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Mostrando postagens de novembro, 2017

O ANO EM QUE NÃO PECAMOS

Prólogo Estávamos todos sentados. Um a olhar ao outro, entrecortados  por lembranças fúteis que só se vê em um velório. Era uma tarde fresca e bruta. Estávamos, eu e Júlio, folgados em ternos maiores que nossos números. Fumávamos Belmont. “Para morremos mais rápido”, balbuciava Júlio  sempre ao acender o cigarro. Já haviam se passado  mais de três horas, depois que os corpos chegaram. Era o velório mais longo que já se havia presenciado, a única coisa que nos salvava  a aquele martírio fúnebre, era o café. Uma hora ou outra , ouvia-se um leve som de Vivaldi, tocando alguma estação. Era outono, o melhor mês para se morrer. Todo o cenário já está pronto pronto para receber a doce e velha depressão do inverno, no outono as flores e as folhas migram para nosso coração. Em nenhum momento olhei os mortos, mas ouvia-se comentários de que “estavam lindos”. Se é que pode haver defuntos com alguma beleza a cativar. Estava tenso aquela hora, o café já não me servia e me via a cada insta