
A JUVENTUDE ENVELHECEU

Vi há alguns meses atrás no Teatro Ziembinsky, a peça "Cidade Vampira" de Fausto Fawcett e Henrique Tavares e fiquei atônito pela crítica voraz e inteligente que Henrique (com seu texto) e Fausto (com suas músicas ) imprimiram na elaboração da peça. Baseado no caso da patricinha parricida Suzane von Richthofen, o texto nos leva por um passeio dos tempos atuais. Jornalistas querendo furo a qualquer preço, delegados posando de estrela de televisão, cidadãos comuns vítimas do vampirismo das grandes cidades. E lógico, explora ao limite todos os conceitos e vícios dessa geração que, a meu ver, parece cada vez mais centrada em imitar vídeo games (lendo cada vez menos e teclando cada vez mais).
O caso que chocou o Brasil e o mundo tem uma versão "vídeo clipe" e antecipa até o final feliz para a grande estrela da mídia do momento. Engraçado como o deboche da Susana da peça (vivida por Carla Faour) parece ter antecipado o deboche real da verdadeira assassina nas constantes declarações dela (a última foi que ela era abusada pelo pai). A peça se desenvolve e à medida que caminha para o desfecho somos brindados com números musicais entre uma ação e outra.
É ai que reside a força da montagem, o eterno poeta de Copacabana Fausto Fawcett (autor de Kátia Flávia, Rio 40 graus) entra em cena para cantar seus delírios certeiros e para desenvolver suas teorias apocalípitas e vamos quase dizer, verdadeiras. O compositor não está só, ele conta com a ajuda vocal instrumental e corporal do trio composto por Cecília Hoeltz, Piti Walter e Renata Davies, as Valquírias 666 (todas loiras para variar, em se tratando de Fausto Fawcett). Com direito a uma atuação inesquecível à frente do palco.
Os personagens estereotipados ao máximo, com um texto inteligente (destaque para a descrição de um jogo feito pelo irmão de Susane em um Lan house) e uma crítica afinada, Cidade Vampira é uma peça excelente para ilustrar o momento presente da nossa juventude. Como diz o próprio Fausto Fawcett, "a juventude envelheceu, hoje está com cinqüenta anos", e completando digo: os que estão hoje matando pais e imitando vídeos games são sobras que fatalmente prejudicarão o futuro da nação. Ou mudarão os valores e serão presidentes, não se assustem.
A peça voltou a estar em cartaz e está no Espaço Cultural Sérgio Porto no bairro de Humaitá, é bom consultar o horário e os dias e não perder essa pérola.

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