Paulo Francis: Cênico, cínico e atual
Quando Paulo Francis morreu em 04 de fevereiro de 1997, sabia que algo que me era familiar naquele rosto, na voz, (aquele tom sarcástico e diferente do jornalismo brasileiro). Vários depoimentos tomavam conta do telejornalismo brasileiro, uns mais deslocados, outros mais emotivos. Confesso que fiquei curioso pela obra dele, e me senti culpado por não ler a famosa coluna "Paulo Francis e sua corte", que fora da folha de São Paulo e depois passou para o Estadão.
Paulo Francis será sempre lembrado pelo seu rosto estampando uns óculos exagerados que mostravam ao fundo seus olhos expressivos pela timidez declarada: "Sei que é meio chocante o que eu vou dizer, mas eu prefiro a solidão dos livros ao contato com as pessoas. As relações humanas são sempre complicadas, não importa se com homens ou com mulheres. Eu sou um homem muito tímido". Timidez que era substituída pelo tom fanfarrão e debochado ao apresentar, toda noite, seus comentários no Jornal da Globo e em algumas inserções no Jornal Nacional e depois semanalmente no Manhattan Connection na GNT.
Comecei o interesse por sua obra depois da morte dele. E ler Paulo Francis é um exercício contínuo de cultura e lazer. Francis nos remete a uma pesquisa constante para de fato aprofundarmos nossa leitura em sua obra. Não falo aqui de seus deboches na Televisão, com um personagem criado que ao mesmo tempo choca e faz rir,(sua formação teatral ajudou a construir aquele fake televisivo); nem falo de suas colunas dos jornais. Mas falo da sua pequena e discreta participação na literatura brasileira: "Cabeça de Papel", "Cabeça de negro", "Filhas do segundo sexo" e o "Afeto em que se encerra", sem contar com o texto de crônicas sobre as lembranças da ditadura em "30 anos hoje (1994)".
Paulo Francis conseguiu (aqui uma opinião como leitor) transpor a sua forma verborrágica e cínica, cheia de frases misturadas e comentários entrecortados para a Literatura. Confundindo narrativa literária com jornalística e ainda passar todo o seu baú cultural em citações de suas influências em todo mundo. Pode parecer hermético, mas não é. Ele aliás, defendeu a fundo a contra-cultura universitária cheia de termos e palavras mocas , colocou o academicismo abaixo. Sua leitura é leve, direta e gostosa, ao final você se sente mais poderoso, mais confiante e entendedor do mundo.
Dos seus livros posso indicar "Cabeça de Papel" que narra a história de um tal jornalista Hugo Mann e usa como pano de fundo todo o cenário de Ipanema (Bairro que na época da Ditadura era palco da cultura e política de esquerda brasileira), traça comentários sobre o mundo e o Brasil de uma forma geral, passando uma angústia tão forte e atual que o livro parece ter sido escrito hoje. E em "Cabeça de Negro", o protagonista é Hugo Mann, que, com a morte de Hesse, tem que carregar nas costas o peso de ser uma voz dissonante. E na consciência um cheque de US$ 300 mil, recebido quando correspondente em Nova York, por agir como lobista no Congresso americano para um magnata brasileiro.
Um livro completa o outro, na verdade era uma trilogia, nunca terminada pelo autor. Ao ler um, necessariamente você se obriga a ler o outro. Já "Filhas do segundo sexo" é uma obra considerada por muitos, como pequena, uma tentativa de aproximar ao máximo da linguagem de folhetim, uma ficção popular. Eu adorei a novela e futuramente publicarei uma crônica sobre ela.
Paulo teve sua vida envolvida em polêmicas e confusões, e nunca deixou de ser ator, sempre quis platéia, choque, rompimento, cênico por natureza. Da Globo, do Manhattam Connection, da Folha, de onde fosse, queria deixar claro sua opinião, e deixou. Mas o fato é que já se passaram nove anos da sua morte e o velho Francis ainda incomoda: gente como Caetano Veloso, ainda o critica e bate como se ele ainda fosse vivo. Mas seu discurso foi ainda muito maior do que ele propriamente poderia imaginar. Paulo Francis não só influenciou como influenciará gerações, pelos menos daqueles, que ao olhar atento, saberão distinguir seu umbigo do mundo.

