
A DESPEDIDA DE DRUMMOND

Há muito tempo gostaria de ter escrito algo sobre um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e um dos mais importantes poetas brasileiros: Carlos Drummond de Andrade. Drummond produziu uma larga e extensa obra no decorrer de sua vida. Influenciou e criou toda a poesia moderna do Brasil, tornando-se indispensável à leitura de sua obra para no mínimo entendermos um pouco de nossa poesia. É, ainda, obrigatório para percorrermos qualquer caminho que queiramos seguir na linha da poética nacional.
Curiosamente começo pelo seu livro menos lido: "Farewell", livro póstumo publicado em 1996. O livro é uma despedida melancólica e saudosista, onde Drummond consegue impor um ritmo de consternação incrível, fazendo com que de fato, nós leitores, entremos no seu mundo de adeus.
Ao morrer em 17 de agosto de 1987, esse mineiro de Itabira e carioca de coração, deixou-nos 47 poemas inéditos em uma pasta azul, em ordem alfabética, exceto pelo poema "Unidade" que abre o livro. Por ser seu leitor (aliás, o poeta que mais li), gostaria de indicar essa lembrança viva da obra de Drummond, longe de ser seu melhor livro, mas também indispensável por ser um testamento tão intenso e sereno do Mestre da poesia nacional. Como ele mesmo dizia : "Aos leitores, gratidão, essa palavra tudo".
Despeço-me aqui com uma poesia do livro, intitulada "Verbos"
VERBOS
Sofrer é outro nome
Do ato de viver.
Não há literatura
Que dome a onça escura.
Amar, nome-programa
De muito procurar.
Mas quem afirma que eu
Sei o reflexo meu?
Rir , astúcia do rosto
Na ameaça de sentir.
Jamais se soube ao certo
O que oculta um deserto.
Esquecer, outro nome
Do ofício de perder.
Uma inútil lanterna
Jaz em cada caverna.
Verbos outros imperam
Em momentos acerbos.
Mas para que nomeá-los,
Imperfeitos gargalos.
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