel bem luxuoso , peguei-o em
frente ao seu hotel e depois fomos ao motel de fato.
O que me parecia era que seria um sacrifício absurdo passar duas horas
com aquele japonês, mas não foi. Carlos
havia me premiado com aquele que dizem que é o melhor freguês dele. As meninas
adoravam, Karla havia saído com ele umas quatro vezes e Luana duas, não me
disseram, nem elas e nem tão pouco Carlos o porque era tão prazeroso sair com
ele.
Bom, o fato é que ele não fala e a pouco me parecia sofrer de ejaculação
precoce, pois gozou tão rápido que o tempo de ir e vir de táxi demorou mais do
que minha estadia no motel com ele. Contei no máximo entre dez minutos em
entrar ,sair do banheiro e ao ato em si, depois já estava pedindo a conta e nem
sequer olhou nos meus olhos. A partir daí comecei a observar o quão fraco são
os homens . Não era nem ao fato dele sair , pagar para sair melhor dizendo, mas
era o fato de deixar dominar pelo sexo de uma forma tão fraca ao ponto de que
era dominado por aquele ato pois o fazia como se fosse uma necessidade vital,
tal qual beber água.
No mesmo dia lucrei duzentos e setenta reais o japa ainda me deu cem
dólares por fora, nada mal. Carlos jamais deixava um cliente pagar diretamente para gente e sabia , sempre
sabia(não sei como) se uma de nós déssemos
algum número de celular por fora. Carlos tinha sua carteira de clientes na mão
pois seus eles jamais entraram em contato, mesmo podendo pagar mais barato .
Ele recebia sempre adiantado pelos programas. Trabalhava sempre pela manha e a
tarde nos esquemas de recebimento e
podíamos sempre pegar no outro dia pela manha ou a tarde o que tínhamos
faturado.
Parecia um mar de rosas , mas com o tempo fomos observando que Carlos
faturava e alto e que podíamos sim ter um controle próprio para nós afim nossos
rendimentos aumentassem mais. Estava tão entretida nessa idéia que pela tarde
quanto Karla e Luana chegaram , convidei-as a participar de uma idéia que no
fundo , não parecia tão mal assim.
Quando ser faz programas o dia parece tão longo e cansativo , que as
vezes você pensa que vai parar, estática no tempo, tudo bem lento, chato, enfadonho. As noites então! São
tão tristes esparsas, que as vezes dava vontade de vomitar. Dormir duas tr6es e
até quatro vezes com homens diferentes, idades, conversas, hábitos, soava tão
bizarro que não sabia bem ao certo
quando ia parar.
No fim de tarde de um dia que não me recordo (sou péssima de data,
hora...) quando vi Karla e Luana entrarem juntas pela porta passou-me pela
cabeça uma idéia que havia me balançado a cabeça alguns dias atrás. Porque não
trabalhávamos sozinhas e unidas? Não via como resposta o poder onipresente de
Carlos, pois não engolia o fato de que um Homem sozinho possa comandar uma
carteira de clientes ao ponto de todos serem fiéis ao extremo de nunca mudar de
fornecedor. Sim, fornecedor, pois não somos mercadorias, não é um comércio.
Porque não podíamos criar uma só para gente? Não via obstáculos, nada de
concreto que poderia nos impedir de fazer algo realmente nosso. Não eram nossos
corpos ora!!!! Eu mando em mim, e sei muito mais das minhas qualidades na cama
do que qualquer outro agenciador que supostamente venha me falar que entende de
mulheres.
Karla pareceu-me mais espantada que Luana, afinal ela era para Carlos
como que uma olheira , e agenciadora júnior. Mas coloquemos no papel, a cada
trezentos reais ganhos, com nossos corpos, nossa segurança, nossa vida até,
levamos apenas noventa reais e ele fica com
duzentos e dez reais. Não achava justo, de forma alguma. Karla me disse
que ele tinha despesas, e sua maravilhosa carteira, com clientes gentis,
afáveis, múmias depositantes , bêbados educadíssimos, homens da melhor estirpe
três mulheres em dúvida. Um japa que nos dava mais lucro que qualquer outro emprego
nos pudesse exigir em sacrifício e recompensa.
