Pular para o conteúdo principal

JOSÉ MARIA SOARES VIANA: pai , músico e escritor.

 








Foto: Geraldo Kosinski


JOSÉ MARIA VIANA: pai , músico e escritor.

©José Viana Filho

Segundo domingo de agosto se comemora o dia dos pais aqui no Brasil, e considero um privilégio da minha geração comemorar com o seu nesse dia. Esse ano será um domingo bem triste para mim e toda minha família, porque perdi meu pai há quase oito meses. Ainda mais nos últimos anos, que o dia dos pais, das mães, natal e qualquer aniversário dos infindáveis irmãos, sempre foram motivo para reunir todos; ou quase todos. Os últimos cinco anos que passei ao seu lado, tenho as melhores lembranças dele: o aranhão rápido no violão, algumas memórias passadas bem vivas, uns comentários pontuais de quem sempre tem todas as conversas ao pé do ouvido, como também, seus atos repetitivos fruto da sua doença.

Meu pai, que aqui escolho nesta coluna para representar todos os pais de Santa Inês, foi diagnosticado com Alzheimer em 2017. Ele lutou, como sempre lutara a vida por qualquer enfermidade e ou obstáculos, e faleceu antes que os piores sintomas o alcançassem. Até o ultimo dia de vida não esqueceu a cidade que o acolheu: Santa Inês. Sendo a rainha do Pindaré a cidade onde ele deixou seus maiores frutos. Se ele esqueceu tudo no final da vida, já tinha escrito suas memórias, histórias e estórias em seus nove livros, que tanto o encheram de prazer ao serem escritos. Aliás na sua arte, seja nas canções, poemas contos e romances, ele sempre se declarou para a cidade eixo rodoviário do Maranhão.

Papai ensinou muito para mim nas diversas etapas da minha vida; um ponto bem forte em toda sua didática comigo, foi sempre me fazer entender de onde sou e, e amar minha terra (que ele adotou), entendendo seus defeitos e virtudes, sabendo de onde é, entender as nossas raízes; e isso ele fez de forma bem simples: vivendo a e na cidade, fazendo amigos, gerando seus filhos com sua esposa, e como outros, fundando e construindo um local para as gerações futuras. Acredito que amo, por assim dizer sem exageros, minha terra natal porque amo meu pai. E acho que a minha escolha de o fazer aqui, representante de todos os pais da minha cidade, é certeira. Ele é com certeza uma parte significante da cidade, mesmo sendo esquecido, como em um sintoma da doença que o venceu, por essa geração que hoje habita Santa Inês, eu chancelo que representa muito bem todos os pais da cidade.

José Maria Viana foi um pai que me ensinou, amou e viveu. Está contigo em cada verso que leio dele, no amor da minha mãe, nas feições e gestos das minhas irmãs, em um ou outra ação dos seus netos. Por isso é tão difícil aceitar o luto, um problema meu que o tempo pode resolver; por isso é tão complicado passar o dia dos pais sem ele. Queria que ele estivesse aqui, mesmo inquieto e envolto em sua iminente degeneração, seria mais alegre que esse domingo que passará; como todos os dias que me farão lembrar desse homem, que me ensinou na vida, na doença e na morte. Feliz a todos que ainda tem pai.

 

 

©José Viana Filho é Bacharel em Cinema pela UNESA(RJ) e Mestre em Políticas Públicas pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.

      Email: josevianafilho@gmail.com  Blog: www.josevianafilho.blogspot.com.br        




Postagens mais visitadas deste blog

SEU SANTOS

SEU SANTOS José de Ribamar Silva Santos era um funcionário que todo patrão gostaria de ter: assíduo, discreto e vestia a camisa da empresa como nenhum outro. No caso, a Companhia União Caxiense , dona da fábrica têxtil localizada na praça do Pantheon , área central da Cidade de Caxias no Maranhão, foi a felizarda de tê-lo como funcionário. Supervisor geral da linha de produção, não deixou, nos seus trinta e sete anos de empresa, nenhuma vez a produção cair. Tinha a mão todas as funcionárias, e sempre fez questão de participar de todos os processos de seleção, desde que assumiu a supervisão. Esposo de Dona Iracema Carneiro Lago e pai de Sandra Mara, conhecida como a primeira Dentista da Cidade, e orgulho de Seu Santos. Sempre que ia nas reuniões do Lions Club e exacerbava no consumo de vinho, danava-se a recitar Gonçalves Dias e dizer aos quatro cantos que era pai da primeira feminista da cidade, que criara sua filha para ter independência e saber discernir os male...

OS BONS COMPANHEIROS DE MARTIN SCORSESE

OS BONS COMPANHEIROS (Goodfellas, 1990) De Martin Scorsese SINOPSE: Garoto do Brooklyn, Nova York, que sempre sonhou ser gângster, começa sua "carreira" aos 11 anos e se torna protegido de um mafioso em ascensão. Sendo tratado como filho por mais de vinte anos, envolve-se através do tempo em golpes cada vez maiores. Neste período acaba se casando, mas tem uma amante, que visita regularmente. Não consegue ser um membro efetivo, pois seu pai era irlandês, mas no auge do prestígio se envolve com o tráfico de drogas e ganha muito dinheiro, além de participar de grandes roubos, mas seu destino estava traçado, pois estava na mira dos agentes federais 1 . ANÁLISE DO FILME: Baseado no bestseller de Nicholas Pileggi "Wiseguy", que conta à vida do contraventor Henry Hill, "Os Bons Companheiros" é um projeto pessoal do diretor Martin Scorsese. O filme vai funcionar como um resumo de tudo o que o estilo "Scorsesiano" traz de...

AMADEUS DE PETER SHAFFER

Em cartaz  no Teatro Carlos Gomes , na praça Tiradentes no centro do Rio de Janeiro, Amadeus de Peter Shaffer.A montagem é uma bela oportunidade para quem quer ver um espetáculo, a altura da genealidade do compositor Mozart. A peça, dirigida por Naum Alves de Souza, conta no elenco principal com os atores : Roberto Birindelli(Salieri), Gustavo Rodrigues (Mozart), Silvia Buarque (Constanze), Marcelo Picchi (Joseph II ). Com um cenário minimalista e com alguns  painéis,  podemos imaginar algumas peças montadas pelo mestre  Wolfang Amadeus Mozart . Tudo conduzido por  uma história ficcional narrada por Antônio Salieri ... A adaptação de Peter Shaffer da vida de Mozart, seguiu uma linha não fiel aos fatos da realidade, transformando o compositor da corte Austríaca ,Salieri , em um vilão que inveja o jovem gênio Mozart e em um m ú sico ,digamos, medíocre . Para quem viu ,e ainda lembra do genial filme adaptado da peça Inglesa homônima ,de Milos Fo...