MARIA DO VOVÔ
I
A FAZENDA
Localizada
na área rural de Caxias, Maranhão, no bairro de Trizidela, a fazendo de seu
Macêdo, era uma grande área com um pouco mais de três mil hectares de terra.
Era apenas uma, das quinze que herdara do seu sogro Frederico Ramos. Casado há
quase vinte anos com Matilde, ele escolheu para morar naquela terra que dizia
ser o paraíso: pasto, matadouro, açude e até uma cachoeira de águas cristalinas
que desembocavam no rio Itapecuru.
A
casa maior, era em estilo colonial com vinte quartos, sendo doze suítes e
diversas divisões, dentre elas: sala de costura, cozinha, uma extensa sala de
jantar e uma varanda, que era o lugar predileto de seu Macêdo. Ela era bem
grande, e lá ele podia sentar em sua cadeira de balanço e contemplar o pôr do
sol, ao mesmo tempo em que, observava seus diversos empregados trabalharem para
tirar o boi do pasto, recolher os cavalos, e ainda, observar as empregadas na
correria para preparar seu jantar.
Ali
era seu paraíso, sendo que foi naquela grande casa da fazenda ,que viu sua
mulher Matilde parir dezesseis filhos, onde desses nasceram vivos: Otília (a Diloca), Matilde (a Matildinha), Francisca (a Chiquinha),Onezina (a Nézia), Julita (a Juju), Antônia (a Tunica),
Maria José (a Preta), Rafael (o Macedinho), Dinorah (a Didi pé de valsa) e por último a sua
caçulinha Raetilde (a Raé). Todos
apelidados pelo pai, sem o agrado da mãe, que costumava corrigi-lo para chamar
pelo nome e não por apelidos que, segundo ela, tiravam a personalidade dos seus
filhos.
A
casa ainda contava com dezoito empregados, sendo duas cozinheiras e mais duas ajudantes,
e o restante se revezavam entre cuidar das crianças, limpar a casa, lavarem as
roupas e engomarem. Na casa que não faltava serviço, parecia tudo muito vivo,
tanto pelos diversos sons emitidos pelas crianças, como também, pelos adultos
que ali habitavam. Seu Macêdo era o maestro disso tudo; começava pela hora do
café, que era sempre as seis horas da manhã, onde fazia questão de tomar todos
os dias com as crianças, que já deviam estar de pé e bem vestidas, independente
se estavam de férias ou em período escolar.
No
almoço, as vezes não ia à casa, pois fazia questão de almoçar com seus peões,
em meio suas plantações de carnaúba e seu enorme rebanho de gado. À noite,
religiosamente jantavam após o horário da ave maria, por volta das dezoito e trinta,
onde seu Macêdo exigia, logo após o jantar, que as crianças se retirassem da sala
e se recolhessem nos seus quartos. Também ordenava que as empregadas
recolhessem as louças do jantar, e fossem imediatamente para cozinha, pois não
queria mais ninguém para atrapalhar suas tragadas e mascadas de fumo. Era capaz
de ficar mais de duas horas na varanda, pitando no cachimbo, e as vezes
cuspindo na escarradeira, com o barulho ensurdecedor de grilos, sapos, cavalos,
carneiros, bodes, capotes, galinhas, porcos e o seu imenso rebanho de gado por
toda a fazenda.
As
vezes se pegava dormindo e era acordado por seu capataz que fazia a ronda.
Subia para seu quarto meio contrariado, para enfim acordar por voltas das cinco
da manhã e começar sua rotina, que só era interrompida pelas idas aos domingos à
missa das nove da manhã, no centro da cidade, na secular Igreja de Nossa
Senhora da Conceição e São José. No domingo se sentia deslocado, por fazer todo
o protocolo social, mas era um devoto de São José, onde sabe-se segundo sua
finada mãe, havia lhe curado de uma tosse brava na infância. Era um homem de
poucas palavras que se sentia à vontade no seu pasto, seus açudes e seus
empregados.
