Internet, solidão e lirismo
O filme se passa no subúrbio de Los Angeles e acompanha a trajetória de Richard vivido por John Hawkes, um vendedor de sapatos recém separado, que se vê entre a convivência conturbada com seus filhos (após a separação), seu trabalho e uma paixão inusitada com Christine, vivida por Miranda July (uma espécie de artista performática) . O lugar não importa, muito menos uma trama principal. A feitura do filme se desenrola em tramas paralelas que fazem de "Eu, você e todos nós" um belo exemplo de filme "alternativo" do cinema americano atual.
Na estória de Miranda July (além de atuar, ela escreveu e dirigiu) as pessoas a princípio parecem estranhas, mas aos poucos vamos nos identificando com suas dúvidas e sentimentos. Tudo parece alheio, mas depois de passados os créditos é que deixamos cair a ficha e entendemos que "Eu você e todos nós" nos remete ao mundo atual (tão dito e citado) como pós-moderno. É um filme que toca em diversos universos, mas que tudo converge há um ponto comum: relacionamento.
E se era intuito do filme nos fazer refletir sobre o modo como nos relacionamos no mundo atual, não poderia ser melhor. São noventa minutos que nos mostram a comunicação pela internet, pedofilia, descoberta adolescente, solidão dos adultos , separações, enfim, um tremendo contraponto, onde há o mundo globalizado e informado de um lado e pessoas solitárias e vazias do outro.
Destaque para o elenco mirim e infanto-juvenil do filme, pois seguram a dramaticidade necessária para entrar em choque com a vida dos "adultos infantis". Falar mais seria destruir o encanto do filme. Nele existem cenas que ilustram tudo que disse. E são elas que fazem do filme um dos grandes exemplares de 2005 e programa obrigatório para quem clama por um cinema um pouco mais inteligente. Assistir a ele fará com que eu, você e todos nós possamos discutir um pouco mais sobre em que mundo estamos vivendo e para onde diabos queremos ir.
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