MINHA
SANTA INÊS ©

Em 14 de
março de 2025, Santa Inês do Maranhão completa cinquenta e oito anos de
emancipação, e eu cá comigo fico envolto em lembranças da minha infância na
cidade. Também costuro algumas memórias da minha adolescência, ali no final da
década de oitenta, início da década de noventa do século passado.
Nascido e
criado na Rua Nova, bem no coração da cidade, acompanhei a explosão demográfica
e estrutural da Rainha do Pindaré ,no início da década de oitenta ,e guardo
lembranças assim meio opacas desse passado de pouco mais de quarenta anos.
Surgem
daí a construção da igreja da Matriz, como também, das festas da paróquia,
sempre acompanhadas de parques e circos. Uma movimentação que deixava as
celebrações da Santa padroeira da cidade, sempre marcadas com gosto de quero
mais.
É de
minha memória também, o crescimento e construção a cada ano da Escola Horas
Alegres, de onde tenho orgulho de falar que fui da primeira turma, pelo menos
acho que fui, lá no final da década de setenta. Protagonizei uma fuga épica,
fugindo da escola com mais cinco amigos, descendo a rua 21 de agosto, entrando
na rua do Sol, para finalmente invadirmos o supermercado, na rua do comércio,
do pai de um dos nossos do comboio da fuga.
Do
“roubo” do danone no maior supermercado da cidade, pulo para as inúmeras vezes
que acompanhei meus pais ao mercado público e suas diversas biroscas,
mercadinhos, bancas; com cheiros de fruta, verduras e legumes. E cheio de
Carnes! Papai era expert em identificar as partes do boi. O mercado lembra esses
aromas, além do forte cheiro de comidas, muito barulho, uma bagunça no trânsito
e muita diversão para uma criança.
E seriam necessárias diversas crônicas para
descrever todas as lembranças: do carnaval no Country Club(das matinês aos
bailes noturnos), ao som do Dico Moreno, ou ainda, dos banhos de maisena nas
ruas da cidade. Do título da Escola de Samba “Canário do Samba” em 1988, da
derrota do TRN (bloco turma da rua nova) na disputa de blocos, até o fim dos
carnavais amanhecendo na praça da Matriz.
Santa
Inês sempre me lembrou férias, feriados, brincadeiras e política. Sim, política! lembro-me
das campanhas de Seba e Carcará apoiado por Biné(assim dizia a música), concorrendo
contra Adelma Jansen e Marcone Farias, até da virada histórica de Valdevino
Cabral derrotando mais uma vez Marcone.
Da minha
cidade carrego meu passado, minha infância, e início da adolescência, carrego
minha rua, sinto o gosto da cana de açúcar gelada retirada do quintal, lembro do
Hotel Socic sendo levantado, das vaquejadas, das canções que meu pai compôs
nela e para ela, das quadrilhas de São João, do cheiro de asfalto cobrindo o paralelepípedo,
facilitando nosso jogo de futebol no meio das ruas.
Saí da cidade,
mas ela continua aqui, com memórias que voam como um papagaio que perdeu uma lanceada,
e que voltam como um carro que circula pela praça da matriz e volta novamente;
somados aos amigos que se foram, que se distanciaram, como também, com o amor e
certeza que pertenço ao vale do Pindaré, à cidade de Santa Inês.
©José Viana Filho é Bacharel em Cinema
pela UNESA(RJ) e Mestre em Políticas Públicas pela Faculdade Latino Americana
de Ciências Sociais.
Email: josevianafilho@gmail.com Blog: www.josevianafilho.blogspot.com.br