Tido
como rústico, por vezes ignorante, era comum entrar na sua própria casa
montando em seu cavalo, para alegria das crianças e desagrado de sua
melancólica mulher. Fazia questão de levar o seu filho Macedinho para o
matadouro e obriga-lo a ver o boi morrer a pauladas para depois, ser retirado o
couro e dividido em diversos pedaços, a carne propriamente dita. Macedinho
odiava ver aquela cena, mas quem era a mais entusiasta era sua irmã Tunica, que
por vezes era vista aplaudindo o dilacerar do boi morto. Tanto que aprendera a
identificar o nome de cada parte do boi, só observando os cortes feitos pelos
empregados da fazenda.
Tunica
era a primeira a pedir que separassem a alcatra, para fazer seu bife
malpassado, temperado com muito sal e lavados com muito vinagre de vinho.
Exigia, quase como uma birra, que a carne saísse imediatamente do matadouro
para a cozinha e ser logo cortada. Em muitos momentos tinha-se a impressão de
que a carne ficava tremendo, ao chegar na bancada para ser cortada em diversos
pedaços de bifes. Tunica era uma voraz degustadora de carne de boi, adorava
também os assados feitos de coxão mole, temperados com muita pimenta de cheiro,
bastante cultivada na região.
Macêdo
admirava o interesse de sua filha no processo de corte do boi abatido. E ficava
muito alegre em ver o apetite da mesma, a sua Tunica, pela carne vermelha. A
ela, ele dizia, jamais chegaria o “fartiu” e muito menos falta de sangue.
Admirava sua pele branca, bochechas inchadas , protuberantes e avermelhadas.
Todos os empregados comentavam que era a filha predileta do seu Macêdo, pois
seria a única que lhe arrancava um simples sorriso; ato difícil de se tirar da
sua face carrancuda e suada. Um homem simples com um imenso patrimônio, com
muitos filhos, empregados e uma esposa melancólica.
II
O ENTERRO
Dizia-se
no final do século XIX, que o português Frederico Ramos era o homem mais rico
do Maranhão. Com um extenso rebanho de gado, espalhados pelas suas trinta e
cinco fazendas, que percorriam toda a região de Caxias até o sul do Estado.
Plantava de tudo, participando inclusive do grande ciclo de algodão em terras
maranhenses. Mas era a carnaúba sua principal paixão, e reservava vinte
fazendas para o plantio dessa palmeira, conhecida como árvore da vida. Era um
entusiasta da carnaubeira onde tudo se aproveitava, da raiz a cera, e dizia que
planta seria o futuro ouro do país.
Imigrara
para o Brasil na segunda metade do século XIX, saindo da região do extremo
norte de Portugal: ele e mais três irmãos saíram da região de Viana do Castelo
para enfim, desembarcarem no Brasil (em 1880) e seguirem do Rio de Janeiro para
o Maranhão, para trabalharem no comércio e por último, entrarem no ramo de
cultivo de carnaúba. Frederico Ramos acabou fincando raízes no Maranhão, ao
contrário dos dois irmãos que voltaram para Portugal. Tinha uma capacidade
imensa para vendas e acabou formando um imenso patrimônio.
Frederico
casou com a portuguesa algarvense Maria de Fátima em 1885, tendo três filhos: a
mais velha Matilde, o filho do meio José Ramos e o caçula Joaquim. Sendo que em
1900, casou sua filha com seu capataz mais fiel e trabalhador; o Macêdo. Era ele
que costumava controlar uma manada de mais de cinco mil bois para pastar. Era
também o que se preocupava em conferir cada carga, de qualquer produto, que
saia da fazenda que controlava em Caxias. Era de poucas palavras e muito
trabalho. Chamava atenção, por comer em uma bacia um quilo de arroz com uma
galinha caipira cozida inteira. Era pau para toda obra, assim como, um
excelente informante de todos os problemas que aconteciam na fazenda que
administrava, que por sinal era a que mais tinha plantio de carnaúba e um
extenso rebanho de gado.