Não tinha a minha intenção de rouba-los, na verdade queria outros, talvez
o japa quem sabe. Não iria admitir que um homem , embora fosse sedutor, pudesse
construir uma gama de clientes tão lucrativa, apenas com anúncios do tipo:
“mulheres inteligentes procuram homens inteligentes para relacionamento
relâmpago e muito sexo, ligue-nos” ou “Você já teve prazer? já sentiu algo
parecido? Ligue-nos”. Parecia interrogatório ou uma letra do Wando, mas o fato
é que vou lá viu e venceu, sem dar duro é claro. Seu único trabalho foi, isso
devemos reconhecer, foi de ter, hoje, trinta e duas lindas mulheres, até certo
ponto instruídas e bem bonitas, mas ainda acho que seu maior erro foi me ter em
seu banco de garotas.
Amigas ou colegas?
Nunca soube destinguir amigas de colegas. Seria o fato de você contar
tudo a uma mulher, dores, paixões, desejos, relações, essa pessoa poderia ser
considera amiga. Então acho que todas as pessoas com as quais me relacionei são
minhas amigas. Acho que sou assim feito guache, vou sendo jogada e esparramada
pelas paredes. Minhas incertezas são discutidas e embutidas completamente nos
diálogos alheios. Como se minha fala fosse fumaça desperdiça na boca de várias
pessoas das quais nem sequer conheço.
Colegas seriam então, para mim, pessoas avulsas. Conhecidas de ocasião.
Aquela mulher que reclama na fila do banco que as companhias de telefone não
faturam assaltam. Ou uma vizinha raivosa e mal amada, que grita e me pede apoio para expulsar o ônibus de
turismo da porta do condomínio. Diante desse meu pensamento Karla e Luana são
amigas e as vezes colegas. Amigas pelo fato de que sabem todo raio x de minha
vida. Até fala brincando que elas sabem até aonde fica meu ponto g. E são colegas
pois sou eu quem escuto toda tarde relatos e relatos de relações , sejam elas
sexuais ou de convívio, todos os dias meu Deus. Só me escondo ao fato de que
uma “colega” de trabalho me disse uma vez: “ e puta lá tem amiga minha filha”.
Talvez sim, mas não vou esquecer do ato que as duas me deram de amizade e
confiança, Karla e Luana , Luana e Karla
disseram sim ao meu ato rebelde de independência ou melhor de anular um
atravessador entre a comunicação entre nossos corpos e os clientes em si. Alias
foi Karla mesmo que me convidou a marcamos esse dia ( da discussão em si) como
a data da revolução. Luana nos disse que revolução era uma palavra
paradoxal.....
Vejamos: Revolução - Ato ou efeito de revolver-se ou revolucionar-se.
Rebelião Armada. Revolta, sublevação. Transformação radical dos conceitos
Artísticos ou científicos. Movimento de um astro em redor de outro. Levando-se
em consideração que somos três universitárias , putas e meio sem disposição para atos tão históricos , mas acredito cegamente no fato que queríamos
agitar em vários sentidos e até lutar quem sabe, mesmo que inicialmente em
interesse próprio , pela nossa classe como um todo. E se a Revolução tivesse
uma pessoa como símbolos, quais seriam?? Surgiram vários nomes, Jack kenedy,
Princesa Daiana, Hebe Camargo, surgiu
até o nome de Dona Ruth Cardoso, como uma socióloga que se prostituiu pelo
poder. Mas ficou chata e decidimos que, se desse certo (e daria) criaríamos a
cartilha “método Karla , Luana e Helena de ser.
Terminamos com a assunto pois o telefone tocou, era Carlos.... a verdade
é que voltamos ao método fácil de passar a vida.
Vão-se os anéis ficam-se as putas.
Rebelar-se. Espargi de felicidade sobre o dinheiro acumulado da
exploração que sofríamos de Carlos.
Na verdade era fácil... Nos livraríamos da mais - valia e assumiríamos o total controle dos nossos
negócios, digo nossos corpos. Sentia-me mais forte, mais mulher, mais puta do
que nunca.
