Pular para o conteúdo principal

VASCO, VALENCIA E VINI JR: O racismo no futebol.

 



                          



VASCO, VALENCIA E VINI JR: O racismo no futebol.

©José Viana Filho

Um dos grandes orgulhos de qualquer vascaíno é falar da resposta histórica de 1924. Um dos maiores documentos da história contemporânea contra o racismo nacional, muitas vezes é rechaçado, desprezado e até minimizado por diversos torcedores. Torcedores inclusive, dos times que se uniram para “expulsar” o campeão carioca da famosa liga racista, preconceituosa e burra. Burra porque tirava o time sensação da época, composto de craques pretos, pobres e que começariam a romper a barreira da elitização, fazendo com que o futebol fosse popularizado pelo Brasil território adentro. Todo vascaíno carrega um pouco desse DNA, e sim, sempre lembraremos desse momento histórico; seremos repetitivos, enfáticos e porque não dizer , didáticos quando se tratar de racismo.

Cem anos depois, um século exato completo em 2023, do título carioca do Vasco da Gama; um dos maiores jogadores do futebol da atualidade, Vini Jr, sofreu racismos com gritos e gestos da torcida do Valencia; reclamou e teve a certeza de que o jogo paralisaria, segundo o árbitro da partida. No final do jogo ainda sofreu racismo e provocações dos jogadores do Valencia, um mata leão e uma confusão generalizada que culminou na sua expulsão.

O VAR espanhol, escondeu o lance principal da agressão e induziu o juiz da partida a expulsar Vini Jr. As ações todas chancelaram ainda mais, a dor e a luta do jogador que confrontou os atos de racismo ao vivo e na hora. A torcida do Valencia (e generalizo mesmo) é racista, a Liga Espanhola é racista, o Real Madri é racista, a Espanha é racista, a FIFA é racista...Eu digo isso porque foram necessários dez ataques consecutivos ao jogador; culminando em um das maiores  agressões racistas ao vivo e em cores para , enfim, começarem a arregaçar as mangas em atitudes e discursos, que vão ao encontro da luta do racismo no futebol.

Vini Jr é natural de São Gonçalo e lançado por um time, que ironicamente há cem anos, foi racista e preconceituoso com o Clube de regatas Vasco da Gama; devidamente documentado na resposta histórica em 1924. O rubro Negro da Gávea foi vilão há cem anos, e acabou se tornando um dos clubes mais populares do Brasil. Sua torcida apoiou seu ídolo, e se manifestou ajudando em uma rede de cobranças, por atitudes reais e não discursos vazios. O presidente Lula cobrou em uma reunião mundial atitudes de fato, com o primeiro ministro da Espanha dando uma resposta imediata e sendo solidário ao jogador. Em dois dias após os ataques , assistimos torcedores sendo presos, por há tempos atrás terem enforcado um boneco de Vini Jr.

A FIFA necessita urgentemente aprovar um novo protocolo contra o racismo, com apoio de todas as ligas europeias. O racismo nunca pode ser normalizado, aceito. O jogador do Real Madri provou que a indignação e luta nunca serão em vão. Pode ser uma luta que ele mesmo pode nem ver antes de acabar sua carreira. Mas seu basta, sua voz nas redes sociais e nos campos europeus, podem começar a ser a ponta do iceberg para regras mais duras e punitivas aos torcedores, aos clubes e principalmente as ligas que organizam os campeonatos e ditam as regras. O certo seria o time do Valencia ser rebaixado automaticamente para a segunda divisão do campeonato Espanhol, com a retirada de mando de campo por no mínimo dez jogos, e a prisão imediata dos torcedores identificados. E com jogadores também, com a liga espanhola, ganhando uma bela multa se descumprissem as novas regras.