Quando Paulo Francis morreu em 04 de fevereiro de 1997, sabia que algo que me era familiar naquele rosto, na voz, (aquele tom sarcástico e diferente do jornalismo brasileiro). Vários depoimentos tomavam conta do telejornalismo brasileiro, uns mais deslocados, outros mais emotivos. Confesso que fiquei curioso pela obra dele, e me senti culpado por não ler a famosa coluna "Paulo Francis e sua corte", que fora da folha de São Paulo e depois passou para o Estadão.
Paulo Francis será sempre lembrado pelo seu rosto estampando uns óculos exagerados que mostravam ao fundo seus olhos expressivos pela timidez declarada: "Sei que é meio chocante o que eu vou dizer, mas eu prefiro a solidão dos livros ao contato com as pessoas. As relações humanas são sempre complicadas, não importa se com homens ou com mulheres. Eu sou um homem muito tímido". Timidez que era substituída pelo tom fanfarrão e debochado ao apresentar, toda noite, seus comentários no Jornal da Globo e em algumas inserções no Jornal Nacional e depois semanalmente no Manhattan Connection na GNT.
Comecei o interesse por sua obra depois da morte dele. E ler Paulo Francis é um exercício contínuo de cultura e lazer. Francis nos remete a uma pesquisa constante para de fato aprofundarmos nossa leitura em sua obra. Não falo aqui de seus deboches na Televisão, com um personagem criado que ao mesmo tempo choca e faz rir,(sua formação teatral ajudou a construir aquele fake televisivo); nem falo de suas colunas dos jornais. Mas falo da sua pequena e discreta participação na literatura brasileira: "Cabeça de Papel", "Cabeça de negro", "Filhas do segundo sexo" e o "Afeto em que se encerra", sem contar com o texto de crônicas sobre as lembranças da ditadura em "30 anos hoje (1994)".
Paulo Francis conseguiu (aqui uma opinião como leitor) transpor a sua forma verborrágica e cínica, cheia de frases misturadas e comentários entrecortados para a Literatura. Confundindo narrativa literária com jornalística e ainda passar todo o seu baú cultural em citações de suas influências em todo mundo. Pode parecer hermético, mas não é. Ele aliás, defendeu a fundo a contra-cultura universitária cheia de termos e palavras mocas , colocou o academicismo abaixo. Sua leitura é leve, direta e gostosa, ao final você se sente mais poderoso, mais confiante e entendedor do mundo.
Dos seus livros posso indicar "Cabeça de Papel" que narra a história de um tal jornalista Hugo Mann e usa como pano de fundo todo o cenário de Ipanema (Bairro que na época da Ditadura era palco da cultura e política de esquerda brasileira), traça comentários sobre o mundo e o Brasil de uma forma geral, passando uma angústia tão forte e atual que o livro parece ter sido escrito hoje. E em "Cabeça de Negro", o protagonista é Hugo Mann, que, com a morte de Hesse, tem que carregar nas costas o peso de ser uma voz dissonante. E na consciência um cheque de US$ 300 mil, recebido quando correspondente em Nova York, por agir como lobista no Congresso americano para um magnata brasileiro.
Um livro completa o outro, na verdade era uma trilogia, nunca terminada pelo autor. Ao ler um, necessariamente você se obriga a ler o outro. Já "Filhas do segundo sexo" é uma obra considerada por muitos, como pequena, uma tentativa de aproximar ao máximo da linguagem de folhetim, uma ficção popular. Eu adorei a novela e futuramente publicarei uma crônica sobre ela.
Paulo teve sua vida envolvida em polêmicas e confusões, e nunca deixou de ser ator, sempre quis platéia, choque, rompimento, cênico por natureza. Da Globo, do Manhattam Connection, da Folha, de onde fosse, queria deixar claro sua opinião, e deixou. Mas o fato é que já se passaram nove anos da sua morte e o velho Francis ainda incomoda: gente como Caetano Veloso, ainda o critica e bate como se ele ainda fosse vivo. Mas seu discurso foi ainda muito maior do que ele propriamente poderia imaginar. Paulo Francis não só influenciou como influenciará gerações, pelos menos daqueles, que ao olhar atento, saberão distinguir seu umbigo do mundo.
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