Antes
de ser o genro de Frederico Ramos, Macêdo já era responsável por dez das trinta
e cinco fazendas do seu futuro sogro. Era pouco entendido da arte de vender,
mas o português apostou alto nele ao oferecer a mão de sua filha e quinze
fazendas como dote. O casamento causou um certo desconforto na provinciana
cidade, mas logo o Padre Antônio abriria sorrisos pela a grande ajuda que,
Frederico e Maria de Fátima, dariam para a reforma da paróquia de São José e
Nossa Senhora da Conceição. Porém, com o casamento feito, difícil foi convencer
a sua esposa de que seus filhos José e Joaquim ficariam com uma herança menor
que a irmã. Frederico não usou a diplomacia e simplesmente disse que assim
seria, pois era seu patrimônio e o estava zelando porque, mesmo aos quarenta e
um anos, estava cansado de idas e vindas por estradas enlameadas do interior do
Maranhão, e por sempre ter que negociar mercadorias na capital São Luís. E
quando os meninos, de doze e dez anos, quando crescessem teriam uma rede melhor
de comercio para eles, cuidados firmemente pelo pai, na cidade que adotou como
sua.
O
fato foi que Matilde casara com Macêdo em 1900, aos quatorze anos e já no
início do século XX, nasceria Otília , o primeiro dos outros dezesseis partos
que teria ao longo da sua curta vida. O casal chamava atenção ao ir as missas
de domingo; ela cabisbaixa e tímida, ele sempre carrancudo e pouco simpático.
Mantiveram um código bem simples e direto: Ele cuidava do patrimônio que o
casal herdou do Pai de Matilde, enquanto ela tratava de gerar filhos para
formar uma grande família. E assim o fez, tendo perdido logo ao nascerem seis
filhos. Três nas primeiras gestações e outros três após o nascimento de sua
caçula Raeltilde.
Matilde
na segunda década do século XX, era cada vez mais melancólica e parecia ter
aversão ao seu marido. Comunicavam-se muito pouco, e não se importava com os
“fuxicos” recebidos pelos empregados, de que seu Macêdo teria uma ou duas
amantes em cada fazenda. Afastou-se de seu pai Frederico, logo após a morte de
sua mãe Maria de Fátima. Matinha pouco contato com os irmãos, e era vista
sempre comendo doces, que sua amiga doceira Moise fazia questão de
presenteá-la. Sempre ao fim do almoço, era comum vê-la na varanda, saboreando
algumas guloseimas açucaradas de sua amiga. Quase não se importava em
acompanhar a educação dos seus filhos, com o comando da sua imensa casa.
Incumbia-se apenas de controlar o estoque cada vez maior de doces de leite,
côco, buriti e suas imensas compotas de mamão, laranja da terra e caju.
Sofrera
bastante com o parto de sua caçula, no entanto, sofreria ainda mais com a perda
quase que concomitante de seu filho José, com menos de três semanas de nascido,
e seu pai Frederico ,no ano de mil novecentos e vinte. Perderia mais duas meninas,
para enfim morrer em mil novecentos e vinte e cinco, já com problemas de visão,
envolta em uma depressão e com suas pernas e seus pés com feridas e bem
inflamados. Dizem que ela morreu em seu quarto abraçada a três bonecas de porcelana,
e vestida com um dos vestidos de sua finada mãe, que guardava em seu grande baú
de lembranças e presentes. Seu Macêdo ao chegar de uma das Fazendas, mandou
matar o seu boi mais gordo, que estava confinado ali na sua casa, e exigiu uma
missa de corpo presente para Padre Antônio, uma homenagem à altura de uma das
filhas de Caxias mais católicas. O pedido não só foi atendido, como rezou
missas durante cinco anos em intenção de Matilde. Depois de um dia todo de
velório, Matilde Ramos de Macêdo foi enterrada no cemitério Municipal de Caxias,
Maranhão, no jazigo da família, ao lado de seu pai Frederico Ramos e sua mãe
Maria de Fátima Ramos. Nenhum filho esboçou tristeza, muito menos choro.