Não veremos isso brotar de uma hora por outra, nem tampouco reconhecer que não se muda calado, sem indignação e apoio de todos que querem dar um basta em todo e qualquer ato de racismo. Por isso torcedores alviverdes, rubro negros, alvinegros, tricolores e de todas as cores, entendam que a cada ano de aniversário (ano que vem serão cem anos) da resposta corajosa e inédita do Vasco da Gama, é um ato obrigatório para que no Brasil tenhamos base e comprovação, para luta de qualquer ato de preconceito, seja no futebol ou em qualquer outra profissão. A luta de Vinicius Junior terá sempre o apoio do clube que já vem travando desde a sua fundação a luta contra o racismo.

Clica e leia a resposta histórica do Vasco da Gama na íntegra:  https://crvascodagama.com/resposta-historica/

©José Viana Filho é Bacharel em Cinema pela UNESA(RJ) e Mestre em Políticas Públicas pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.

      Email: josevianafilho@gmail.com  Blog: www.josevianafilho.blogspot.com.br        




Postagens mais visitadas deste blog

A SUPERFANTÁSTICA HISTÓRIA DO BALÃO

  A SUPERFANTÁSTICA HISTÓRIA DO BALÃO: o pioneiro programa infantil da década de oitenta. ©José Viana Filho A geração que nasceu na segunda metade decáda de setenta até no início da década de oitenta, vai ficar nostálgica e lembrar cada momento de sua infância ao ver a exibição do documentário A SUPERFANTÁSTICA HISTÓRIA DO BALÃO. Exibido em três capítulos: 1. Também quero viajar nesse Balão, 2. Mãe, me dá um dinheirinho, 3. Quando fica Grande; o streaming STAR+ consegue narrar na medida certa a importância do Grupo Balão Mágico, para o início do que seria um grande filão de consumo, tanto na música, com nos shows e em programas infantis na década de oitenta no Brasil. Simony, Tob e Mike já eram estrelas da música infantil, com dois discos lançados pela gravadora CBS, quando foram para a Globo e formaram com Jairzinho, a primeira formação para o programa de TV. A qualidade musical, o talento dos apresentadores infantis e a direção certeira de Nilton Travesso, ajudaram a transform...

CACÁ DIEGUES FOI CINEMA ATÉ O FIM

  CACÁ DIEGUES FOI CINEMA ATÉ O FIM © Cacá Diegues foi além da direção de cinema, foi uma espécie de eminência parda da sétima arte brasileira, ou ainda, um oráculo consultivo nas diversas crises da nossa produção nacional. Esteve na criação do CINEMA NOVO,  exilando-se e voltando com uma nova forma de produção no Brasil. Criou e filmou até o fim da EMBRAFILME, produzindo inclusive, na seca total de financiamento do começo dos anos 90 do século passado. Foi um dos primeiros a comandar a grande revolução da retomada do nosso cinema. Opinou, escreveu, propôs ideias, as vezes nem tão compreendidas e ou unânimes, participando ativamente da criação do que seria a ANCINE. Surfou na retomada reescrevendo sua filmografia, sendo também, um mestre para a criação de diversos núcleos de diretores da nova geração. Foi um entusiasta da nova geração de cineastas vindos das periferias dos grandes centros urbanos. Como se não bastasse, fez do fardão da Academia Brasileira de Letras sua camisol...

FILME "AINDA ESTOU AQUI"

  FILME "AINDA ESTOU AQUI" de Walter Salles  ©José Viana Filho                                       @waltersalles_oficial  como poucos cineastas ,sabe nos colocar no filme,na vida dos personagens. Em "AINDA ESTOU AQUI" não é diferente : mergulhamos,nos primeiros 40 minutos, na casa de Eunice e Rubens Paiva; seus filhos,suas comidas,seus amigos ,cachorro,parecem nossos.Tudo soa tão familiar...                                       Na minha opinião,é isso que nos faz no restante da película, sofrermos com o drama de Eunice Paiva ,e entendermos a força e sacrifícios dela e dos seus filhos ,em um final verídico e bem humano. Uma heroína de carne e osso vivida magistralmente por Fernanda Torres. Walter filma a tortura militar ,nos convidando ao drama dos Paivas. Simples,franco e direto...V...