Era fácil. O plano era o seguinte, anunciaríamos na Internet e nos jornais
específicos dos bairros próximos . A idéia foi de Karla, pois ela havia dormido
com um dono de um site e que conhecia um dono de jornal. Essa idéia fervia em
minha cabeça. Não entendia como não tivemos essa idéia antes. Parecia tudo tão
fácil, tão rápido....
Filtraríamos os clientes pelo preço, R$ 200.00 por programa de uma hora,
sem nada somente o que o sexo simples pode oferecer, de cada dez programas um
programa grátis (essa idéia foi minha). E nossa meta na carteira de clientes do
Carlos era o japonês ,óbvio! Vinte e quatro horas, no ar. Fomos bem agressivas,
mas para início tínhamos que diversificar os horários. Faltaríamos a faculdade
se preciso, e as baterias de celulares sempre carregadas. Luana foi bem mais
longe e conseguiu envenenar outras
amigas ou melhor companheiras de trabalho.
O fato é que eu , Luana e Karla em
menos de dois meses já tínhamos uma carteira se não melhor ,ou igual a
de Carlos. Nosso faturamento triplicou, e em seis meses Carlos havia perdido
toda a sua carteira para as putas que um dia foram de seu domínio.
Carlos tinha , na época, trinta e cinco mulheres. Todas, eu disse todas
resolveram se autovender. Se anunciar , tomar conta de sua própria luxúria.
Carlos , solteiro , sem emprego, empresário falido, sem saldo bancário, não
tinha hoje sequer a piedade das mulheres que um dia ele agenciou. Tentou partir
para o ramo da bonecas e homens, mas acabou ferido por um desvio de pagamento
de comissão. Acredito eu que ele senão morreu voltou a vender cocos na praias
do Espírito Santo.
Triste fim para um homem charmoso que não soube dar valor ou não soube
reconhecer o instinto feminino da traição e para o comércio.
A revolução em sonho:
Terça feira é dia de sonhos.
Sempre sonho de segunda para terça , talvez porque era o dia que menos fazia programas.
Engraçado, quando passava não mais que doze horas sem fazer sexo, minha cabeça
doía e ficava com a sensação de que meu corpo jazia em pus por dentro. Parecia
com eu tivesse que ter algo dentro de mim , me estimulando, para que pudesse
andar, correr , sentir prazer, absorver o que o mundo tem de bom. Era chato
admitir mais sexo para mim era vital. Não o orgasmo em si, mas a sensação
gostosa de ter um homem me do minando e eu dominando ele. Sinto falta e meu
corpo é um relógio que derrama solidão de doze em doze horas preciso de algo .
Tornei-me escrava do meu desejo, do meu libido, das minhas entranhas, instinto puro.
Pois terça sonhei.............
Desde que nos rebelamos e tornamos
real nosso sonho de sermos putas independentes , coloquei na minha cabeça que
se os homens são capazes de pagar duzentos, trezentos ,que seja , reais para
passar uma hora , as vezes nem isso, alguns nem gozam, outros só falam, uma
hora com uma mulher desconhecida e que dorme com vários por dia e milhares no
ano. Poxa , acho que poderíamos dominar o mundo , quem sabe?
Homens são frágeis e domináveis pelo instinto, outros são monogâmicos por
acomodação , outros fracos quem não tomam partido nem para um lado nem para
outro. Outros são gays, alguns tentam
virar mulher, ah que raça de fracoídes. Por que não dominar o mundo??? E já não
são das mulheres??? Por que não das putas???
O sonho :
Obs: Se fosse
cinema, meu sonho seria em preto e branco...
Copacabana estava lotada de todo tipo de mulheres que se submetem a
vender o corpo ou a tirar proveito dos homens, como algumas falam. A avenida
tomada de mulheres libertinas. Putas sofisticadas, como eu, velhas decadentes
da lapa, nigrinhas esculhambadas da zona oeste e norte. Até um batalham , com
faixa e tudo, de nova Iguaçu. Ainda dava para avistar que a ponte Rio Niterói
estava cheia de mulheres prestes a dominar o porto, aterro do flamengo, lagoa e
Urca. Na avenida atlântica a marcha era lenta, e revoltosa, todos os homens
tinham os pênis decepados e o grito de agonia e dor era abafado pelos gritos da
prostitutas seguidoras da pomba gira .