III
O CASAMENTO
No
dia treze de maio de mil novecentos e vinte e oito, seu Macêdo convolou novas
núpcias com Maria Francisca da Silva, filha de um dos seus empregados em uma
das suas diversas fazendas da região de Caxias. Ele com seus quase cinquenta
anos, ela com seus quinze anos recém completados. Havia uma diferença abissal
entre os dois, somados ainda ao desprezo e desdém de suas filhas do casamento
com Matilde. De Diloca, a mais velha, tinha a completa indiferença, mais seria
do núcleo formado por Matildinha ,Nézia, Tunica, Preta e Dinorah , de onde
vinham as maiores críticas e galhofas.
O
casamento foi celebrado na grande casa mesmo. O padre Antônio daria só uma
benção, já que Macêdo já havia casado na igreja. O que não fez o grande
latifundiário economizar em nada. Organizou na Casa Grande uma festa para
trezentos convidados. E incumbiu a melhor amiga de Maria Francisca, Rosane, para
cuidar do vestido da noiva e dos doces e bolo. A ele coube cuidar do cardápio
regional, servido com muita cerveja e carne vermelha. As suas filhas, seu
Macêdo pediu que cuidassem da sua roupa, e que, encomendassem sapatos para os
noivos.
Tunica
fez questão de comprar um sapato Oxford preto por seu pai, e para Maria
Francisca um grande par de saltos Luis XV. Rosane não economizou ao contratar
as costureiras irmãs, Simone e Juliana, para fazerem o vestido de noiva de sua
amiga Maria, como também, as roupas de todos os filhos de seu Macêdo. Com
apenas três meses de antecedência, Simone a irmã mais sisuda e com mania de
organização, quis recusar os pedidos alegando pouco tempo, mas foi logo
convencida pela risonha e trabalhadora irmã Juliana. Para ela não havia tempo
ruim, e era vista rindo até em velórios, e não seriam um vestido de noiva e
mais dez roupas que iriam tirar seu sono.
As
semanas que antecederam o casamento foram divertidas para as filhas de Macêdo,
se divertiam com cada prova de roupa e se amontoavam para olhar Maria Francisca
andando de salto alto. Suas pernas abertas e desconexa entre o primeiro e
segundo paço, tiravam toda a elegância do vestido desenhado por Simone e
Costurado por Juliana. Odília não ria, apenas mal dizia o pai por “substituir”
sua mãe por tamanha aberração, que além de ser trinta e pouco anos mais nova, era
segundo a mais velha dos Ramos de Macêdo, uma pessoa indigna de conviver com a
família e ou tomar o lugar da sua finada mãe.
Um
mês antes do casório, Rosane teve a difícil missão de treinar sua amiga noiva,
com os saltos que ganhara de sua enteada Tunica. Rosane até tentava, mas Maria
Francisca não conseguia se acostumar a andar com saltos. As vezes era
desengonçada até com sandálias rasteiras, o que fazia a diversão de todas as
meninas do seu Macêdo, que ao final da tarde se trancavam em um dos quartos da
extensa casa, para promoverem concurso da melhor imitação da “caipira do
papai”. Cada uma caprichava nas imitações, o que acabava gerando uma sinfonia
de risos, gargalhadas e gritos, interrompidos sempre com alguma empregada servindo
lanches ou religiosamente pela chegada do patriarca da família.
O
casamento com a benção de Padre Antônio aconteceu sem muitas surpresas, exceto
por Nézia ter sido protagonista de um episódio no mínimo curioso: um dia antes
do casamento, a mesma acariciou os dois bois que estavam separados para o abate
para a festa. Segundo testemunhos de mais de cinco trabalhadores, os mesmos
caíram imediatamente soltando uma baba espessa e amarelada, para logo depois
morrerem. A partir desse episódio seu Macêdo a proibiu, de pisar no Matadouro
daquela ou de qualquer fazenda de sua propriedade.
O
comentário quase unanime sobre a festa, era de que o bolo e os doces estavam
deliciosos. Macêdo agradeceu a Rosane pela feliz escolha da doceira predileta
da sua finada esposa, a Moise. Que
além de ter a mão certa para fazer diversas guloseimas na cidade, era ainda,
uma excelente confeiteira, fato comprovado pela decoração do bolo de três
andares da festa. Nesse dia não faltaram comida e nem bebida, tudo foi muito
farto e com uma ampla quantidade de empregados servindo. Rafael, o Macedinho,
era o mais empolgado, dançando inclusive, com as empregadas da fazenda,
afugentando sua habitual timidez depois de alguns goles de cachaça fabricados
na própria fazenda.
Tunica,
Preta e Didi eram só sorrisos e se divertiram bastante também, inclusive foram
as únicas que não controlaram o riso, ao verem Maria Francisca caminhar em
direção ao mine altar improvisado, para a benção do Padre Antônio. A noiva não
conseguiu, mesmo com a ajuda exaustiva de sua melhor amiga Rosane, fazer as
pazes com os saltos. Andava toda torta, e muitos até comentaram que abrira tanto
as pernas, que mais parecia um alicate. Nézia observou inclusive, que seus
movimentos tortos, com o salto que sua irmã Tunica havia escolhido a dedo,
fizeram até a rasgar um pouco o belo vestido de noiva, desenhado e costurado
pelas irmãs Simone e Juliana.
A
festa foi um sucesso, mesmo com os tropeços da bela e jovem noiva com o seu já
cansado e rústico esposo Macêdo. O casal inclusive, se atreveu a dançar um
maxixe já bem alterados pelos goles de tiquira e licor de jenipapo servidos na
festa. Da união de Maria Francisca e Macêdo nasceram mais cinco filhas para o
patriarca: o Macedão, o nariz de fole, o rabugento, como era chamado por suas
filhas mais novas; Roseni, Liane, Maria Edite, Maria de Lourdes e Ivani.
Foi
um casamento que durou até mil novecentos e cinquenta e cinco, ano da morte de
seu Macêdo. O patriarca já sem muitos bens e completamente alheio ao novo
comércio da cidade, tinha se desfeito de suas plantações de carnaúba, herdadas
do seu sogro português Frederico Ramos. Do patrimônio restavam “apenas” sete
fazendas, alguns sítios com quedas d’água e dez mil cabeças de gado. Todos na
região e ou cidade de Caxias. Havia deixado sobre a responsabilidade do seu
Genro Castelo, bancário casado com sua filha Francisca (a sua Chiquinha), a
árdua missão da divisão de todos os bens para sua enorme família.
Eram quinze filhas, já que Macedinho sumira do
mapa depois da revolução de trinta. Não deu mais notícias, alguns até o tinham como herói da guerra de Getúlio Vargas, outros como um mulherengo inveterado
que se enrabichou por uma trapezista de circo, ou por fim, diziam até, que o
mesmo fez foi fugir de suas nove irmãs, e da pressão que seu pai fazia para
entender de comércio. Sumiu de fato, o que fez Castelo exclui-lo da divisão,
fato que nunca fora cobrado por nenhum eventual herdeiro.
Maria
Francisca virou, entre os netos de suas enteadas, sinônimo para mulher que não
sabe andar de salto alto, ou como diria Diloca, a mais velha filha de Macêdo e
Matilde, exemplo de mulher sem classe e destreza. O mais irônico é que foram as
filhas de Maria Francisca, que socorreram as irmãs mais velhas, quando do
desabamento da Mansão das Macêdos, na extinta rua Conselheiro Sinval no centro
de Caxias; presente do pai para as filhas solteiras: Tunica, Raé, Preta e Didi, e mais tarde lar para
as desquitadas Nézia ,Matildinha e Diloca.
Foram
amparadas e divididas para morar de forma provisória nas casas de Liane, Maria
Edite, Maria de Lourdes e Ivani, que falaram, por ocasião de um jantar onde
todas estavam reunidas, de forma jocosa e descontraída, mas desprovida de
qualquer maldade, em um humor quase inocente, que as filhas de Maria Francisca,
que odiava saltos e adorava andar descalça pelos caminhos da fazenda; haviam
salvado as suas irmãs portuguesas. A constatação repetida de forma mais alta
por Roseni, foi o motivo certeiro, para naquele jantar regado a tortas de
bacalhau e muito vinho português, as irmãs e seus filhos levantassem a taça e
brindassem juntos, em um viva a Maria do
Vovô.
FIM