O ônibus de turismo fora virado por 50 mulheres robustas e incendiado
pelo álcool usado para limpar ou desinfetar leitos semi imundos que alguns
homens se submetiam a fazer sexo e ainda pagavam. Uma marcha raivosa em direção
ao Leme. Putas vindas da Barata Ribeiro e Nossa senhora de Copacabana se
juntavam e a força feminina crescia a ponto de só vermos mulheres destemidas.
Copacabana era, aquele momento, a prostituta do mar. A estátua de Drumond era
substituída pela foto de vedetes .
Tomávamos a zona sul pelo simples fato de sermos mulheres e putas.
Ao fim da marcha até o pão de açúcar dançávamos desenfreadamente até nos
esvairmos em dor e choro. Alguns homens tomavam proveito daquela situação e
ainda propunham um programa de meia hora. Talvez atraídos pelo odor do
feromônio característico de quem passou a vida a rebelar-se em sexo.
Foi um sonho, mas parecia tão concreto, tão perto, tão hábil. Com certeza
o país tem putas suficientes para dominar os maiores líderes pelo sexo. E em
Copacabana acho que tem o maior número de espécies de putas de todo o mundo,
portanto o lugar ideal para se começar uma revolução, a revolução das putas.
Acordei derramando lágrimas e segundo Luana, com um sorriso discreto em
minha face. De fato acho que levei a frente demais esse desvairo, daqui para
frente acho que levarei apenas o fato de que sou e sempre serei uma mulher, o
que faz de mim especial, não só por ter os órgãos sexuais internos , mais o
fato de sermos imbuídas de mistérios e sons. As vezes sonho, mas
nunca tornei minha imaginação tão real como nesta terça feira.
Sonhos e considerações:
Era como eu estivesse sempre sonhando. Entrando em pesadelo e se
infiltrando em um prelúdio. Um arraso de sinestesias e catarses. Tenho as vezes
lapsos de memória e crises de amnésias, as vezes acho que sou meio louca, meio
pobre de espírito, meio mau, meio tonta. As vezes acordo com idéias na cabeça
que me transformam na mais perfeita rainha. Sinto-me como estivesse em um mundo que não é meu, não
me pertence. Sou meio sombra, meio farsa.
O fato é que todo esse período vivi em sonhos, e como me entrego ao ato
(em si) da luxúria, do sexo exposto e pago, sinto-me como não estive em meu
corpo. Em um mundo condenado de sombras negras e vampiros em todas as minhas
sensações. Karla e Luana dizem que é frescura minha, mas de fato e concreto,
sinto-me mal. E também já vi as duas chorando pelos cantos e prometendo, Deus
sabe o quando!, que irão deixar esta vida. Prometi para mim mesmo que esta vida
era finda. Sinto-me culpada por não ter forças, não ter paredes para me
sustentar. Penso em meu pais . Choro. Desagrado-me. Torturo-me.
Dois fatos positivos:
1: Conseguir ganhar dinheiro mais rápido do que conseguir imaginar
2: Comprei a maioria das coisas que quis com a vida que levo. Sinto-me
independente.
Só consigo pensar em dois , somente dois motivos para contrabalançar com
a enxurrada de fatos negativos que a mim cercam. Não queria passar um ar de
nobreza, nem fazer um manifesto ara
todas as mulheres virarem putas. Eu sei é contraditório, mas o que de fato tem
de correto em minha vida. Não são as putas , um paradoxo, usar a feminilidade
para sujar a feminilidade?
Certo sei que quando comecei esta vida, perdi o caracter e o pudor. Perdi
a noção do que é certo e o que é errado. Sou usada, já nem sei o que é mais
prazer. Exponho-me a tantos fatos e perigos que chego ao cúmulo de acreditar
que temos proteção , mesmo sem merecer.
Tenho , hoje, minhas virtudes apagadas.
Minhas memórias em branco. Já não me
curto mais, me enojo , me repudio. Sinto-me fraca, aliás todas nós nos
sentimos. Sou escrava do dinheiro. Começo a ter como moeda, programas. Com
quantos homens tenho que dormir para compara um carro? Hoje gosto do inútil. Arrasto-me na solidão e na anemia das
almas que usam e abusam da sua energia sexual.
Poesia não se aprende, nem se herda, se nasce. Nunca tive pretensões de
escrever e ou de com maestria orquestrar palavras. Preferia driblar a poesia
com o corpo. Preferir o sexo ao soneto. Escrevi, pois achei interessante
exorcizar meu fantasmas de minha memória. Bom de fato hoje me sinto bem melhor.
Dois anos se passaram e de imediato posso dizer a vocês que larguei , ou
melhor deixei adormecida, a minha profissão. Minha vida mudou, mas não me
informei, nem me desperto da curiosidade de levar adiante o curso. Karla e
Luana continuam na mesma, embora elas jurem que será por mais um mês , até
pagar as contas. Quase a há uno vi Luana e a mesma me disse que havia sido
pedida em casamento pelo cliente japonês e que logo, logo estaria a solta desta
vida. Pelo que soube o japonês foi encontrado morto em um motel barato
asfixiado por um saco plástico. Talvez tentando algum método de prazer
alternativo. Karla nunca mais a vi, desde que sai do apartamento. Sai de cabeça
baixa, olhando mais detalhes do chão do que o rosto dela. Não sinto falta de
nada. As vezes só do sexo.
Parei a faculdade e fui trabalhar como vendedora de assinaturas de
revistas. Trabalhei como telemarketing, vendedora externa, auxiliar de
escritório. Fui secretária-recepcionista-assistente administrativa . Sofri o
imaginável e o impossível. Não levei dinheiro da vida de puta. Aliás você nunca
leva, sempre te falta, quer sempre mais. Consegui guardar mais dinheiro hoje do
que quando fazia programas. Sou econômica. Esqueci minha família, talvez por
complexo de culpa, sei lá.
Em dois anos dormi com poucos homens. Mas sempre me entrego fácil.
Esqueci minha família, talvez por complexo de culpa, sei lá. Em uma dessas
entregas, me apaixonei, nos apaixonamos e estamos aqui.
Ë difícil escrever sobre a gente , então decidi preserva-lo. Casei-me, pelo menos em sonho.
Senti-me esposa pela primeira vez, toda de véu e grinalda, andando pelas ruas
vazias. Apaixona e levemente febril. Meio suada e borrada. Decidi então que
seríamos só nós. Quis sempre proteção,
braços fortes, vida, carinho, conforto, amor, orgasmo, tudo só para mim. E de
graça.
Acho que morri, entre sonhos e relatos. A maior revolução que poderia
fazer era casar. Ser o inverso, ser certa, centrada, eu. Aliás, nem sei o que
me levou ser tão irresponsável , ao ponto de comprometer todas a minha vida.
Fiz da minha vida ser embebida em revoluções e só consegui tornar-me mais e mais cheia de culpa. Não há caminho que
faça voltar , a ser o que era, o que pretendo ou desejo ser. Posso ter filho, marido,
ser avó. Mais não existe ex puta, sempre serei taxativamente e
irresponsavelmente uma leviana.
Que direito tenho eu de envolver pessoas com meu passado? Quem sou eu?
Que na verdade haveria de ser uma mundana revestida de pudores. O que sou eu?
O complexo e a culpa que sinto jamais serão responsáveis pelo atos
corretos que tentarei seguir. Sou inútil.
Termino meu relato e endosso por completo toda a realidade que vivi. De
fato nada valeu a pena. Acho que a minha maior revolução ainda está por vir.
Sou mulher e nada tenho para sonhar. O fato é que todo o sonho de posse que
sempre quis está somente em minha mente adormecida. Que venham meus pulsos
reclamarem do que vou fazer...
FIM
Comentários